Os SUVs médios estão na “crista da onda”, com vendas crescentes e vários novatos. Desta vez, Jornal do Carro coloca em disputa dois modelos lançados em 2021. O Volkswagen Taos Highline, configuração topo de gama do SUV feito na Argentina, encara o recém-lançado Caoa Chery Tiggo 7 Pro, que chegou em dezembro montado em Anápolis (GO).
Na receita de ambos, ótimo espaço interno, muito volume de porta-malas e visual bastante chamativo. Mas, para colocar um desses SUVs médios na garagem, é necessário ter R$ 200 mil sobrando na conta. Afinal, novos reajustes aconteceram em toda a indústria no início de 2022.
Representando nova geração do Tiggo 7, o modelo não tem opcionais e custa R$ 189.990. Já o Taos Highline parte de R$ 200.640, mas, praxe da Volkswagen, vai a R$ 208.140 com pacotes opcionais. Na prática, o Tiggo 7 Pro tem relação custo/benefício muito agressiva, como é típico da Caoa Chery. Em síntese, ele custa R$ 10.650 a menos e oferta mais conteúdo.
Os recentes reajustes ainda deram um handicap extra ao Taos. Além de ser mais caro, ele perdeu o limite para isenção de IPI – o que pode fazer a diferença na hora de assinar o cheque. A Volkswagen oferece três anos de garantia e financiamento em 50 meses. Mas a Caoa truca a oferta. Dá os mesmos três anos de garantia e concede prazo de até 60 meses. O trunfo da VW em relação ao bolso são as três primeiras revisões na faixa.
GRANDES E CHAMATIVOS
Principal lançamento da Volkswagen de 2021, o Taos é, visualmente, tudo aquilo que o brasileiro sempre buscou no sedã Passat. Visual com grade parruda, músculos laterais, rodas grandes de estilo esportivo e traseira imponente. Mas tudo isso em cores contidas, típico de um modelo para agradar a um público mais conservador. O seu maior arroubo é a última barra da grade frontal, que tem faixa de LED. Ela prolonga os faróis, na nova assinatura da identidade visual da Volkswagen, que chama bastante a atenção.
Já o recém-chegado Caoa Chery Tiggo 7 Pro, substitui o Tiggo 7 TXS, trazendo mais força e mais espaço. O único porém é que, com a mudança, perdeu o motor flex. Visualmente, o Tiggo tem frente que parece mais alta, com grade bem chamativa e futurista sublinhando conjunto óptico principal em LED. As setas são direcionais, como na Audi e Jeep, e a lanterna integral dá seu espetáculo quando acesa. Lembra demais modelos grandalhões americanos.
Nas dimensões, VW Taos tem 4,46 metros de comprimento, com bom entre-eixos de 2,68 m, novamente evocando o Passat. Já o novo Tiggo 7 traz, respectivamente 4,50 m e 2,67 m. Na ponta do lápis, o Tiggo é 4 centímetros maior que o Taos, mas este e 1 cm mais espaçoso. Os dois SUVs médios empatam na largura, com 1,87 m, sem contar espelhos. Enquanto o Taos tem maior vão livre, o Tiggo acaba sendo mais alto no geral, com 1,70 m. Já em termos de capacidade de bagagem, vantagem para o Volkswagen, que carrega 23 litros a mais: 498 contra 475 litros.
CABINE DE ALTO PADRÃO
Os dois SUVs médios convocados aqui são bem equipados de série. Muito parelhos, tanto no conforto, quanto na aparência de luxo e na segurança. Vale prestar atenção ao padrão de acabamento, com superfícies emborrachadas e suaves. Os dois contam telas grandes para central de entretenimento e ajustes do carro, com conexões USB servindo às duas fileiras de bancos.
Seis airbags, controles de estabilidade e tração, auxílio de rampa, ganchos Isofix. Tudo isso é padrão neste segmento, mas o modelo da Caoa Chery leva vantagem por não ter opcionais. Além disso, ele facilita o acesso ao porta-malas, com a tampa automatizada. No Volkswagen, você precisa fazer força para erguer a tampa, o que vai ser péssimo se estiver carregando muitas sacolas.
Além disso a cor da carroceria é paga à parte (R$ 595 a R$ 1.410), se não for a preto Mystic (perolizada). É a única sem custo adicional. Também é um extra o teto panorâmico, por R$ 6.090, no total, esta conta opcional eleva o valor em R$ 7.500. Aqui, lembro de novo que o Tiggo já vem completo de fábrica, em versão única.
Os dois SUVs médios usam LED para iluminar a cabine, com bom efeito ao se rodar à noite. A Caoa Chery, porém, trabalhou com mais arrojo na finalização de seu SUV, que parece ser de um nível superior. Essa impressão se dá tanto na escolha de materiais (emborrachados, couro pespontado e frisos metalizados); quanto na ótima configuração de itens práticos, como o painel de instrumentos, maior no Tiggo, ou o câmbio por joystick.
SEGURANÇA EM AÇÃO
Volkswagen tem um pacote uniforme de segurança ativa em sua gama de produto. E isso não é diferente quando falamos de um modelo de mais de R$ 200 mil – para o bem e para o mal. O Taos tem controle de cruzeiro adaptativo (ACC) com alerta de colisão e frenagem automática dianteiros, que também enxerga pedestres. Além disso, tem um bom sistema de câmera de ré, sensor de ponto cego, detector de fadiga do condutor, retrovisores elétricos, aquecidos e rebatíveis, assistente ativo de estacionamento inclusive para ré e freio de estacionamento elétrico.
Por sua vez, o Tiggo complementa isso com avançado sistema de ponto cego. Ele emite avisos até mesmo aos passageiros, dizendo se eles podem abrir a porta ou não. Há ainda sensor de tráfego e colisão traseiros e o sistema de câmeras opera conjuntamente, formando campo de 360 graus, com emulação da carroceria do SUV, como se você estivesse vendo o próprio veículo num videogame. Parece bobo, mas é muito útil em manobras de garagem.
Novamente, são extras típicos de modelos mais caros, como os da BMW, por exemplo. O que falta a Tiggo e Taos? O assistente de permanência de faixa, algo bastante importante para modelos tão grandes, mas que inexplicavelmente ficam fora da lista. No caso do Tiggo esqueça também a frenagem automática de emergência e o ACC. A empresa promete incluir a partir da próxima atualização de linha, até o final deste ano.
COMO ANDAM
Nesta nova geração, o Tiggo 7 herda a motorização do Tiggo 8. Assim, o motor é só a gasolina, gera 187 cavalos e 28 m.kgf de torque, que substituiu o 1.5 turboflex de 150 cv do Tiggo 7 TXS. A novidade é mais forte que o do Volkswagen, com 37 cv de potência e 2,5 kg de torque de vantagem. Mas também consome mais.
O câmbio de dupla embreagem banhadas a óleo, com sete marchas, garante trocas dinâmicas e baixo ruído do motor em velocidade de cruzeiro. Enquanto isso, o Taos compartilha trem-de-força com um modelo compacto, o T-Cross. O motor de 1.4 litro, turboflex, tem potência de 150 cv e torque de 25,5 mkgf com qualquer combustível.
A aceleração é mais rápida no Tiggo, enquanto a velocidade máxima do VW é maior. Mas o principal ponto para o dia a dia é que o Tiggo parece sempre sobrar, mesmo no modo Eco. O Volks acaba sentindo o peso da carroceria nas acelerações ou retomadas. Além disso, ao se movimentar, mesmo em velocidade de cruzeiro, há um breve, mas presente, intervalo depois da carga sobre o acelerador.
Isso seria contornado com uma caixa de câmbio mais atual, de sete ou mais velocidades e talvez com dupla embreagem, como no rival. Mas a VW mantém o câmbio automático padrão de seis marchas – que não é ruim, mas neste segmento já esperamos mais.
Suspensão, consumo e conclusão
Suspensão independente foi retrabalhada no Tiggo 7 Pro, em relação ao 7 TXS, para agradar mais ao público brasileiro. Com isso, roda macio, mas encara bem curvas mais fechadas, sem assustar, apesar da grande altura total. Ele acaba, também, sendo mais condizente com o asfalto local que o conjunto do Taos, que não é ruim, de novo, mas acaba tendo um perfil um pouco mais solto. Por isso, ele se dá melhor em um ambiente urbano com asfalto bom.
O consumo é uma questão importantíssima, certo? Então vamos aos números. o Tiggo, que só bebe gasolina, tem médias do Inmetro em 9,9/11,7 km/l (urbano/rodoviário). Já o Taos, com o mesmo combustível, tem desempenho um pouco melhor, fazendo 10/12 km/l. Com etanol, seu consumo é de 7/8,5 km/l. Desta forma, apesar do tanque menor (51 a 57 litros), a autonomia é maior no Taos: até 622 litros contra 597 km.
No geral, podemos cravar que Taos e Tiggo são boas opções. O Caoa Chery surpreende nos detalhes do produto, que parece mais atual e mais bem acabado. Já a Volkswagen segue com a força da tradição e rede ampla no Brasil.
A questão para ambos, nessa briga entre os SUVs médios, no entanto, é outra. Concorrer com o todo-poderoso Jeep Compass (mais de 70 mil unidades vendidas em 2021). Além disso, precisam conviver com o Toyota Corolla Cross. Apesar dos deslizes, o japonês vai bem por conta da força e reconhecido bom atendimento da marca (34 mil vendas em 2021).