Fortaleza é uma cidade de contrastes. Desde a descida do avião, até uma caminhada pelo centro da cidade, chama atenção a diversidade de cores, expressões, barulhos e de pessoas, que dão à capital do Ceará uma riqueza única, que exploramos nos dois primeiros dias da expedição Redescobrindo o Brasil que você confere no site do Jornal do Carro.

Uma das maiores cidades da região Nordeste, Fortaleza é muito mais do que apenas praias e o conhecido carnaval fora de época. É claro que as 15 praias da cidade são um convite à um mergulho no mar, de águas mornas e calmas em praticamente todos os 34 quilômetros à beira mar de Fortaleza. No entanto, vale pesquisar a qualidade da água antes de se banhar, já que há pontos impróprios no litoral da cidade. No site da prefeitura há detalhes em tempo real sobre a qualidade da água.

No primeiro dia em Fortaleza, conhecemos a praia do Futuro, a cerca de 10 quilômetros do centro (um trajeto de aproximadamente 25 minutos de carro). Ela tem uma infinidade de quiosques e restaurantes, muitos com infra-estrutura como chuveiros, banheiros e até salão de beleza incluídos. Durante a semana, há pouquíssimo movimento na rua e no calçadão da praia, que é apontado como um passeio perigoso. O índice de assaltos é grande, assim como a quantidade de relatos de violência urbana na região. Ainda assim, vale a visita, mesmo que com cuidados.

Assim como em outras cidades do País, Fortaleza tem vários mercados públicos. O de peixe, localizado no fim da Avenida Beira Mar, no bairro do Meireles, local escolhido para terminarmos o dia de expedição, é um dos mais completos. Inaugurado em junho deste ano, o mercado tem 49 boxes de venda de peixes frescos. Em quatro deles, pode-se pedir para fritar peixes comprados no próprio mercado e comê-los apreciando o belo por do sol da Praia de Iracema. Mas é bom se apressar no dia de turismo: o sol cai cedo, por volta das 17h30.

Com a noite, a cidade se ilumina com os característicos espigões, que avançam sobre o mar e dão perspectivas incríveis sobre a orla. Alguns deles vão cerca de dois quilômetros à frente da faixa de areia e têm quiosques e espaços livres para prática de esportes ou apenas contemplar a bela paisagem, como na antiga Ponte dos Ingleses, um charmoso pier antigo com piso de madeira. No calçadão, feirinhas de artesanato e comidas típicas movimentam a Praia de Iracema, também muito procurada por corredores e ciclistas no fim do dia.

Em pleno calçadão, chamam atenção os shows de humoristas locais, que reúnem pequenas plateias enquanto realizam todo tipo de piada com os ali presentes. Os convites para ver shows de comédia também são comuns a quem passeia pela orla, e muitos bares oferecem o divertimento incluso no couvert cobrado – prática comum, já que a maioria dos estabelecimentos também oferece música ao vivo ou algum outro tipo de entretenimento à noite.

Dia dois. No entanto, a capital cearense mostrou outro lado no segundo dia de expedição. O Museu do Automóvel, localizado no bairro de Guararapes, é uma bela amostra da paixão do cearense por carros. O espaço foi o primeiro do tipo a ser particular, totalmente mantido por colecionadores que têm alguns de seus veículos expostos no Museu.

Com 35 carros expostos e entrada a R$ 10, o local merece uma visita de quem gosta de automóveis antigos. Relíquias como um Gardner Roadster de 1927 e dois carros funerários da década de 1930 chamam atenção. A maioria é usada por seus donos em eventos e encontros de antigos, tornando o acervo sempre mutável diante da “agenda” dos modelos. Além disso, há uma biblioteca com centenas de exemplares de revistas antigas, aberta à visitação e com uso do material para pesquisa de forma gratuita.

Há, inclusive, modelos de elevado valor histórico, como uma Ford Woodie, precursora das peruas norte-americanas com lateral de madeira. Sedãs da Mercury e Cadillac, e até um charmoso Ford Thunderbird dos anos 1950 também brindam os visitantes do valioso espaço.

Dali, o Redescobrindo o Brasil foi ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no centro da cidade. Com salas de cinema e teatros, além de uma arquitetura única, o espaço é um convite ao apreço pela cultura local. Ali, também são realizados shows musicais e concertos, o que sempre atrai muita gente para a região, que também é cercada de bares, restaurantes e casas noturnas. O melhor é deixar para visitar o Dragão do Mar após o meio da tarde, quando as cafeterias estão abertas, assim como os espaços para exposições.

Mas é no centro de comércio popular que Fortaleza mostra sua face mais real. Fora do circuito turístico, a região é lotada de lojas de todo tipo. Uma das mais especiais é a farmácia Oswaldo Cruz, inaugurada em 1932 e propriedade da mesma família desde 1936. Nela, seu funcionário mais antigo, o gerente Aderson Tavares, de 68 anos, trabalha há 49 anos no lugar e viu as transformações que o negócio e a cidade sofreram ao longo do tempo.

“Fortaleza era uma cidade pacata, e a falta de mobilidade urbana do passado fazia com que as pessoas não saíssem muito de seus bairros”, comenta “seu” Aderson, que se desloca de carro no caótico trânsito entre o trabalho no centro e sua casa, a cerca de 20 quilômetros da região. A cidade é muito suscetível aos “humores” do trânsito intenso. Embora até simples de ser locomover e se localizar, graças aos muitos quarteirões praticamente quadrados e às avenidas paralelas à orla, as ruas estreitas e muitos cruzamentos sem sinais de trânsito acabam pedindo boa dose de paciência aos motoristas que trafegam pela cidade.

No meio do grande movimento de pedestres na Praça do Ferreira, onde fica a antiga farmácia, chama atenção a quantidade de pessoas que dão um tempo na correria e se sentam nos bancos ali disponíveis. Alguns chegaram a abordar nossa equipe de reportagem simplesmente para perguntar sobre o que estávamos fazendo e trocar algumas palavras sobre a cidade. É constante o calor, dos termômetros e dos sorrisos trocados com uma Fortaleza que alterna entre contar a história do Ceará, mostrar um ar descontraído de uma cidade de veraneio e ser uma das grandes capitais do País.

Cozinha. A mesma riqueza das ruas se sente nos gostos de Fortaleza. Com muitas opções de restaurantes bons, os cardápios são fartos em opções de todos os tipos. Os pratos de peixe são pontos fortes de praticamente todas as cozinhas cearenses, com moquecas bem servidas, coloridas e muito saborosas. Comer uma à beira mar custa cerca de R$ 70 para duas pessoas.

No entanto, carnes também diversificam as opções. Desde a tradicional carne de sol com mandioca frita, que dá água na boca, até uma bela buchada de bode, para os de estômago mais forte. O prato mais característico do Ceará, no entanto, é o tradicional baião de dois, feito com feijão, arroz, bacon, cebola e coentro. Ele pode ser encontrado em praticamente qualquer restaurante da cidade.

Nas ruas, também é possível conhecer muito da culinária local. Não faltam barracas e carrinhos com castanhas torradas, mingaus e sopas e caldos quentes, que mesmo com o calor intenso na cidade são muito apreciadas a qualquer hora do dia. Para beber, sucos naturais de todo tipo de fruta são comuns em praticamente qualquer lugar e uma boa pedida para hidratar o corpo depois de horas sob o sol quente de Fortaleza.

Para petiscar, os quiosques das praias oferecem pratos tipicamente nordestinos, como camarões fritos (de vários tipos), caranguejos e pastéis variados. Chama atenção o preço sensivelmente menor que os praticados no Sudeste. Uma porção com dez pastéis custa pouco mais de R$ 15, à beira mar. A porção de camarões, geralmente muito bem servida, custa o mesmo que um frango a passarinho, por exemplo: cerca de R$ 35.