Muito se fala na tal “invasão chinesa“. Mas, na realidade, não se trata de invasão. As fabricantes estão, apenas, surfando na onda do mercado. Afinal, se a bola da vez é a sustentabilidade e as fabricantes se veem obrigadas a vender produtos cada vez mais “limpos”, a tendência é que surjam novos players e até montadoras que muita gente ainda nem ouviu falar. É o caso da Seres (aliás, pronuncia-se Séres), por exemplo. Porém, o Jornal do Carro já deu umas voltas com o SUV 3, o primeiro modelo da marca vendido no Brasil, que chegou no fim de julho por R$ 240 mil.
Nas ruas, a marca ainda é desconhecida. Vira e mexe tem um ou outro que pergunta: “Que carro é esse?”. Entretanto, apesar disso, a fabricante – que nasceu nos Estados Unidos, mas leva capital chinês e produz carros em conjunto com a fabricante de celulares Huawei -, tem fama no mercado asiático. Inclusive, seu portfólio conta com outros modelos. No entanto, o carro chefe é, de fato, o Seres 3.
Por aqui, a ideia da marca é ousada. Quer que o SUV concorra com modelos do naipe de BYD Yuan Plus, Hyundai Kona e até Volvo EX30, que ainda nem chegou ao País (leia mais), mas já é sucesso de público e crítica. Não vai ser fácil encarar. Basicamente, o novato tem porte de Jeep Compass e companhia. Em medidas, tem 4,39 metros de de comprimento, 1,85 m de largura e 1,65 m de altura. O entre-eixos fica em 2,66 m. O espaço para os ocupantes de trás é bom e, no porta-malas, cabem 318 litros. Pequeno, se comparado aos SUVs médios tradicionais, com cerca de 450 litros de capacidade.
Estilo de SUV convencional
Em estilo, apesar de ostentar um aplique no lugar da grade dianteira que, a primeira vista, mais parece um painel solar, não dá para dizer que, olhando para esse carro, você diga que se trata de um elétrico. Visualmente, não tem nada de diferente em relação a um SUV convencional. Salvo a faixa azul que circunda toda a base da lataria. Afinal, tons como verde e azul dão a ideia de sustentabilidade no mundo dos carros.
Mais sobre o visual
Ainda falando em visual, apesar de decepcionar com iluminação halógena dos faróis, num carro desse preço, o conjunto geral é harmônico. Tem linhas curvas, luzes diurnas DRL e rodas de liga-leve com 18 polegadas em tom escurecido, por exemplo. A equipe de designers quis dar a ideia de teto flutuante, preenchendo a coluna C com um vidro completamente preto.
Na parte de trás, destaque para as lanternas traseiras que parecem, digamos, uma homenagem ao Volkswagen Tiguan. As peças ficam alojadas na tampa do porta-malas (por isso, sobem junto quando o compartimento é aberto). Ademais, têm iluminação por LEDs e setas dinâmicas. No topo, aerofólio. Já na base do para-choque, luzes de ré e refletores.
Autonomia
Neste primeiro contato com o SUV da Seres, notamos, de cara, que há certa controvérsia em relação a autonomia. Enquanto, com carga cheia, o quadro de instrumentos marca cerca de 350 km, o método PBEV indica que o carro roda quase 210 km. Pouco para quem roda no Brasil, mas suficiente para quem percorre trajetos curtos e tem a possibilidade de carregar o carro todos os dia em casa. Por falar nisso, a marca afirma que o pacote de baterias de íons de lítio de 52,7 kWh leva 30 minutos para recarregar (em carregadores de 50 kW) de 20% a 80%. A recarga residencial completa, com carregador de 6,6 kW, leva 8 horas.
Primeiro contato
Quando se dirige carro elétrico, logo se espera um toque de diversão ao volante. Afinal, o torque imediato rende bastante vigor em momentos cruciais, como arrancadas e ultrapassagens. Em números, o motor elétrico (posicionado na dianteira e com potência equivalente a 163 cv) gera 30,6 mkgf de torque. De 0 a 100 km/h, de acordo com a marca, são 8,9 segundos. Não é tão rápido, afinal, o Renault Megane E-Tech realiza o feito em menos de 8 segundos, e tem apenas 75 quilos de diferença.
Seus três modos de condução (Normal, Sport e Eco) são capazes de fazer o carro ficar mais esportivo ou mais econômico. Na prática, é nítido como, em modo eco, ao mesmo tempo em que poupa as baterias, o Seres 3 fica mais moroso em arrancadas. Já em modo esportivo, é cutucar o pé no acelerador e, instantaneamente, grudar as costas no banco. Tudo, com o maior silêncio.
Aliás, ponto para o isolamento acústico. A Seres ficou tão preocupada com isso que até colocou manda sob o capô dianteiro. Desse modo, o máximo de ruído a bordo surge quando o motor elétrico começa a funcionar e, de vez em quando, o atrito dos pneus com o solo. Mas, com os vidros fechados, a cabine fica à prova de ruídos mais expressivos.
Nos dias de test-drive, passamos pelos mais variados tipos de ambiente. Em curvas sinuosas, o SUV não é tão grudado no chão, afinal, trata-se de um carro mais alto, mas nada de fortes inclinações ou sacolejos. No Seres 3, o conjunto de suspensões é agradável. Nada de rigidez extrema, e também longe da moleza. Esses carros chineses, aliás, costumam conseguir essa boa dose de equilíbrio. Agora, um ponto bem ruim é o delay nas trocas de posição do câmbio (botão giratório). Dificilmente tivemos êxito quando precisamos oscilar rapidamente entre as posições Drive e Ré, ou vice-versa, por exemplo.
Cabine simples, mas funcional
A cabine do Seres 3 tem bom acabamento. Mescla revestimentos com couro (bancos e parte do painel), materiais sensíveis ao toque e até piano black e plástico que imita cromado. Portanto, nada demais. Típico daqueles modelos simples, mas bem acabados. Honesto. Em termos de tecnologia, tem duas telas – tanto no quadro de instrumentos quanto na central multimídia. Esta última, apesar de ter gráficos simples, tem comandos bem intuitivos. Nada de delay. E não precisa parar o carro para conectar o bluetooth.
Ainda em itens, tem ar-condicionado digital e automático – as saídas no formato canhão imitam modelos da Mercedes-Benz. O painel tem poucas teclas e, no console central, ficam os botões do freio de estacionamento, das câmeras 360 graus, dos modos de condução e, por fim, do sistema de aquecimento dos bancos dianteiros. Aliás, os assentos da frente têm comandos elétricos. Agora, com tanto modernidade, o Seres 3 tem até acendedor de cigarros. Algo em extinção.
Por fim, seis airbags, assistência de partida em rampas, carregamento de celular sem fio, teto solar (sem comando one touch) controle de subidas e de descida, alerta de saída de faixa e de colisão frontal e controlador de velocidade vêm no pacote. O único opcional é a blindagem (feita pela Armor) que sobe o preço do carro para R$ 320 mil. Tá aí um diferencial.
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