A Porsche apresentou, no começo de abril, em Nice (França), o Macan T, configuração com arranjo esportivo “raiz” do SUV compacto-médio de luxo. O Jornal do Carro esteve presente no lançamento global e já acelerou a versão, que está pré-venda no Brasil por R$ 479 mil iniciais. Assim, o Macan T vai ser intermediário na gama, entre o 4-cilindros (R$ 419 mil) e o Macan S (R$ 539 mil). As entregas começam agora no mês de maio.
Este sobrenome T vem de “Touring” e, no universo da Porsche, significa atender a três regras, como explica o gerente de produção da família Macan, Georg Goldgruber. “Primeiro, é preciso usar um conjunto mecânico simples, mas poderoso. Depois, trazer o essencial em termos de acabamento. Por fim, é preciso ter um acerto de direção o mais direto e esportivo possível”, explica o executivo da fabricante alemã.
Macan T é pioneiro
Apesar da premissa parecer básica, adequar o Macan à proposta da nova versão é o ápice de uma trajetória que teve início em 2003 – ou seja, há quase 20 anos – com o Cayenne. Assim, o Macan é o primeiro modelo de quatro portas – e, portanto, o primeiro utilitário – a usar a sigla T, antes destinada apenas aos cupês esportivos. O primeiro foi o 911 T (1968), e os mais recentes são o 911 Carrera T (2017) e 718 Boxster/Cayman T (2019).
Ou seja, se a Porsche resolveu sua viabilidade econômica no século 21 quando recorreu aos SUVs (e contrariou fãs e consumidores), agora, a fórmula se mostra tão eficiente que a empresa se permite usar um de seus rótulos mais tradicionais no seu mais bem-sucedido utilitário. O Macan é o modelo mais vendido da marca ao redor do mundo e responde por 30% dos emplacamentos em todo o planeta, sobretudo por conta do sucesso na China.
Desde o lançamento, em 2014, foram mais de 680 mil unidades entregues. Só em 2021, o Macan entregou 88 mil dos 300 mil carros vendidos pela Porsche globalmente. Um asterisco curioso para o Brasil: quem mais atrai consumidores em nosso país não é o Macan, mas sim o modelo mais clássico possível em termos de Porsche, o 911.
Como é o Macan T
Visualmente, o Macan T chama atenção pela grade frontal bem aberta, como uma boca de tubarão, e pelas belas rodas de liga leve. Nada disso é à toa. Há tomadas de ar maiores, bem como pintura na cor cinza metálica Agate para destacar elementos extras da carroceria. Por exemplo, para-choque, saias laterais, capas de retrovisor, spoiler de teto e emblemas.
Para as rodas, a receita foi pegar o conjunto do Macan S, de 20″ em forma de estrela, bem tradicional, na cor Dark Titanium. Elas calçam pneus 265/45 na dianteira, e 295/40 na traseira. As cores da carroceria também são especiais, ou melhor dizendo, essenciais: branco Pure, azul Gentian e Papaya (metálica e que transita entre laranja e vermelho). No interior da cabine, couro preto e linhas prateadas dominam painéis e bancos dianteiros esportivos, que são mais finos, mas oferecem ajustes elétricos.
Cabine analógica e digital
De série, o Macan T traz o pacote Sport Chrono (que incluí o relógio ao alto do painel frontal), além do volante do tipo GT aquecido (pequeno e super preciso). Um toque de atualidade: além do painel de instrumentos combinado, que mistura leitores analógicos e digitais, temos a multimídia central de quase 11 polegadas, que é a mais avançada da Porsche.
Essa tela traz o sistema PCM atualizado, conectado ao ambiente Apple Carplay, mas também ligado ao app MyPorsche para que, pela primeira vez, o dono do carro possa comandar remotamente partida do motor, climatização e dados gerais do carro. Isso em 25 idiomas, e em 47 países. Também é possível observar o estado das revisões, agendar manutenções e até rastrear o veículo via aplicativo. Depois do Macan, a função ficará disponível a todos os modelos com PCM compatível feitos a partir de 2016.
Macan T é firme e forte
Não dá para falar de um Porsche da linha T sem ressaltar, efetivamente, suas alterações mecânicas. No caso do Macan T, a Porsche usa o motor 2.0 a gasolina de quatro cilindros com turbo, mas com alterações na turbina e no mapeamento. Assim, gera 265 cv de potência e 40,78 mkgf de torque, disponíveis em ampla faixa de rotação. São 13 cv extras em relação ao Macan 2.0 “normal”, e 3 mkgf adicionais de torque máximo.
O gerenciamento da força é feito pelo câmbio de dupla embreagem (PDK) e sete marchas, aliado ao controle de tração (PTM) modificado. Funciona assim: o Macan T tem tração integral, mas com distribuição alterada de forma a ficar mais “traseiro”. Ou seja, a depender do estilo de condução, entre 60% e 80% do torque é despejado nas rodas traseiras.
Além disso, há uso de aços especiais na montagem para ter menos peso e mais rigidez estrutural, sobretudo na dianteira. Há também, uma otimização do controle de chassis, bem como uso de nova barra estabilizadora no eixo dianteiro, para maior estabilidade e melhor resposta em curvas. Para completar, o sistema de suspensão PASM usa molas de aço mais esportivas, com conjunto rebaixado em 15 milímetros.
Um SUV aprimorado
Com tais modificações, a Porsche promete velocidade máxima de 232 km/h, e aceleração de zero a 100 km/h em apenas 6,2 segundos no modo Sport Plus. Já a tomada de zero 160 km/h leva 16,1 segundos. Como opcional, é possível ter uma segunda barra estabilizadora na traseira, sistema de torque vetorial e assistência de direção melhorados (Plus), assim como suspensão pneumática. Ela pode ser rebaixada ao toque de um botão em mais 10 mm. No total, o recurso permite rebaixar 25 mm na comparação com um Macan tradicional.
Para o Brasil, tanto potência quanto aceleração podem ter variações, por conta da adição de etanol à nossa gasolina, mas também por causa da adequação do escape às regras de emissões do Proconve 7.
Direção direta e divertida
Como parte do programa de apresentação do Macan T, o Jornal do Carro participou de um test-drive em roteiro especial, com cerca de 150 km de trajeto nas sinuosas estradas montanhosas entre Nice e Monaco. Também passamos pela cidade de Carros e pela montanha de Col de Turini, que formam a etapa do WRC do Rali de Montecarlo.
Entre precipícios e paredes de pedra recortadas em montanhas de quase 2 km de altura, quase sempre em pista simples e com proteção apenas de guardrails (ora de metal, ora de madeira), a velocidade regulamentar liberada era de 80 km/h e 100 km/h. Isso nos impediu de levar as especificações do Macan T ao extremo da aceleração. Mas permitiu retomadas extremas e tomadas rápidas de direção.
Nesse sentido, o Macan T não consegue ocultar que é um SUV, com altura mais alta para o solo. Ainda assim, é nítido que o modelo ficou muito esperto. Com a dianteira mais leve, a direção e acelerador têm respostas mais diretas. Além disso, a força deslocada para a traseira modifica bem a tocada na comparação com um Macan regular.
Direção é o ponto alto
A questão com o Macan T nem é pisar fundo, até porque seu 0 a 100 é muito próximo da versão mais básica. Contornar curvas de modo mais arrojado é o ponto alto, e até se torna algo viciante, pois o condutor sente que a carroceria responde cada vez melhor, sem pender lateralmente nem mergulhar. Quando finalmente estacionamos, foi possível ainda notar que o Macan T tem o visual mais impressionante da linha toda, num complemento estiloso ao potencial que carrega.
Além disso, o interior passa aquela impressão de frugalidade, de ser “seco” o bastante para que nada roube a atenção do ato de dirigir. Perfeito para modelos esportivos.
Se for encomendar uma unidade, faça um favor: não blinde! Se a intenção for essa, vá com o Macan regular. Para o Macan T, a ideia realmente é ter uma direção ágil e prazerosa, até mesmo com uso em track days (se primar por isso, vá com a configuração regular); ou, no mínimo, para colocar um pouco de pimenta nas viagens rodoviárias (neste caso, o pacote opcional de reforço traseiro calha melhor).
*Viagem a convite da Porsche Brasil