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Amarelo em maio. E depois?

Brasil anestesiado: imprensa destaca 200 mortos num acidente aéreo, mas deixa passar batido mesmo número de vítimas no trânsito cada dois dias

Boris Feldman

21 de mai, 2018 · 7 minutos de leitura.

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Infosiga SP aponta que São Paulo chegou ao patamar mais baixo da história em mortes por acidentes de trânsito
Crédito: Reprodução/Internet

Louvável a iniciativa do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), de estabelecer um mês focado na segurança do trânsito (o Maio Amarelo), em combater a tragédia que ceifa dezenas de milhares de vidas anualmente em ruas e rodovias. É necessário que o brasileiro reflita sobre essa chacina rodoviária. Importante lembrar que mais de 90% destes acidentes são provocados pelo motorista.

Desatento, alcoolizado, despreparado, imprudente, sonolento e desrespeitoso com a legislação de trânsito. Soma-se a isso o criminoso descaso dos governantes à manutenção rodoviária e integridade dos veículos para se completar o quadro caótico que leva o país ao pódio do ranking mundial de acidentes do trânsito: segundo lugar, atrás da Índia.

O Brasil está anestesiado em relação às vítimas de trânsito. A imprensa dá primeira página quando a queda de um avião comercial provoca 200 mortes. Mas passa batido o mesmo número de mortos nos acidentes em ruas e estradas cada dois dias.

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O Maio Amarelo está em sua quinta edição e a cor foi escolhida pois representa a atenção. O mês foi escolhido pois foi no dia 11 deste mês, em 2011, que a ONU decretou a década de ações para a segurança no trânsito (2011-2020). A meta: redução de 50% dos acidentes de trânsito no mundo.

Entretanto, é preciso colorir o resto do calendário pois o Brasil está longe de cumprir essa meta. Por enquanto, a família assiste à campanha de segurança no trânsito na televisão, mas o pai deixa o sofá, assume o volante e começa a série de barbaridades com seu filho no carro. Ultrapassa pela faixa da direita (ou pelo acostamento), não respeita faixa de pedestre nem o sinal vermelho na esquina.

Encosta exatamente defronte à escola onde vai deixar ou buscar o filho nem que tenha de ser em fila dupla ou tripla, prejudicando todo o trânsito. Fecha o cruzamento, converte à esquerda onde é proibido. Aceita o pedido de propina do policial para não registrar sua infração. Mas fica “indignado” com os políticos corruptos.


Ao invés de reforçar – com seu exemplo – a campanha educativa, joga no time contrário. E com peso maior, contribuindo para se criar uma nova geração de motoristas imprudentes e desatentos à legislação. De “espertos” que procuram levar vantagem ao volante e em outras situações da vida.

Não me esqueço (já contei aqui) a história do brasileiro que estagiava numa fábrica sueca e pegava carona com um colega de trabalho. Que chegava bem cedo, mas estacionava o carro longe do portão de entrada da empresa, apesar do pátio quase vazio. O brasileiro questionou o comportamento e o sueco explicou que fazia assim para deixar livres as vagas próximas ao portão. Assim, os colegas que chegassem em cima da hora não teriam que atravessar correndo todo o pátio. É a “esperteza” sueca…

Para completar o quadro, mesmo que o motorista seja correto, respeitador das leis e mantenha seu carro adequadamente, corre o risco de se envolver involuntariamente num acidente rodoviário provocado pela falta de condições da estrada ou de outro veículo. Por alguma cratera asfáltica resultado da irresponsabilidade dos órgãos públicos encarregados da manutenção da rodovia. Ou por um automóvel com pneus carecas e sem freios porque – passados 20 anos da vigência do novo código de trânsito – o governo federal foi incapaz de implementar a inspeção técnica veicular estabelecida por ele e fecha os olhos para os calhambeques nas ruas e estradas.


O brasileiro honesto e ético corre o risco de ser vítima de governantes e empresários que não se preocupam com o bem público nem com sua conduta mas apenas com o “sucesso” político e financeiro. Em abocanhar seu quinhão. E, de quinhão em quinhão, corrupção em corrupção, descaso em descaso, está estabelecida essa grande tragédia nacional rodoviária.

“Maio Amarelo” é importante, mas é pouco.

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”