A polêmica foi levantada pelo ex-presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo. De acordo com o executivo, o dono da Red Bull, Dietrich Mateschitz, estaria negociando com a Audi para que a montadora alemã entre na Fórmula 1 para substituir a Renault como fornecedora de motores da equipe. E que, se isso não ocorrer, o time dos energéticos pode deixar a principal categoria do automobilismo.
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Há duas questões aí. Em primeiro lugar, se a fonte de Montezemolo – que fez essas declarações, entre outras, ao jornal italiano “la Repubblica” – for quente, acho uma grande precipitação por parte da Red Bull. Independentemente do que disse o ex-dirigente da Ferrari, a equipe anda mesmo desgostosa com a Renault, fazendo declarações públicas contra sua fornecedora de motores.
Daí a trocar seis por meia dúzia, seria uma grande bobagem. Com equipe ou apenas como fornecedora de motores, a Renault tem larga experiência na Fórmula 1 e, com a própria Red Bull, ganhou quatro títulos de piloto e construtor, de 2010 a 2013. Com os novos propulsores V6 turbo, a francesa realmente não está se dando bem.
No entanto, assim como Mercedes e Ferrari, com motores superiores, está na categoria desde o início da nova regra, no ano passado. E, de uma temporada para outra, pode sim vir a desenvolver um grande propulsor.
Diferentemente da Audi, que não tem know-how nenhum em relação aos motores da F1. A marca pode ter carros híbridos no Mundial de Endurance, que domina há anos. Pode ter tecnologias avançadas em seus carros de rua.
Mas isso não quer dizer que vá entrar na Fórmula 1 já com um grande motor. Isso leva tempo. Vide o que está ocorrendo com a Honda, que retornou este ano às atividades na categoria, com grande atraso no desenvolvimento do propulsor em relação à Mercedes, Ferrari e mesmo a Renault.
Assim, é mais provável que a Red Bull volte a obter sucesso a curto prazo – e a equipe parece estar bastante ansiosa – com a Renault do que com a Audi.
A outra questão é em relação à entrada da Audi na Fórmula 1. Os boatos sobre o ingresso da Volkswagen, dona da marca, na categoria, já são antigos. Eu já escrevi um post sobre isso (relembre aqui).
Assim, a afirmação de Montezemolo só reforça algo que parece estar cada vez mais próximo de se tornar um fato.
A entrada da Porsche, que também é do Grupo Volkswagen, no Mundial de Endurance, a principal aposta da Audi no automobilismo, é no mínimo estranha. Para que manter duas marcas da mesma empresa na mesma competição? Não faz sentido.
Assim, é grande a possibilidade de que a entrada da Porsche signifique a breve saída da Audi. Que, neste caso, poderia ser a escolhida pela Volkswagen para representá-la na Fórmula 1.
É bom lembrar que, agora, a categoria está sendo dominada pela Mercedes. Que, junto com a BMW, é a principal rival da Audi.
Outro indício é a contratação, pelo departamento de automobilismo da Audi, de Stefano Domenicali, que recentemente deixou a direção da escuderia Ferrari. O italiano teria sido levado para fazer um estudo de viabilidade sobre a entrada da Audi na F1, de acordo com rumores.
A recente saída de Ferdinand Piëch da presidência do conselho da Volkswagen seria, de acordo com rumores publicados na imprensa europeia, um reforço ao plano da empresa de ingressar na F1. O executivo, neto de Ferdinand Porsche, era contra essa ideia.
Por fim, a afirmação de Montezemolo faz todo sentido. Em reportagem de 2012, apurei com a Renault que a economia da montadora ao deixar de ter equipe própria e se tornar apenas fornecedora de motor foi imensa. Antes, a empresa gastava cerca de US$ 300 milhões por ano, investimento que foi reduzido para US$ 80 milhões.
Faria todo sentido, portanto, a VW/Audi entrar na competição, inicialmente, como fornecedora de motor, associada a uma equipe com grande potencial para a vitória, como a Red Bull. Posteriormente, a empresa poderia considerar ter equipe própria.
Por aqui, aguardamos os próximos capítulos desta novela.
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