Não, você corre riscos. A rigor, não haveria problema nenhum em utilizar um pneu remoldado, que existe em todo o mundo. Ele custa menos, pois aproveita parte de um pneu usado e até colabora com o meio ambiente, pois o destino das carcaças é problema ecológico no mundo inteiro.
Entretanto, o pneu remoldado é perigoso no Brasil, pois o Inmetro, ineficiente como sempre, foi conivente com as empresas de remoldagem e não exigiu, como em países do Primeiro Mundo, que seja mantido na lateral da carcaça o registro de uma informação da maior relevância para sua segurança.
Para fabricar um pneu remoldado, remove-se toda a camada de borracha e se aproveita apenas a carcaça do usado. Ao contrário do recapado ou recauchutado, no qual se aplica uma nova camada sobre a antiga.
O problema está nesta carcaça. Na Europa, por exemplo, a legislação exige que a operação de remoldagem conserve, na banda lateral, o registro das características originais da carcaça. Mas, no Brasil, o Inmetro (órgão governamental encarregado de certificar componentes de automóveis, entre outros) foi “convencido” pelas fábricas de pneus remoldados a desprezar essa exigência que onera o processo.
Ora, duas carcaças podem ter mesmas dimensões, receber uma nova camada de borracha e o “novo” pneu ser colocado para rodar num automóvel qualquer. O problema é que o projeto da carcaça considerava a função do veículo a ser equipado com o pneu. Então, ela pode ter sido projetada originalmente para equipar uma picape que suporta maiores pesos na caçamba porém desenvolve menores velocidades. Ou para um carro esportivo, bem mais leve, mas projetado para andar rapidamente. As medidas externas dos pneus podem ser as mesmas, mas as características das carcaças são completamente diferentes.
Então, se a operação de remoldagem no Brasil dispensa – graças a um vacilo do Inmetro – o registro na banda lateral das características originais da carcaça, o consumidor pode estar comprando dois pneus idênticos externamente, mas rigorosamente diferentes em sua estrutura. Uma carcaça pode ter sido projetada para um pneu que equipa uma pequena picape do tipo food truck e a outra para um esportivo de alto desempenho como um Porsche.
E o que ocorre se dois remoldados com estas diferentes carcaças estiverem equipando o eixo dianteiro de um automóvel? No momento de uma freiada de emergência ou numa curva apertada na estrada, a reação dos dois pneus – aparentemente idênticos – será desigual e poderá provocar um sério acidente. E, lamentavelmente, o motorista que se sentia seguro e protegido com o pneu que contava com a certificação do Inmetro, percebeu, a duras penas, que havia uma falha essencial de segurança no processo de remoldagem.
Podem existir fábricas de pneus remoldados que se preocupam em selecionar carcaças de mesma origem antes de iniciar a operação. Mas, por não se exigir que se mantenha o registro, são grandes as chances de não se respeitar esse critério.
Remoldado em motos
O Inmetro chegou, no passado, a regulamentar o uso de pneus remoldados em motos. Mas percebeu o absurdo da situação e acabou proibindo sua utilização.
Outra operação que requer cuidado é a ressulcagem. Pneus de veículos pesados como caminhões e ônibus podem ser do tipo “regroovable”, ou seja, quando estão ficando carecas, os sulcos da banda de rodagem permitem que sejam aprofundados mais alguns milímetros para voltar a rodar com segurança. Entretanto, é uma operação que só pode ser realizada se o pneu contiver a expressão regroovable.
Entretanto, existem borracharias no Brasil que decidem “ressulcar” pneus de automóveis, que definitivamente não permitem o aprofundamento dos sulcos. A operação é chamada de “frisagem” e coloca em risco a segurança do automóvel.
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