Blog do Boris

Recall de um único automóvel?

No mês passado, a Volkswagen chamou dono de apenas um Tiguan para substituição dos amortecedores traseiros; como se explica este surrealismo?

Boris Feldman

29 de out, 2018 · 7 minutos de leitura.

Novo VW Tiguan" >
Novo VW Tiguan
Crédito: Versão intermediária, Comfortline tem motor de 150 cv e preço de R$ 149.990 (Foto: Volkswagen)

Como os jornais publicam recalls quase diariamente, ninguém prestou atenção no último anunciado pela Volkswagen, mês passado, chamando o dono de um novo Tiguan para substituição dos amortecedores traseiros. A empresa alemã se dirige “ao proprietário de um veículo Tiguan….”. Se você não entendeu, nem eu: anúncio de meia página na Folha de São Paulo para chamar o dono de um único automóvel? Como se explica este surrealismo?

O novo Tiguan All Space é recente lançamento mundial da Volkswagen e Importado do México para o Brasil. Foi detectada uma irregularidade na solda dos amortecedores traseiros num lote do SUV. E apenas uma das unidades exportadas para o Brasil nele incluída. Os mexicanos correram para avisar os colegas brasileiros. Tarde demais: o único automóvel relacionado já tinha sido vendido.

História 1

Foi fácil, claro, descobrir o dono que, avisado, o levou à concessionária para substituir os amortecedores. Custo da operação? Inferior a R$ 2 mil, entre o custo da ligação (…), peças e mão de obra. Porem, a maior dificuldade enfrentada pela Volkswagen foi oficializar o recall, pois o DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, órgão do Ministério da Justiça) exige que a legislação seja respeitada não importa quantos os veículos envolvidos. Mas, se era apenas uma unidade, não bastaria enviar um WhatsApp ou ligar para seu dono?

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Negativo. Para convocar um único automóvel, a fábrica teve que estampar anúncio de meia página para cumprir a exigência legal, como se fossem centenas ou milhares de unidades envolvidas.

O DPDC é o órgão governamental que controla e fiscaliza os recalls efetuados no Brasil. Ele tem que ser avisado de todos os detalhes que envolvem o reparo gratuito: a comunicação aos proprietários, identificação das unidades, componente a ser substituído e riscos envolvidos, pois o recall só é obrigatório se afetar a segurança. Pode exigir a realização do recall e até multar a empresa diante de um comprovado caso de omissão.

História 2

Se a fábrica realiza o recall, é porque há riscos em rodar com o automóvel. O motor pode apagar, vazar fluido do freio, o cinto não proteger no caso de um acidente, risco de incêndio, etc. Entretanto, não chega a 40% o número de donos de carros envolvidos no recall que os levam para reparo na concessionária. (Em 2018, não chegaram a 20%!).


Foram imaginadas então algumas formas de aumentar este índice e, há cerca de dez anos, o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) pensou em proibir a venda dos carros não submetidos ao recall. Desistiu da ideia por impedimentos legais. Decidiu então fazer constar o problema no documento do carro, pela portaria conjunta 69/2010 do Ministério da Justiça (DPDC) e Denatran. Assim, o comprador seria pelo menos informado da bomba-relógio que poderia explodir em suas mãos. E estimulado a levá-lo para o reparo.

Estão portanto envolvidos neste procedimento o DPDC, os fabricantes, o Denatran e os Detran´s. Oito anos depois, nada de constar o recall em aberto no documento do automóvel. O Denatran, consultado, alega dificuldades burocráticas mas garante que será viabilizado “no segundo semestre de 2019”. Argumenta que a demora no processo de registro do cumprimento do recall no histórico do carro poderia criar constrangimentos ao proprietário que decidir vendê-lo.

Moral da história

O DPDC e o Denatran publicaram há oito anos uma portaria para fazer constar no documento de um carro que ele não foi submetido ao recall. O órgão de trânsito diz que a medida só será implementada dentro de doze meses, por problemas burocráticos. Uma inacreditável passividade do DPDC, entidade encarregada de proteger e defender o cidadão/consumidor.


Este mesmo DPDC é suficientemente hipócrita para obrigar uma fábrica a cumprir a legislação e publicar anúncio de recall dirigido a um único automóvel. Mas não se preocupa com centenas de milhares rodando com algum grave problema de segurança.

É assim que o governo brasileiro se dedica à segurança veicular e integridade de seus cidadãos.

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Oficina Mobilidade

Carros elétricos são mais seguros do que automóveis a combustão?

Alguns recursos podem reduzir o risco de incêndio e aumentar a estabilidade

26 de abr, 2024 · 2 minutos de leitura.

Uma pergunta recorrente quando se fala em carro elétrico é se ele é mais ou menos seguro que um veículo com motor a combustão. “Os dois modelos são bastante confiáveis”, diz Fábio Delatore, professor de Engenharia Elétrica da Fundação Educacional Inaciana (FEI). 

No entanto, há um aspecto que pesa a favor do automóvel com tecnologia elétrica. Segundo relatório da National Highway Traffic Safety Administration (ou Administração Nacional de Segurança Rodoviária), dos Estados Unidos, os veículos elétricos são 11 vezes menos propensos a pegar fogo do que os carros movidos a gasolina.

Dados coletados entre 2011 e 2020 mostram que, proporcionalmente, apenas 1,2% dos incêndios atingiram veículos elétricos. Isso acontece por vários motivos. Em primeiro lugar, porque não possuem tanque de combustível. As baterias de íon de lítio têm menos risco de pegar fogo.

Centro de gravidade

Segundo Delatore, os carros elétricos recebem uma série de reforços na estrutura para garantir maior segurança. Um exemplo são os dispositivos de proteção contra sobrecarga e curto-circuito das baterias, que cortam a energia imediatamente ao detectar uma avaria.

Além disso, as baterias são instaladas em uma área isolada, com sistema de ventilação, embaixo do carro. Assim, o centro de gravidade fica mais baixo, aumentando a estabilidade e diminuindo o risco de capotamento. 

E não é só isso. “Os elétricos apresentam respostas mais rápidas em comparação aos automóveis convencionais. Isso facilita o controle em situações de emergência”, diz Delatore.

Altamente tecnológicos, os veículos movidos a bateria também possuem uma série de itens de segurança presentes nos de motor a combustão. Veja os principais:

– Frenagem automática de emergência: recurso que detecta objetos na frente do carro e aplica os freios automaticamente para evitar colisão.

– Aviso de saída de faixa: detecta quando o carro está saindo da faixa involuntariamente e emite um alerta para o motorista.

– Controle de cruzeiro adaptativo: mantém o automóvel a uma distância segura do carro à frente e ajusta automaticamente a velocidade para evitar batidas.

– Monitoramento de ponto cego: pode detectar objetos nos pontos cegos do carro e emitir uma advertência para o condutor tomar cuidado.

– Visão noturna: melhora a visibilidade do motorista em condições de pouca iluminação nas vias.