Não deixava de ser um Fusca. Mas, ao mesmo tempo, não era um Fusca qualquer. Na edição de 21 de agosto de 1985, o Jornal do Carro (JC) trazia na capa uma reportagem sobre um Fusca de quatro portas esticado em quase um metro em relação ao modelo convencional. O Fusca limusine produzido no Brasil chamava atenção nas ruas de São Paulo e também era destaque nos EUA, para onde ia, então, a maior parte da produção da empresa paulista.
Esse, contudo, era apenas um dos exemplos de veículos extravagantes testados pelo JC ao longo dos tempos. Viriam muitos outros. Em fevereiro do ano seguinte, a estrela da edição foi o Miura Saga, um esportivo feito pela Besson, Gobi em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e destinado a quem não se contentava com os carros oferecidos pelas quatro multinacionais (Fiat, Ford, GM e VW), que, dessa forma, dividiam entre si o mercado nacional.
Durante o período de proibição de importações, os modelos fora de série eram a alternativa para quem buscava exclusividade e uma boa dose de extravagância. A pedido do cliente, o Miura Saga poderia vir, por exemplo, com computador de bordo, TV, geladeira, abertura de portas por controle remoto e coluna de direção ajustável eletricamente, entre outros itens. E cobrava bastante por isso: Cr$ 305 milhões com os opcionais, quantia que, na época, era suficiente para comprar sete Fuscas 0km. Ou um Alfa Romeo Ti – o carro de série mais caro da época – e uma Caravan de quatro cilindros, assim como mostrava a reportagem. Dessa forma, o modelo equipado com motor 1.8 do VW Santana era o mais vendido da marca, com 60% dos pedidos.
JC no céu e no mar
Em maio do mesmo ano, experimentamos o motor do Passat, só que adaptado em um barco. E, em março de 1987, a Kombi voou no teste. Não exatamente pela sua velocidade, que sempre foi modesta. Mas na foto da capa, feita na praia, ela aparece com as quatro rodas no ar, numa demonstração de sua
valentia. A propósito, fotos de carros na praia eram uma constante na época. A razão é que os testes eram feitos no litoral, por causa da pressão atmosférica mais favorável ao desempenho. Além disso, para aproveitar a viagem, o cenário praiano sempre dava boas imagens, com os carros espalhando água.
No comecinho de 1989, o destaque era para um Ford Escort feito para provas de arrancada. Com preparação pesada, gerava 700 cv, ia de zero a 100 km/h em 4 segundos e tinha até para-quedas para ajudar na frenagem.
No mesmo mês o JC foi aos ares a bordo do primeiro avião com motor a álcool, com direito a piruetas. A reportagem mostrava que o consumidor também estava fazendo acrobacias para conseguir abastecer seu carro, sob o Plano Verão. Por sinal, ainda no verão de 89, a capa de 8 de fevereiro mostrava o sucesso que as motos aquáticas estavam fazendo nas praias.
De caminhão a triciclo
Da praia para o interior, dirigimos um supercaminhão off-road, desenvolvido para trabalhos pesados em minas, pedreiras e grandes obras civis. Chegar à cabine, a quase dois metros do chão, já era um desafio. Depois, era só domar o motor de 11 litros, por meio do câmbio de dez marchas.
O JC também testou um pequeno triciclo elétrico equipado com painéis solares, que captavam a energia do Sol para mover o motor. Produzido pela japonesa Sanyo em 1985, o Amorton Car veio ao Brasil para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco 92.
Em junho do mesmo ano, o JC deu capa para um teste de bicicletas. Sob o título “A bicicleta invade a cidade”, o texto mostrava que o paulistano já naquela época estava adotando as magrelas como meio de transporte em deslocamentos diários pela cidade.
Além de testes de desempenho, o jornal também fez um desafio de espaço em 1992: a ideia era tentar acomodar cinco jogadores da seleção brasileira de vôlei no Uno Mille. Negrão, Toaldo, Max, Paulão e Douglas toparam o desafio e ainda elogiaram o espaço. “Já tive Quantum, Parati e Monza, mas o melhor foi um Uno 1.5R“, disse Paulão, que, do alto de seus 2,01 m, afirmou não ter encontrado posição em carros maiores.
Teste com pilotos
Ainda em 92, o piloto Gil de Ferran, que havia acabado de se tornar campeão da Fórmula 3, na Europa, voltou às pistas, mas desta vez para testar para o Jornal do Carro o novo Chevrolet Omega, em um comparativo com o VW Santana, Ford Versailles e Fiat Tempra.
No ano seguinte, foi a vez de Rubens Barrichello “sentar a bota” – como enfatizava a chamada de capa – no Mitsubishi 3000 GT VR-4. Em sua primeira temporada na F1, competindo pela Jordan, o jovem piloto testou o esportivo japonês a convite do JC, e gostou: “Olha como o carro gruda no chão. Dá para
fazer o ‘S’ (do Senna) com o pé embaixo”.
Em mais um teste feito por pilotos, dois anos mais tarde o jornal convidou profissionais que davam os primeiros passos nas pistas para acelerar os carros populares. Corsa, Fusca, Escort Hobby, Gol e Mille foram submetidos ao crivo de Hélio Castroneves, Nonô Figueiredo, Cristina Rosito, Mário Haberfeld e
Felipe Gianetti.
Em 1994, o JC passa a testar automóveis com mais precisão e segurança, utilizando equipamento eletrônico digital no campo de provas da GM, em Indaiatuba (SP). O primeiro modelo a ser submetido ao novo padrão de testes foi o Mercedes C280.
O JC também deu com os cavalos n’água – literalmente. Em 1993, a reportagem avaliou o Schwimmwagen, um Fusca anfíbio, capaz de andar em qualquer tipo de piso e também de navegar. Era só mais um desafio vencido pelo Fusca. E mais um dia “normal” na rotina do jornal.