As montadoras instaladas no Brasil estão fazendo de tudo para barrar a “invasão chinesa”. Pela segunda vez, o País vive um momento de enxurrada de veículos feitos na China, o que vem gerando queda nos preços (e nas vendas) dos produtos oferecidos por fabricantes locais. Segundo as montadoras, a única saída seria a volta da taxa de importação de veículos elétricos. Assim, o tema está sendo discutido com o governo federal. Portanto, há um forte lobby das fabricantes locais em prol da medida.
Vale lembrar que, desde 2016, para os carros elétricos vendidos no Brasil não há recolhimento do imposto de 35% que incide sobre os importados com motor a combustão. A alíquota, entretanto, não inclui modelos feitos em países do Mercosul. Bem como no México.
Tradicionais precisaram baixar preços
Seja como for, a Renault, por exemplo, que tem fábrica no Brasil, baixou o preço do elétrico Kwid E-Tech, importado da China. Assim, a tabela passou de R$ 149.990 para R$ 139.990. Portanto, isso é resultado da chegada do BYD Dolphin, que tem preço sugerido de R$ 148.900. Além disso, o novato é maior e bem mais equipado do que o hatch da marca francesa.
Outro bom exemplo, também da Renault, é o Megane E-Tech. O modelo reúne vários predicados para virar um sucesso de vendas. Porém, esbarra em concorrentes como o BYD Seal, por exemplo. Assim como ocorre com Kwid x Dolphin, o chinês é mais barato. Bem como oferece mais recursos tecnológicos e dois motores elétricos, ante um do modelo francês.
Portanto, caso a taxa de importação volte de forma integral, o impacto no bolso do consumidor será grande. Afinal, a conta é simples: o imposto fará o preço final do carro chinês elétrico subir. Além disso, não haveria escalonamento. Por exemplo, com a taxa, a tabela do BYD Seal pularia dos atuais R$ 296.800 para mais de R$ 400 mil. Portanto, alta superior a R$ 100 mil. Ou seja, é quase o preço de um Volkswagen Polo na versão intermediária (TSI), que parte de R$ 100.990.
Por essas e outras, as fabricantes locais vêm se posicionando contra a isenção do imposto importação para carros elétricos. Nesse sentido, o lobby é formado por várias empresas representadas pela Anfavea, a associação das fabricantes instaladas no Brasil.
Lucros
Mas o que as montadoras tradicionais ganhariam com isso? Afinal, muitas também pagariam o imposto de importação para seus carros elétricos. Na prática, funciona assim: as chinesas oferecem preços baixos no Brasil porque, como têm alto volume de produção, seus lucros por unidade são mais baixos. Assim, isso representa cerca de metade do que lucram as montadoras europeias, por exemplo. Afinal, a ideia consiste em conquistar a clientela.
Desse modo, caso o imposto volte a ser cobrado, as chinesas terão que repassar a alta ao cliente. Enquanto isso, as veteranas podem mexer nas margens de lucro (maiores) e aumentar menos o valor do produto final. Assim, reduzem o lucro, mas ganham em volume de vendas dos carros mais baratos.
Pela volta
Conforme a Abeifa, que reúne os importadores de veículos, o fim do benefício deve ocorrer ainda em 2023. Entretanto, a associação informa que o processo vai ser gradativo. Em abril, a Abeifa informou ao Jornal do Carro que “a proposta é o escalonamento, começando com o imposto de 2% até chegar a 20%, equivalente à TEC (Tarifa Externa Comum) adotada pelos países do Mercosul, no período de dez anos”. O mesmo teto de 20% valeria para híbridos e híbridos-leves. Assim, os preços desse carros subiriam, gradativamente, em torno de, respectivamente, 4% e 7% ao ano. Por fim, não chegariam aos 35%, como é a taxa cobrada nos importados com motor a combustão.
Seja como for, a Anfavea) insiste na reversão da taxa zero do imposto de importação. Afinal, segundo a associação, a norma atual inibe investimentos no País. Atualmente, apenas Caoa Chery e Toyota produzem veículos eletrificados no Brasil. Porém, todos são híbridos e feitos com componentes importados. Ou seja, não há produção de automóveis elétricos no Brasil. É aí que entram GWM e BYD, que já têm tudo engatilhado para 2024.
Por ora, vale recordar que os carros elétricos e híbridos recebem pouquíssimos incentivos fiscais no Brasil. Assim, os benefícios limitam-se a isenção de IPVA, conforme o Estado, liberação do rodízio municipal na capital paulista e, por fim, imposto de importação zerado.
Dinheiro é mais importante que o meio ambiente
Em síntese, em vez de defender o incentivo às vendas de veículos com menores níveis de emissão, que contribuem para diminuir o aquecimento global, as montadoras nacionais criticam a ação. Alegam, a princípio, que a isenção desestimula o investimento na produção de carro elétrico no Brasil. Porém, as montadoras locais tiveram quase 10 anos para rejeitar esse subsídio.
Mas, curiosamente, só agora “enxergaram” esse viés. Seja como for, em um mercado que compra quase 2 milhões de carros novos por ano, os cerca de 8.400 veículos elétricos vendidas em 2022 não representam um risco tão grande.
Seja como for, quanto mais caro for o carro elétrico, menor serão suas vendas. Assim, o consumidor será induzido a comprar modelos com motor a combustão. Logo, as emissões de poluentes continuarão nas alturas. Em tempo: o único veículo 100% elétrico desenvolvido e produzido no Brasil é o caminhão Volkswagen E-Delivery, feito em Resende, no Rio de Janeiro.
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