Blog do Boris

Posso comprar pneu remoldado?

Cuidado: apesar de ser operação de remanufatura sem problemas no Primeiro Mundo, foi mal regulamentada no Brasil

Boris Feldman

03 de set, 2018 · 6 minutos de leitura.

" >
remoldado

Não, você corre riscos. A rigor, não  haveria problema nenhum em utilizar um pneu remoldado, que existe em todo o mundo. Ele custa menos, pois aproveita parte de um pneu usado e até colabora com o meio ambiente, pois o destino das carcaças é problema ecológico no mundo inteiro.

Entretanto, o pneu remoldado é perigoso no Brasil, pois o Inmetro, ineficiente como sempre, foi conivente com as empresas de remoldagem e não exigiu, como em países do Primeiro Mundo, que seja mantido na lateral da carcaça o registro de uma informação da maior relevância para sua segurança.

Para fabricar um pneu remoldado, remove-se toda a camada de borracha e se aproveita apenas a carcaça do usado. Ao contrário do recapado ou recauchutado, no qual se aplica uma nova camada sobre a antiga.

Publicidade


O problema está nesta carcaça. Na Europa, por exemplo, a legislação exige que a operação de remoldagem conserve, na banda lateral, o registro das características originais da carcaça. Mas, no Brasil, o Inmetro (órgão governamental encarregado de certificar componentes de automóveis, entre outros) foi “convencido” pelas fábricas de pneus remoldados a desprezar essa exigência que onera o processo.

Ora, duas carcaças podem ter mesmas dimensões, receber uma nova camada de borracha e o “novo” pneu ser colocado para rodar num automóvel qualquer. O problema é que o projeto da carcaça considerava a função do veículo a ser equipado com o pneu. Então, ela pode ter sido projetada originalmente para equipar uma picape que suporta maiores pesos na caçamba porém desenvolve menores velocidades. Ou para um carro esportivo, bem mais leve, mas projetado para andar rapidamente. As medidas externas dos pneus podem ser as mesmas, mas as características das carcaças são completamente diferentes.

Então, se a operação de remoldagem no Brasil dispensa – graças a um vacilo do Inmetro – o registro na banda lateral das características originais da carcaça, o consumidor pode estar comprando dois pneus idênticos externamente, mas rigorosamente diferentes em sua estrutura. Uma carcaça pode ter sido projetada para um pneu que equipa uma pequena picape do tipo food truck e a outra para um esportivo de alto desempenho como um Porsche.


E o que ocorre se dois remoldados com estas diferentes carcaças estiverem equipando o eixo dianteiro de um automóvel? No momento de uma freiada de emergência ou numa curva apertada na estrada, a reação dos dois pneus – aparentemente idênticos –  será desigual e poderá provocar um sério acidente. E, lamentavelmente, o motorista que se sentia seguro e protegido com o pneu que contava com a certificação do Inmetro, percebeu, a duras penas, que havia uma falha essencial de segurança no processo de remoldagem.

Podem existir fábricas de pneus remoldados que se preocupam em selecionar carcaças de mesma origem antes de iniciar a operação. Mas, por não se exigir que se mantenha o registro, são grandes as chances de não se respeitar esse critério.

Remoldado em motos

O Inmetro chegou, no passado, a regulamentar o uso de pneus remoldados em motos. Mas percebeu o absurdo da situação e acabou proibindo sua utilização.


Outra operação que requer cuidado é a ressulcagem. Pneus de veículos pesados como caminhões e ônibus podem ser do tipo “regroovable”, ou seja, quando estão ficando carecas, os sulcos da banda de rodagem permitem que sejam aprofundados mais alguns milímetros para voltar a rodar com segurança. Entretanto, é uma operação que só pode ser realizada se o pneu contiver a expressão regroovable.

Entretanto, existem borracharias no Brasil que decidem “ressulcar” pneus de automóveis, que definitivamente não permitem o aprofundamento dos sulcos. A operação é chamada de “frisagem” e coloca em risco a segurança do automóvel.

 


Newsletter Jornal do Carro - Estadão

Receba atualizações, reviews e notícias do diretamente no seu e-mail.

Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de privacidade de dados do Estadão e que os dados sejam utilizados para ações de marketing de anunciantes e o Jornal do Carro, conforme os termos de privacidade e proteção de dados.
Jornal do Carro
Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”