Locadoras de carro têm registrado o interesse de uma nova clientela, que pretende evitar o uso de transporte público. Da mesma forma, os centros de formação de condutores (CFCs), novo nome das autoescolas, têm recebido mais jovens interessados em obter habilitação de carro e moto. Em ambos os casos, o objetivo é proteger a saúde e evitar contágio.
A babá Dayana de Oliveira, de 26 anos, decidiu que chegou o momento de comprar uma motocicleta. Para isso, ela está fazendo aulas para obter a carteira de habilitação.
Por causa da pandemia, o Detran-SP não está realizando provas para concessão de habilitação. Assim que possível, Dayana pretende fazer os exames e substituir o ônibus e o metrô. Ela mora no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo, e trabalha no Pacaembu, na zona oeste.
O objetivo ao optar pelo transporte individual é diminuir a possibilidade de contágio. “Tenho um filho de dois anos, e assim o protejo.”
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Inscreva-seDe acordo com o diretor do Centro de Formação de Condutores Veja, também localizado na zona norte da capital, Fernando Atorino, a decisão de Dayana confirma uma tendência. Mais jovens estão procurando veículo próprio (carro ou moto). “A procura de jovens (pelo curso) está sendo bem maior do que antes da pandemia”, diz.
Locação de carro tem aumento de procura
Pesquisa encomendada pela Movida revela que pessoas que nunca alugaram carros estão dispostas a experimentar a modalidade. O levantamento da locadora apurou que 47% dos entrevistados consideram a possibilidade de alugar um veículo, para evitar transporte de massa. Foram ouvidas 955 pessoas nos 26 Estados da federação e no Distrito Federal. A pesquisa mostrou que 54% deles nunca alugaram carro.
O comportamento reforça o sentimento de que neste momento de pandemia o transporte individual ganhou relevância, por garantir menor risco de contágio. Diretor executivo comercial e de marketing da Movida, Jamyl Jarrus informa que, em abril, logo no início da pandemia, a procura por locação caiu. Nessa fase, muitos motoristas de transporte por aplicativo devolveram os carros às locadoras. A razão foi a queda na procura do serviço. Ele garante que a partir de maio o movimento começou a voltar, e tem crescido desde então.
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Uma das mudanças percebidas por Jarrus é que a locação de veículos, tradicionalmente forte nas grandes capitais, está ganhando adeptos também no interior. “Sou do Paraná e temos percebido demanda em cidades como Maringá, Cascavel e Londrina”, diz. Todas ficam no interior do Estado.
Carro 0-km de aluguel
O executivo informa que a pandemia “acelerou” a estreia de um novo tipo de serviço de locação: a do carro zero-quilômetro. Lançado há três meses, a modalidade atende clientes que querem ter a certeza de que o veículo não foi usado.
Nesse caso, o modelo mais barato da lista da Movida é o Fiat Mobi. No plano de 24 meses, a parcela é de R$ 424,60 nos três primeiros meses e de R$ 869,10 nos demais.
Jarrus informa que os cuidados com a higiene foram redobrados em todas as modalidades. Ele afirma que na locação tradicional, de carro previamente usado, a desinfecção é feita na frente do cliente.
Limpeza é fundamental
Transporte individual é um ambiente mais seguro do que ônibus e metrô, mas ainda assim não está livre de contaminação. O simples fato de entrar no carro após passar por algum local infectado (mercado, farmácia, posto de combustível, etc.) pode trazer o vírus para a cabine. Com alguns cuidados básicos, no entanto, é possível evitar que o veículo se transforme em um reservatório de vírus, além de um vetor de transmissão.
Quando sair de carro, não se esqueça de levar, juntamente com a máscara, também álcool em gel para as mãos e uma solução de álcool 70% em spray ou desinfetante. Ao retornar ao veículo, espirre o álcool ou o desinfetante nas solas dos calçados antes de pôr os pés no interior do carro. Com isso, elimina-se a possibilidade de levar o vírus para os tapetes ou carpete. Em seguida, limpe as mãos com álcool em gel.
Todas as superfícies tocadas com frequência pelo motorista e demais ocupantes do carro devem ser limpas com frequência. É o caso, por exemplo, de volante, alavancas de câmbio e freio de estacionamento, maçanetas, teclas dos vidros elétricos e comandos de som. A higienização deve ser feita com álcool 70% ou uma solução com água e detergente.
Pesquisa realizada nos EUA no ano passado apontou o volante como a parte mais suja do carro. E a cabine pode ter mais bactérias do que um assento sanitário. O estudo, feito por um portal de aluguel de carros, mediu a quantidade média de bactérias existente por centímetro quadrado, ou unidades formadoras de colônias (CFU, em inglês). Foram encontradas 629 CFU no volante, ante a média de 172 CFU em assentos de vasos sanitários.
Mantenha ambiente arejado
Com o carro em movimento, o ideal é manter as janelas abertas, para promover a circulação e a renovação de ar no interior do carro.
O ar-condicionado tende a fazer o ar circular dentro do veículo – às vezes sem a necessária renovação com o do exterior. Se o vírus estiver na cabine, irá se espalhar mais facilmente entre os ocupantes.
Verifique também as condições do filtro do ar-condicionado, para ter certeza de que ele cumprirá bem sua função de filtragem do ar externo, caso não seja possível manter as janelas abertas (por causa de frio ou chuva, por exemplo). Afinal, o componente está para o veículo como a máscara facial está para as pessoas. É ele que controla a qualidade do ar que entra no carro, mantendo do lado de fora as impurezas.
Cuidados com carros de aplicativo
As locadoras estão instalando protetores plásticos nos veículos alugados para motoristas de aplicativo. As peças são instaladas entre os bancos dianteiros e traseiro, para proteger tanto os usuários como o condutor.
A Movida informa também que realiza oxi-sanitização nos carros alugados para motoristas de aplicativo. De acordo com a empresa, o processo utiliza ozônio (o mesmo usado para higienizar ambientes hospitalares) e elimina 99% de vírus e bactérias. O serviço tem durabilidade de 72 horas.
Por isso, recomenda-se que o passageiro toque o menos possível nas superfícies. O ideal é afivelar o cinto de segurança, fechar a porta e não mexer em mais nada.
Entrando com o carro no cinema
Saímos. Após quase quatro meses de confinamento, fechamos a porta de casa por fora e partimos para um programa de sábado à noite em família. Não saímos do carro, mas saímos de carro. E nada do combo mercado-farmácia-padaria, em ritmo de bate e volta. Dessa vez, o pacote teve cinema, pipoca e refrigerante.
O filme não era a parte mais importante da programação. O que valia ali era a experiência de assistir à obra cinematográfica sem sair do carro. Conferimos se o para-brisa estava limpo (caso contrário, seria o mesmo que assistir ao filme de óculos sujos) e fomos. Cheios de dúvidas, aliás. E se o carro da frente for um enorme SUV, o equivalente ao cara alto que senta exatamente na poltrona da frente? E se chover? E se não chover, mas esfriar, a gente tiver de fechar os vidros e o carro embaçar?
Sem ‘cara alto’ na frente
Nada disso aconteceu. Depois de entrar na fila de carros e esperar um pouco no estacionamento do Morumbi Town Shopping, na zona sul da capital, entramos na “sala” – na verdade o último nível do estacionamento. Havia apenas um funcionário orientando os motoristas, o que me pareceu pouco. Por isso, cada um foi escolhendo um lugar mais ou menos aleatoriamente. Não há lugar marcado. Apenas placas com números. Ficamos na quarta fileira, mas ainda assim com uma boa visão da tela. Nenhum “cara altão” no nosso caminho. Os vizinhos mais próximos eram um Jeep Renegade e um VW Fox um pouco à frente, um Ford EcoSport de um lado e um Hyundai Tucson do outro. Todos separados no mínimo por dois metros.
A visibilidade da tela foi muito boa em nosso caso, mas estávamos em três. Com duas pessoas na frente e uma atrás, centralizada no banco, todos conseguiram ver bem. Mas, como é permitido entrar com até cinco ocupantes (dependendo do cinema), pode ser que as pessoas do assento traseiro não tenham visão tão boa da tela. Há cinemas drive-in que cobram por automóveis; outros, por pessoa.
Pedidos são feitos por WhatsApp
A pipoca e o refrigerante foram encomendados por WhatsApp e entregues no carro. Eventuais idas ao banheiro também são “agendadas” pelo aplicativo. Por isso, não é recomendável esperar para a última hora, porque, quando se faz o pedido, se entra em uma fila virtual do banheiro, e isso pode demorar um pouco.
O áudio é sintonizado pelo sistema de som do carro, por meio de uma frequência específica (89,3 MHz, no caso). A maioria dos automóveis, no entanto, possui um sistema de prevenção contra descarga da bateria que desliga o rádio após um período de funcionamento. Por isso, às vezes durante o filme ficamos sem alguns segundos de fala, até religar o som.
Mas nada que atrapalhasse. A noite clara com temperatura amena permitiu ver o espetáculo com os vidros parcialmente abertos. E contrastou com a chuva torrencial na tela. O filme Um Dia de Chuva em Nova York, do diretor Woody Allen, mostrou uma Manhattan banhada por uma chuva que durou boa parte do enredo, em meio ao qual os personagens iam vivendo seus dramas particulares.