Blog do Boris

Consumo e desempenho não dependem só do motor

Outros fatores são quase tão importantes quanto as características do motor, entre eles aerodinâmica e peso

Boris Feldman

14 de mai, 2018 · 6 minutos de leitura.

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Ainda estudante de engenharia, pilotava nas pistas meu “bravo” DKW. Não tinha grana, mas o patrocínio de uma autorizada da marca. Passava noites na oficina, além de incursões na retífica que preparava o motor. Seu dono era um italiano típico, bravo, xingava, gesticulava, mas apaixonado pelo que fazia, além de entender uma barbaridade de mecânica. Um dia ele me desafiou: “Quer deixar seu carro mais rápido sem mudar nada do motor?” Pensei em diversas sugestões, exceto a dele: lubrificar rolamentos das rodas com Molikote, uma graxa super especial, para reduzir atritos. Dica óbvia, mas pouco lembrada e de muito significado para mim: me fez perceber que motor é fundamental no desempenho, mas não é tudo.

Outros fatores são quase tão importantes quanto, entre eles aerodinâmica e peso. Quanto mais fluidas as linhas da carroceria, mais fácil o carro “corta” a barreira de ar que se forma à sua frente e exige menos potência e combustível. Para os não iniciados no assunto, basta colocar a mão para fora da janela de um carro em elevada velocidade. Na vertical, ela gera uma enorme resistência. Na horizontal, o esforço para mantê-la é quase nenhum. Por isso a importância do túnel de vento no desenvolvimento de um automóvel: é onde se define a fluidez de suas linhas, definida pelo coeficiente aerodinâmico. Importante lembrar que a resistência da massa de ar à frente do carro aumenta exponencialmente com a velocidade.

Outro fator que influi decisivamente é o peso. Além de reduzir consumo e emissões, o carro mais leve freia melhor e tem mais estabilidade. E  a caixa de marchas: quanto mais adequadas as relações,  mais o motor trabalha numa faixa ideal de rotações e tanto melhor o desempenho.

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Candidatos à compra de um carro novo se enganam com frequência ao procurar um modelo que tenha desempenho razoável, porém de consumo contido. Lançam mão das fichas técnicas para comparar potências e torques. E levam gato por lebre se não considerarem outros fatores. A relação peso-potência é um deles: um carro de 100 cv (pesando 1.000 kg) terá melhor desempenho que outro de 120 cv (com peso de 1.500 kg).

Outra tendência enganosa é optar pelo motor de menor cilindrada, supondo consumo inferior. O freguês pode se surpreender ao fazer as contas no fim do mês e constatar que um compacto 1.0 pode  rodar menos quilômetros por litro que um 1.4, dependendo das condições topográficas, peso carregado, velocidade média, etc. E da tecnologia: entre dois motores de 1.000 cm³, se um deles tem quatro cilindros, injeção no coletor (indireta), aspirado e com baixa taxa de compressão, terá certamente consumo superior ao de um tricilíndrico, injeção direta e turbinado.

Por enquanto, só foram destacados fatores inerentes ao automóvel e que  independem das condições a que será submetido ao rodar. Porque aí entram dezenas de outros, como o chumbo no pé do motorista, peso transportado, histórico de manutenção do motor e de outros sistemas, etc. E outros que dependem das condições ambientais como altitude e topografia. Além da qualidade do combustível, calibragem dos pneus, etc.


É por essas e outras a extrema dificuldade em se determinar o consumo de combustível de um automóvel. O Inmetro implantou recentemente o sistema de etiquetagem veicular que compara o consumo de todos os carros (divididos em categorias) comercializados no Brasil através de testes simulados em laboratórios. Pode até não refletir exatamente o consumo no dia a dia por não levar em conta com exatidão diversos fatores além do motor, como o peso carregado ou sua aerodinâmica. Mas os valores da etiqueta (afixadas nos carros expostos nas concessionárias) permitem – pelo menos – comparar referencialmente o consumo de diversos modelos e contribuem, portanto, na decisão de compra.

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Oficina Mobilidade

Carros elétricos são mais seguros do que automóveis a combustão?

Alguns recursos podem reduzir o risco de incêndio e aumentar a estabilidade

26 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Uma pergunta recorrente quando se fala em carro elétrico é se ele é mais ou menos seguro que um veículo com motor a combustão. “Os dois modelos são bastante confiáveis”, diz Fábio Delatore, professor de Engenharia Elétrica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

No entanto, há um aspecto que pesa a favor do automóvel com tecnologia elétrica. Segundo relatório da National Highway Traffic Safety Administration (ou Administração Nacional de Segurança Rodoviária), dos Estados Unidos, os veículos elétricos são 11 vezes menos propensos a pegar fogo do que os carros movidos a gasolina.

Dados coletados entre 2011 e 2020 mostram que, proporcionalmente, apenas 1,2% dos incêndios atingiram veículos elétricos. Isso acontece por vários motivos. Em primeiro lugar, porque não possuem tanque de combustível. As baterias de íon de lítio têm menos risco de pegar fogo.

Centro de gravidade

Segundo Delatore, os carros elétricos recebem uma série de reforços na estrutura para garantir maior segurança. Um exemplo são os dispositivos de proteção contra sobrecarga e curto-circuito das baterias, que cortam a energia imediatamente ao detectar uma avaria.

Além disso, as baterias são instaladas em uma área isolada, com sistema de ventilação, embaixo do carro. Assim, o centro de gravidade fica mais baixo, aumentando a estabilidade e diminuindo o risco de capotamento. 

E não é só isso. “Os elétricos apresentam respostas mais rápidas em comparação aos automóveis convencionais. Isso facilita o controle em situações de emergência”, diz Delatore.

Altamente tecnológicos, os veículos movidos a bateria também possuem uma série de itens de segurança presentes nos de motor a combustão. Veja os principais:

– Frenagem automática de emergência: recurso que detecta objetos na frente do carro e aplica os freios automaticamente para evitar colisão.

– Aviso de saída de faixa: detecta quando o carro está saindo da faixa involuntariamente e emite um alerta para o motorista.

– Controle de cruzeiro adaptativo: mantém o automóvel a uma distância segura do carro à frente e ajusta automaticamente a velocidade para evitar batidas.

– Monitoramento de ponto cego: pode detectar objetos nos pontos cegos do carro e emitir uma advertência para o condutor tomar cuidado.

– Visão noturna: melhora a visibilidade do motorista em condições de pouca iluminação nas vias.