O mercado de carros usados está superaquecido desde 2020, quando começou a pandemia. Afinal, o medo de infecção pela Covid-19 levou quem trabalhava presencialmente à buscar um meio de transporte particular. Mas foi em 2021 que as vendas desses veículos explodiram. Parte do crescimento veio da alta dos preços dos carros zero km – com produção prejudicada pela crise dos semicondutores. Os novos inflacionaram o mercado também sob influências econômicas, como a disparada do dólar norte-americano.
Assim, conforme manda a lei da oferta e da procura, a falta de 0-km nos estoques aqueceu o mercado de seminovos e usados. E os preços desses veículos, então, dispararam. Alguns modelos chegaram a ficar até mais caros que exemplares novos. Conforme contamos no Jornal do Carro, em março de 2021, o preço de uma Fiat Strada usada, por exemplo, era 3,37% maior que a picape 0-km. Os números vieram de um estudo da Kelley Blue Book Brasil (KBB).
Hoje, em uma rápida busca na internet, é possível notar que os preços estão “normalizando”. Salvo raras exceções, os usados custam menos que os 0-km. A própria Fiat Strada comprova isso. A versão 2021 do modelo de entrada Endurance cabine simples “Plus” (foto acima) está R$ 12 mil mais barata que uma unidade 0-km da picape. Atualmente, a Strada 2023 parte de R$ 96.290, enquanto o mesmo modelo, mas do ano passado, custa R$ 84.234.
Mais barreiras para a compra
Outro ponto que pesou no bolso do consumidor, consequentemente, foi a alta no valor do IPVA. Ou seja, quanto mais alto o valor venal do veículo, maior o valor a ser pago do imposto anual. E isso naturalmente contribui para a queda na procura por carros, sejam novos ou usados.
Assim, com tantos percalços, a compra do carro usado virou uma pedra no sapato do consumidor. O interesse pela compra existe, mas a disparada dos preços e a renda menor (com queda de 9,7%) se reflete nas vendas.
De acordo com a especialista Leticia Costa, da Prada Consultoria, há um agravante. “Em outros momentos, o descompasso entre renda e preço era equacionado por financiamento. Todavia, vivemos um momento de juros altos e de elevado nível de endividamento das famílias. Assim, a demanda poderia ser estimulada via financiamento, mas hoje é mais difícil”, avalia.
Os números atuais
A queda nas vendas de automóveis e comerciais leves em agosto é notável. Foram quase 10% de retração na comparação com agosto do ano passado. De acordo com boletim da Fenabrave, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos, o oitavo mês do ano vendeu 968.780 veículos usados. Enquanto isso, no mesmo período de 2021, as comercializações somaram 1.074.327. Ou seja, uma baixa de 9,82% no mercado geral.
Segundo um estudo da Fenauto, entidade que representa o setor de lojistas multimarcas, as pessoas têm optado por veículos com 13 anos ou mais – quase a metade do número total. Ou seja, além de comprar menos, os mais modelos mais buscados e adquiridos pelos consumidores são mais baratos.
Enilson Sales, presidente da Fenauto, acredita que “até o final do ano o setor chegará próximo de 14 milhões de veículos usados comercializados, um total menor do que no ano passado, que somou 15,1 milhões de unidades). Mas, para nós, será um resultado muito bom se olharmos o histórico do mercado brasileiro. Afinal, neste ano sofremos demais com a falta do zero, a crise mundial pós-Covid, a guerra da Ucrânia, o aumento dos preços dos combustíveis e a polarização da política brasileira”, resume.
Clima mais otimista
A expectativa do mercado, portanto, é de redução de preços dos veículos. O público que procura por carros novos já encontra unidades para pronta-entrega com maior facilidade. Ao contrário de 2021, as fábricas retomaram os volumes regulares de produção e, dessa forma, reduziram a falta de estoques e o tempo de espera de quem compra um modelo 0-km. Isso reflete diretamente nos preços dos usados, que tendem a cair e se estabilizar.
O que também vai contribuir para a redução de preços dos automóveis seminovos é a renovação das frotas de locadoras. Ou seja, isso faz com que os veículos de aluguel – que “pereceram” para as empresas – entrem em oferta nas lojas de seminovos e usados de empresas como Localiza e Movida. Assim, aumenta a oferta e, por sua vez, diminui o preço.
Essa renovação é notável, basta olhar os constantes aumentos de vendas do Volkswagen Gol. Na lista de automóveis mais vendidos de agosto, o hatch aparece em primeiro lugar nas vendas diretas, com 9.443 unidades. Já na lista das vendas no varejo, o modelo é o 14º, com 2.276 emplacamentos. Contudo, é notável que o bom desempenho do Gol, que já está em fim de carreira, são as vendas para empresas e não para pessoas físicas.
Usados mais vendidos
Mesmo em queda, as vendas de veículos usados em agosto superaram as de julho, com 11,9% de alta. Em relação aos modelos, o pódio não traz surpresas e continua sob domínio do mesmo Volkswagen Gol e dos Fiat Palio e Uno, respectivamente. No total, o hatch da Volkswagen teve 71.753 unidades negociadas em agosto. Mas o segundo lugar foi bastante disputado, com a diferença de apenas 49 unidades para o Fiat Palio (41.436) sobre o Uno (41.387).
Os 10 carros usados mais vendidos de agosto
1º) Volkswagen Gol – 71.753
2º) Fiat Palio – 41.436
3º) Fiat Uno – 41.387
4º) Fiat Strada – 29.565
5º) Chevrolet Onix – 25.590
6º) Chevrolet Celta – 24.767
7º) Toyota Corolla – 22.687
8º) Volkswagen Fox – 21.643
9º) Ford Ka – 20.673
10º) Volkswagen Saveiro – 20.497