Corinthians x Palmeiras. Flamengo x Fluminense. Internacional x Grêmio. Tal qual esses grandes embates do futebol que geram ânimos aflorados por anos entre seus torcedores, existe no mundo dos carros um que suscita tantas emoções quanto: Chevrolet Camaro x Ford Mustang.
Dificilmente você conseguirá fazer o “torcedor” de uma marca trocar a torcida por outra. Apesar disso, recentemente, a Chevrolet tentou. Nos Estados Unidos, até o dia 3 de setembro, quem for proprietário de um Ford Mustang, mas estiver interessado em “virar a casaca”, como dizem no futebol para quem troca de time, tem um desconto de US$ 2.500, cerca de R$ 10 mil. Além disso, os donos de Mustang levam US$ 500 em dinheiro, algo em torno de R$ 2 mil.
Toda essa agressividade marqueteira é resultado de uma disputa que começou no final da década de 1960. O Ford Mustang foi lançado em 1964. O Chevrolet Camaro veio como uma resposta ao carro do oval azul em 1966. A receita era sempre a mesma: motor V8 em um carro mais leve que os outros da época, para criar o que se convencionou chamar de Muscle Car.
Os primeiros anos foram de graça e glória para os dois modelos. No lançamento, o Mustang foi oferecido em três opções de carroceria. cupê, conversível e Fastback. Já o Camaro tinha apenas as cupê e conversível. Os dois modelos viveram nesse período com opções de motores seis cilindros em linha e o V8.
Foi uma década profícua para os dois modelos. A briga que surgiu nas ruas tomou também novas dimensões com versões mais esportivas, como as Boss 302 e Boss 429 para o Mustang e a Z/28 do Camaro, nas pistas na categoria Trans Am, de carros de turismo, e nas versões Cobra Jet (Mustang) e COPO (Camaro), destinadas às provas de arrancadas e existentes até as gerações atuais.
Primeiro tropeço
Se o começo foi de sucesso, a década de 1970 já começou a trazer um sinal de trevas sobre os carros. A crise do petróleo em 1973 obrigou as marcas a buscarem veículos mais econômicos, já que não havia combustível disponível como antes. No Brasil, as marcas também foram obrigadas a criar soluções criativas, como o uso do álcool/etanol.
Isso levou as marcas, já na terceira geração de ambos, que foram longevas – perduraram do final dos anos 1970 até o início da década de 1990 – a adotar uma coisa impensável para os muscles: motores quatro cilindros.
Além do problema com o petróleo, Mustang e Camaro tiveram que lidar com a chegada dos concorrentes japoneses com apelo para os motores menores. Carros menores, como o Toyota Celica, mais práticos, econômicos e confiáveis roubavam a atenção do público norte-americano.
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Apesar disso, os V6 e V8 continuavam vivos e disponíveis também. No Mustang, a Ford chegou a apostar no downsizing, como virou padrão hoje em dia. Um quatro cilindros aspirado e uma opção turbo.
Aos trancos e barrancos sobreviveram. Vale o adendo de que o Camaro teve um “hiato” de 8 anos, já que ficou sem produção entre 2002 e 2010. Na segunda década dos anos 2000, aproveitaram para surfar na onda de produtos retrô.
Com isso, Camaro e Mustang sobreviveram, ganharam novos mercados, onde nunca haviam sido vendidos anteriormente, como o Brasil. O Camaro chegou oficialmente pelas mãos da GM ao Brasil apenas em 2011 e o Ford Mustang demorou ainda mais, só na última geração, em 2018, que lá fora foi mostrada em 2015, e pela primeira vez com a força de ser pela primeira vez global.
O fim pode estar próximo de Ford Mustang e Chevrolet Camaro
Se eles ainda tem um séquito de fãs fieis e um mercado de novos compradores, ainda assim o fim pode estar próximo. Tanto Camaro quanto Mustang estão sofrendo com as novas restrições de emissões de poluentes e ruídos.
Pesados e gastões com seus V8, eles têm também motores V6 e quatro-cilindros turbo que são mais eficientes, mas não fazem parte da essência de ser um muscle car. Se suas marcas não conseguirem encontrar uma fórmula para deixar esses carros mais leves, como são os esportivos europeus, e menos poluentes, o fim pode estar batendo a porta sem uma nova geração.
Uma opção para a sobrevivência dos muscle cars seria a introdução de tecnologias híbridas, como motores elétricos para garantir que eles atinjam níveis adequados de emissões em uma próxima geração, mas isso, associado a motores menores, pode tirar o fator mais atraente dos modelos.
Rumores, inclusive, dizem que a próxima geração que estava sendo desenvolvida do Camaro foi por água abaixo e em 2023, o modelo sai de linha. Um dos motivos seria a baixa nas vendas, em relação ao rival e de modo geral nos Estados Unidos, seu principal mercado ainda.
Na Ford, há um crossover elétrico em desenvolvimento que pode, em um mundo de carros elétricos e de SUVs, ser o sucessor espiritual do Mustang. A propósito, ele terá elementos herdados do muscle car, como as tradicionais lanternas traseiras em três faixas de cada lado. O que será, será.