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JC 40 Anos: trajetória marcada por boas histórias e grandes reportagens
História

JC 40 Anos: trajetória marcada por boas histórias e grandes reportagens

Temas como carro elétrico, uso do cinto de segurança e roubo de veículos sempre estiveram na pauta do caderno semanal do JC

Hairton Ponciano Voz

31 de ago, 2022 · 10 minutos de leitura.

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Jornal do Carro JC 40 Anos
Quando ainda nem se pensava em carros elétricos, o Jornal do Carro já estampava na capa reportagem sobre uma van elétrica da Gurgel em testes no País
Crédito:Acervo/Estadão

O Jornal do Carro (JC) ainda não havia completado um ano de vida, quando, em dezembro de 1982, uma reportagem abordava um tema que só se tornaria comum nas décadas seguintes: o carro elétrico. Sob o título “Eles já estão rodando”, mostrava que a Itaipu, van elétrica feita pela Gurgel, empresa nacional fundada em 1969, estava rodando havia um ano.

A Telesp, nome da companhia telefônica de São Paulo, na época, tinha três Itaipu em sua frota. Enquanto isso, a Telebrasília, da capital federal, assim como a Telerj, do Rio de Janeiro, testavam uma unidade cada. Segundo o texto, a van, que pesava 1.300 kg, tinha duas baterias de chumbo ácido e autonomia de 80 km. A velocidade máxima, de 70 km/h, era adequada, uma vez que esses carros circulavam principalmente em vias de trechos urbanos.

Antecipar tendências sempre foi uma das prioridades do JC, independentemente do assunto. Por isso, em 1983, o caderno chamava atenção para a importância do uso do cinto de segurança. O item só se tornaria obrigatório no Brasil em 1989, e, ainda assim, apenas em rodovias.

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Em 1994, a obrigatoriedade passaria, então, a vigorar na cidade de São Paulo, para os ocupantes dos bancos dianteiros. Entretanto, na época, o projeto de lei do município, considerado polêmico, foi bastante contestado.

Jornal do Carro JC 40 Anos
Acervo/Estadão

“Medroso”

Com o provocativo título “Você tem medo do cinto de segurança”, a reportagem constatou, então, que o receio de ser considerado “medroso” era um dos motivos que levavam muitos usuários a não utilizarem o item de segurança. Da mesma forma, em 1987, uma edição chamava atenção para o fato de que a maioria dos motociclistas não utilizava capacete. Sob uma foto com três pessoas (!) sobre uma moto, todas sem capacete, o título “Nada na cabeça” resumia o tom da reportagem.


A equipe também produziu reportagens ao longo da história mostrando a rotina de profissionais ligados ao universo automotivo. Foi o caso, por exemplo, do repórter que passou um dia como vendedor em uma loja de carros usados. Em 1989, o ágio nos preços dos novos era comum. E os dos usados subiam diariamente. Então, a reportagem presenciou o seguinte diálogo: “Poxa, essa Parati 87 está mais cara que a zero-km”, reclamou um cliente. “Se você encontrar a zero pelo preço de tabela, pode trazer que eu compro”, retrucou o lojista.

Em outra edição do gênero, o repórter passou o dia abastecendo veículos e calibrando pneus. E perguntando se o “doutor” queria que ele desse uma olhada na água e no óleo.

Jornal do Carro JC 40 Anos
Acervo/Estadão

Cobra na cabine!

Ainda em 1989, uma reportagem sobre roubos e furtos de toca-fitas mostrava um fato inusitado. Para proteger os equipamentos de sua Caravan, incluindo uma TV e um toca-fitas, o dono da Chevrolet deixava uma cascavel de 1,5 metro sob o banco da frente. “É o primeiro lugar onde o bandido coloca a mão”, justificava. Na época, era comum o uso de “gavetas”, que permitiam retirar o som do painel. Alguns levavam o equipamento e outros o deixavam embaixo do banco.

Texto publicado em uma edição do JC de 1990 mostrava que o telefone estava chegando aos automóveis. A reportagem antecipava que os novos aparelhos funcionavam como os fixos convencionais. Ou seja, “fazendo até ligações interurbanas e chamadas a cobrar”. O senão era o preço. A estimativa era de que a tecnologia chegaria custando cerca de US$ 20 mil.

24 horas ao volante

No mesmo ano, o JC fez um teste de resistência para carro e equipe. O desafio era rodar 24 horas pela cidade de São Paulo com um Fiat Prêmio sem desligar o motor. A tarefa começou à meia-noite de um domingo frio e chuvoso de julho. E terminou após quatro jornalistas se revezarem ao volante, em turnos de seis horas cada.


A jornada contrastou caminhos livres durante a madrugada e trânsito pesado em boa parte do dia. No fim do período em que o limpador de para-brisa também funcionou praticamente durante 24 horas, a média de velocidade urbana ficou em torno dos 31 km/h. No total, o sedã rodou 745 km.

Quando os importados voltaram, ficou claro que nem tudo o que vinha de fora era superior ao produto nacional. Em 1991, a chamada de capa resumia as impressões sobre o russo Lada Laika: “Feio, ultrapassado, bom, barato”.

Jornal do Carro JC 40 Anos
Acervo/Estadão

“Lixo do primeiro mundo”

No mesmo ano, uma capa tinha o VW Santana e o Ford Versailles. A chamada dizia “Retratos do Terceiro Mundo: Nossos mais novos automóveis têm tecnologia atrasada, custam caro e devem muito aos carros do Primeiro Mundo”. Outra reportagem, sob o título “Lixo do Primeiro Mundo”, mostrava que a injeção eletrônica dos modelos mais caros do País, como o VW Gol GTI, já estava aposentada nos países desenvolvidos.

Um dos resultados da diferença tecnológica entre nacionais e importados foi tema da edição de 4 de dezembro de 1991. O JC mostrava que os fora de série, que faziam sucesso enquanto os portos estavam fechados, haviam “caído no primeiro assalto”, com o fechamento de várias fábricas.

Assalto, mas em sentido bem pior, incluindo roubo, foi o tema de uma edição especial de 1993. Os repórteres Percival de Souza e Oswaldo Luiz Palermo foram à fronteira com o Paraguai. Lá, mostraram a rota por onde passavam os carros roubados aqui e que seguiam para o país vizinho.


Outra viagem incluindo o Paraguai, além da Argentina e do Uruguai, produziu a reportagem sobre um longo teste com o Fiesta. O compacto que a Ford passou a fazer no Brasil em 1996. Sob o crivo de duas duplas de repórteres, que se revezaram no trajeto, o hatch rodou cerca de 7 mil km em 11 dias.

Jornal do Carro JC 40 Anos
Acervo/Estadão

ABS de “segunda linha”

Testes com produtos também revelavam detalhes que a descrição na embalagem não trazia. Em 1994, por exemplo, o JC avaliou o Brake Guard, um regulador de pressão de freios que estava à venda no País como “ABS”. O sistema mecânico rudimentar instalado em um Kadett foi testado na pista. As rodas do Chevrolet demoraram mais para travar quando o pedal de freio recebia pressão total. Porém, o carro também precisou de mais espaço para parar.


Ou seja, no máximo o dispositivo retardava o travamento de rodas, mas a eficiência piorava. O produto foi reprovado no teste, e a representante deixou de vendê-lo no País.



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