Primeira Classe

Alonso e Hamilton: companheiros de equipe de novo? Será?

Ter os dois pilotos juntos na mesma equipe seria trágico ou espetacular? A chance agora existe

Rafaela Borges

03 de dez, 2016 · 13 minutos de leitura.

Alonso e Hamilton: companheiros de equipe de novo? Será?
Crédito: Ter os dois pilotos juntos na mesma equipe seria trágico ou espetacular? A chance agora existe

O ‘meme’ do dia (Foto: Reprodução)

 

Eu tenho comentado, nos últimos tempos (principalmente após a recuperação impressionante de Hamilton no fim desta temporada de Fórmula 1, chegando bem perto de ser campeão): “Não seria maravilhoso ter Hamilton e Vettel na Mercedes?” Comento isso com amigos e colegas que são quase tão entusiastas da Fórmula 1 quanto eu. E todo mundo sempre respondeu: ideia impossível de acontecer. O Hamilton surtaria. Não tem psicológico para isso.


Todo respeito a Nico Rosberg: ele é campeão com todos os méritos e, sinceramente, o cara para quem torci nesta temporada. Torci por ele porque queria alguém fazendo frente ao Hamilton. Quando uma equipe é tão dominante, nós, que amamos F1, costumamos torcer para que, ao menos, seus dois pilotos possam brigar. E a Mercedes, diferentemente da maioria das equipes, permite essa briga.

Nico fez frente a Lewis em 2014 e 2015. Mas, a gente sabia, vai: no fim, ia dar Hamilton. Parecia um script de filminho bobo: Rosberg estava ali para garantir certa emoção, mas todo mundo sabia o que iria acontecer no final. Oh, se sabia. 2016 foi diferente. Rosberg conseguiu se sobressair usando o único aspecto em que é superior a Hamilton: inteligência emocional. Ganhou. Eu aplaudi.

Mas o fato é que Lewis é mais piloto. Tem a cabeça meio fraca, o menino, mas guia mais. Por isso meu sonho era ver alguém que é tão piloto quanto ele na mesma equipe. Porque a Mercedes é tão, mas tão superior, que não há outra maneira de vermos uma bela competição – claro que isso pode mudar no ano que vem, pois o regulamento terá alterações profundas.


Pois bem: isso era apenas um sonho. Agora, pode se tornar realidade. Como todos já sabem, Nico Rosberg anunciou sua aposentadoria. Ainda estou perplexa. Misto de espanto, admiração e pena. Mas isso é assunto para outra hora (de todo modo, o Jornal do Carro preparou alguns especiais sobre a saída de Nico. Veja aqui outros pilotos que agiram como ele e aqui os mais fantásticos memes sobre o fato).

E se Fernando Alonso fosse contratado pela McLaren? Opa, mas eu tinha falado Sebastian Vettel, não tinha? Sim, mas vamos pensar pelo lado prático. Vettel tem quatro títulos e, aos 29 anos, é o maior campeão em atividade. Está na equipe para a qual sempre sonhou correr e, se seu ano não foi dos melhores, ao menos ele sabe que a Ferrari sempre será competitiva. Em uma mudança total de regulamento, é grande a chance de a escuderia de Maranello se dar bem.

Fernando Alonso, aos 35, tem dois títulos, o último vencido em 2006. Desde então, teve um azar absurdo. Sempre o piloto certo (porque ainda é um dos melhores) na hora ou na equipe errada. Foi vice-campeão várias vezes, e acabou ficando obcecado por um novo título que, ele sabe, tem de vir logo – pela idade, ele está bem próximo da aposentadoria.


Antes do anúncio da aposentadoria precoce de Nico, eu sempre achei que Vettel era mais plausível como um possível companheiro dos sonhos de Lewis, porque o alemão é mais fácil de lidar. Ele é menos vaidoso e egocêntrico que Alonso. Mais capaz de aceitar estar em uma equipe em que não há protagonista, e sim a política do “que vença o melhor”. A Mercedes é esta equipe.

Alonso, não. Alonso quer ser o número um. Exige isso, na verdade. Não aceita quando a situação é diferente. Não aceitou quando a situação era justamente com Hamilton, na McLaren, em 2007. Já Lewis é o meio-termo entre os dois. Está mais para o egocentrismo de Alonso que para o “vamos para a briga” de Vettel, mas, ainda assim, topa uma boa disputa – até porque, na Mercedes, nunca teve outra opção.

Mas o fato é que Vettel está de contrato fechado com a Ferrari e Alonso, com a McLaren. E, pelo panorama mostrado acima, seria muito mais fácil Alonso quebrar seu compromisso do que Vettel (se bem que 2016 está tão surpreendente, para o mal e para o bem, que não duvido de mais nada).


Mas como seria ter Alonso e Hamilton na mesma equipe – se a Mercedes continuar sendo a melhor equipe? Minha humilde opinião: para nós, que amamos uma boa disputa, até um pouco passional, seria fantástico.

Imagine os dois fazendo o máximo para resolver aquela temporada de 2007, na McLaren. Temporada em que registraram o mesmo número de pontos, embora Hamilton tenha terminado na frente por causa de critérios de desempate.

Em 2007, Alonso era o campeão do mundo que chegou à McLaren com todas as pompas. Hamilton, o estreante que o desafiou, e esteve à frente dele durante a maior parte do campeonato. Sem dúvidas, o melhor estreante da história.


Alonso surtou. Não se conformou. Acusou a McLaren de privilegiar o inglês, o que nunca saberemos se é verdade ou não, embora pareça improvável (a McLaren pagava, à época, uma fortuna para o espanhol, infinitamente mais que para o então estreante Hamilton).

Hamilton não recuou, não se intimidou. Fez bonito. Mostrou quem era. Amarelou no final. Amarelou como amarela ainda hoje. Sim, o pior problema de Hamilton, que o impede de ser maior que Alonso e Vettel, é sua fraca inteligência emocional.

Aquela temporada foi uma das melhores dos últimos tempos. Na disputa Nico x Lewis, nos últimos três anos, sempre faltou algo que em Alonso x Hamilton jamais faltaria: sangue nos olhos.


Sinceramente, o espanhol e o inglês novamente na mesma equipe, e em uma equipe que deixa o circo pegar fogo (como a McLaren deixou naquela época), seria o de melhor poderia acontecer à Fórmula 1. Para os fãs.

As brigas entre eles não ocorreriam só na pista. Haveria fatos e declarações fora delas também, para garantir mais emoção, no fim das contas, na hora da disputa. Para angariar torcedores para um e para outro. Certamente, iríamos vibrar, pois teríamos um espetáculo garantido – pelo talento dos pilotos, por suas personalidades fortes e, certamente, por 2007, que ainda deve estar engasgado nas memórias de ambos.

Mas aí vem o lado racional. Os contras de levar Fernando Alonso à Mercedes. O primeiro ponto: em 2007, a McLaren era superior à Ferrari. Hamilton, líder, chegou ao Brasil, etapa final, favorito ao título. Quem podia destruir esse sonho? Seu companheiro, Alonso.


E havia Kimi Raikkonen. C0m chances, mas chances improváveis. Nas corridas anteriores, a McLaren já podia ter garantido o título, mas as descomposturas emocionais de seus dois pilotos, potencializadas por uma rivalidade do mal, quase insuportável, acabaram postergando a decisão.

Resultado: no Brasil deu tudo errado e o título ficou com o cara improvável, Kimi, de Ferrari. A McLaren perdeu o título com um carro melhor. Isso Toto Wolf, o todo-poderoso da Mercedes, jamais aceitaria. Wolf é daqueles caras que, mesmo com os títulos de piloto e equipe garantidos, quer ganhar a corrida.

Eu acho que Wolf não contrataria Alonso. Acho. Alonso iria desestabilizar Hamilton. Sinceramente, não acho que Wolf morra de amores por Hamilton. O inglês é o querido de Niki Lauda, que é dirigente da Mercedes, mas sem poder de decisão – embora tenha, sem dúvida, poder de persuasão.


Mas o inglês é bom. Muito bom. Ganhou dois títulos para a Mercedes. A equipe pode ser um exemplo de espírito esportivo, mas controlar a rivalidade entre Alonso e Hamilton é outra história. Estaria Wolf disposto a pagar para ver, mesmo que pudesse perder o título em uma guerra de egos, como ocorreu na McLaren?

Mais: estaria Wolf pronto a ficar à mercê de Alonso que, dizem, entregou Ron Dennis em um caso de espionagem da Ferrari pela McLaren (o que acabou levando à suspensão do chefão)?

Sinceramente, é bem improvável que a equipe promova um situação tão explosiva quanto Hamilton e Alonso na mesma equipe. Para os fãs seria fantástico, mas F1 é negócio. Ninguém quer perder, muito menos fazer gestão de problemas que podem ser evitados.


O mais provável no lugar e Nico, a esse altura: Pascal Wehrlein.

 

NOTINHAS


– Nico, parabéns pela coragem de conquistar o que quer e sair fora. Ninguém tem esse desprendimento. Mansell o fez, mas só porque “foi saído”. Prost também, trocado por Senna mesmo após o título. Ninguém nunca saiu após um único título porque quis;

– Rubinho se ofereceu para correr pela Mercedes. Claro que é zoeira. Ou, ao menos, esperO que seja. O fato é que virou piada essa história de o Barrichello querer voltar para a F1. E ele entrou na piada. Finalmente. Ponto para o Rubinho. Veja abaixo o que ele publicou em seu Instagram;

Avisa la avisa la avisa la oooo. Avisa la q eu vou

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