No fim de 2020, as indústrias automobilística e de tecnologia foram atingidas por uma crise sem precedentes. Por causa da pandemia da Covid-19, que paralisou fábricas em todo o planeta, começaram a faltar semicondutores, os chamados chips. Porém, a previsão não é das mais otimistas. É possível que essa escassez dure, ao menos, até 2023.
Há pouco tempo, a GM precisou interromper a linha de produção do Onix e Onix Plus na fábrica de Gravataí (RS) por falta de microchips para os carros. Acontece que esta é a tendência para as indústrias em geral: terem um abastecimento irregular ou em menor quantidade dessas peças.
Sobre isso, Glenn O’Donnel, vice-presidente da empresa de análise de mercado, Forrester, afirmou que a insuficiência do componente vai durar até 2023. “Porque a demanda seguirá em alta, e o abastecimento restrito. Assim, esperamos que a escassez dure ao longo de 2022 e 2023”, disse.
Tendências por áreas
Glenn espera que a procura por computadores, que necessitam de semicondutores mais avançados, irá “diminuir levemente”. Já a procura destes produtos em data centers deverá crescer.
Em entrevista à rede CNBC, Patrick Armstrong, CEO da Plurimi Investment Managers, ressaltou que a crise deve durar, ao menos, 18 meses. Ainda ponderou que não se trata só da indústria de veículos. “São celulares, é a internet das coisas. Há muitos mais produtos hoje com chips do que no passado”, aponta o executivo.
Contudo, como já havíamos antecipado no Jornal do Carro, a indústria automobilística é a que mais foi afetada por essa crise de abastecimento de semicondutores. Embora a TSMC, maior empresa de chips do mundo, tenha afirmado que vai regularizar a entrega ao setor até junho, Patrick Armstrong não acredita que a companhia cumprirá a data.
Muita procura, pouca demanda: preço mais alto
Outra consequência que virá a curto prazo para o bolso do consumidor será, portanto, o preço mais alto do produto. No caso do setor automotivo, a fabricante pagará mais caro para obter os semicondutores, bem como precisará arcar com a despesa da interrupção da produção. Dessa forma, a expectativa é de que os preços dos veículos, assim, subam rapidamente.
Além disso, essa falta de microchips prejudica diretamente a retomada das vendas da indústria, que foi amplamente afetada pela pandemia.
Brasil importa quase todos os semicondutores
Em entrevista à CNN, a Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi) revelou que 90% dos semicondutores no Brasil vem do exterior. Ou seja, os maiores fabricantes deste produtos estão bem distantes daqui: estão em Taiwan e na Coreia do Sul.
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Inscreva-seIntel terá fábrica de chips
Nesse sentido, a Intel anunciou que gastará mais de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 105,4 bi na conversão direta) para construir duas fábricas de semicondutores no Arizona (EUA).
Por isso, o presidente dos EUA, Joe Biden, junto com a recém-formada Aliança Pro Semicondutores, pediu ao congresso norte-americano a aprovação de US$ 50 bilhões (R$ 263,6 bi) para construir cadeias adicionais de abastecimento. O problema é que a unidade vai levar cerca de dois a três anos para, então, começar a operar.
Em entrevista também à rede CNBC, Alan Priestley, chefe da consultoria Gartner, informou que essa mudança será benéfica para os próximos meses, mas não aliviará a demanda atual. Para outra consultoria, a Alix Partners, essa longa crise causará uma perda de US$ 60,6 bilhões (cerca de R$ 319 milhões) para a indústria de carros. Isto somente em 2021.