Tudo caminhava em ritmo de crescimento até que, no começo de 2020, a pandemia do novo coronavírus se espalhou pelo mundo. Fábricas tiveram de parar, o comércio fechou e a ruas ficaram vazias. Com o setor de veículos não foi diferente. Aliás, o segmento continua sendo impactado pela falta de insumos e componentes, sobretudo semicondutores, ou chips.
Em síntese, os chips passaram a ser um dos itens mais importantes dos veículos. Em suma, todos os sistemas, desde os controles do motor aos itens de segurança, precisam de semicondutores. Além disso, em um mundo cada vez mais conectado, recursos como o multimídia e a internet a bordo passaram a ser diferenciais importantes na hora da escolha do novo carro. Mas várias montadoras tiveram de interromper a produção no mundo todo justamente por causa da falta de chips.
Até a Toyota, que conseguir manter suas linhas de montagem por vários meses, não resistiu. Em agosto de 2021, a empresa teve de paralisar várias de suas fábricas. Como resultado, a produção de veículos e motores foi bastante afetada. No caso da General Motors, a situação foi ainda mais grave. A unidade de Gravataí (RS) ficou fechada de março a agosto. Ou seja, a produção do Onix e do Onix Plus ficou comprometida.
Vendas afetadas e mudança no ranking
Sem unidades disponíveis nas concessionárias, as vendas dessa dupla despencaram. Assim, o Onix perdeu o título de modelo mais emplacado do mercado, que o hatch defendia desde 2015. Com o retorno da produção, o modelo voltou a vender bem. Porém, ainda não se recuperou totalmente. Com isso, até veículos que andavam esquecidos pelos consumidores, como os Fiat Argo e Mobi, chegaram a liderar o pódio de licenciamentos.
No auge da crise, em meados de 2021, quando a Toyota comunicou que iria paralisar suas fábricas, a Fiat e a Renault já estavam sem produzir. Segundo dados da Anfavea, a associação que reúne as fabricantes do País, apenas no primeiro semestre deixaram de ser feitas entre 100 mil e 120 mil unidades. A maioria por causa da falta de chips.
Dentre os malabarismos feitos pela indústria para manter empregos e a capacidade produtiva, várias empresas deram férias coletivas aos colaboradores. Por exemplo, a Volkswagen adotou a estratégia nas plantas de Taubaté e Anchieta, em São Paulo. O lay off, como é conhecida a suspensão temporária de contratos de trabalho, também foi corriqueira ao longo de 2021.
Importância dos semicondutores
Antes de mais nada, é preciso entender a importância dos semicondutores para os veículos atuais. Esse tipo de componente está presente em todos os produtos eletrônicos. Ou seja, de smartphones a computadores. De TVs a roteadores de internet.
Assim, dependendo do veículo há cerca de 600 semicondutores. E, com a pandemia, a demanda por chips aumentou ainda mais. Isso porque muita gente passou a trabalhar em casa. Além disso, as transações feitas por meio eletrônico, dispararam. No caso dos veículos, há cada vez mais sistemas de auxílio ao motorista. No mesmo sentido, a oferta de modelos elétricos não para de avançar.
Falta de produtos e aumentos constantes
Seja como for, as fábricas de carros voltaram a funcionar gradativamente após o período mais crítico da pandemia. Entretanto, as matérias-primas e outros insumos e componentes, como os chips, vêm de outras fábricas. E esses fornecedores também foram afetados pela pandemia. Como resultado, não só a indústria de veículos, mas também seus fornecedores, reduziram ou mesmo pararam a produção. O resultado todo mundo conhece.
Contudo, a retomada gradual da economia, e do aumento da procura por novos produtos, criou um outro entrave para a expansão das vendas. Ou seja, a disparada dos preços. Basicamente, faltam matérias primas e itens para a indústria de transformação. Aço, plásticos e borracha ficaram escassos. Assim, o repasse da alta de custos foi inevitável.
Como resultado, 2021 foi marcado, também, pelos sucessivos reajustes das tabelas de veículos. Por exemplo, o Volkswagen Gol, prestes a sair de linha no Brasil, teve os preços reajustados praticamente todos os meses. Assim, chegou a ultrapassar a barreira dos R$ 90 mil no caso da versão de topo de linha. O modelo, no site da marca, tem preço máximo sugerido de R$ 95.030.
Usado valorizado é igual a IPVA lá em cima
Com a falta de modelos novos, muitos consumidores se voltaram para os usados. A procura cresceu tanto que, no último trimestre de 2021, alguns seminovos passaram a ter preços iguais e até mais altos que os de veículos zero-km. Como resultado, o valor do IPVA a ser pago em 2022 também vai disparar. A alta foi tão grande que em São Paulo o imposto vai poder ser pago em até 5 vezes. No caso de quitação à vista, o desconto, que em 2021 foi de 3%, passou a 9%. Portanto, se você tem um modelo do tipo, prepara o bolso.
Por exemplo, em novembro de 2020 um Renault Kwid de ano/modelo 2018/19 estava cotado em R$ 34.438. Porém, em novembro de 2021, o mesmo modelo estava avaliado em R$ 43.932. Ou seja, um aumento de quase R$ 10 mil em 12 meses. Dessa forma, em 2021 o dono de um carro desses pagou R$ 1.377,52 de IPVA. Porém, em 2022 o mesmo contribuinte terá de pagar R$ 1.757,28. Ou seja, uma alta de 27,57% no mesmo período.
Em São Paulo, carro com 20 anos ou mais não paga IPVA
Para o cálculo de pagamento do IPVA, a alíquota foi mantida. E difere em cada Estado. Assim, em São Paulo, por exemplo, a taxa é de 4% para os automóveis de passeio a gasolina e flexíveis. Já os com motores a etanol, eletricidade e gás comprados antes de 15 de janeiro de 2021, a alíquota é de 3%. Veículos feitos há 20 anos ou mais são isentos de IPVA no Estado.
Para carros registrados em São Paulo, se o IPVA for pago à vista o desconto é de 9%. No entanto, quem pagar o imposto integralmente em fevereiro, ou preferir parcelar, o desconto será de 5%. Para veículos zero-km, são 3% de abatimento para pagamento à vista. Porém, a quitação tem de ser feita até o quinto dia após a emissão da nota fiscal.
Toma lá dá cá
Até 2021, o IPVA dos carros emplacados em São Paulo podia ser pago em, no máximo, três vezes. Em 2022, é possível quitar o imposto em até cinco parcelas, conforme descrito na tabela abaixo. Segundo a Secretaria de Fazenda de São Paulo, a ideia é amenizar os efeitos negativos da pandemia e da crise econômica. Porém, a taxa de licenciamento aumentou até 44,46%. Em valores absolutos, no caso de veículos usados passou de R$ 98,91, em 2021, para R$ 144,86 em 2022. O valor do seguro DPVAT, por fim, continua zerado.
Com carros mais pelados (leia mais aqui), mais caros e produção longe do normal, a previsão é de que o Brasil feche 2021 com cerca de 300 mil unidades a menos do que foi estimado no início do ano em relação a produção. De acordo com a Anfavea, o ano deve fechar com 2,219 milhões de unidades produzidas – crescimento de 10% em comparação com 2020. Nesse sentido, especialistas apontam que a cadeia produtiva só deve ser normalizada em 2023.