Enquanto o mercado geral de veículos passava, em 2015, pela pior crise da década, as marcas de luxo faziam a festa no Brasil. Houve as que que tiveram queda de vendas, como a Land Rover, por exemplo. Ou as que cresceram pouco. Porém, na média, foi um ano muito proveitoso para esse segmento.
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Agora, as coisas parecem estar prestes a mudar. Isso porque há um sinal de que os preços vão aumentar consideravelmente. Aliás, esse reajuste já começou, com a BMW, logo na virada do ano. A ironia? Os preços mais altos vêm justamente quando esses carros passam a ser nacionais, frustrando a expectativa do consumidor, evidentemente (leia mais sobre isso aqui).
Primeiro, é preciso entender o contexto: a alta de vendas de carros premium em 2015 foi impulsionada pela aproximação do preço dos veículos de marcas mais generalistas, como Ford, Toyota, Honda e Hyundai, às tabelas de modelos de Audi, BMW e Mercedes-Benz, por exemplo. Na prática, um Corolla de topo passou a ser apenas um pouco mais em conta que o A3 Sedan.
No caso das marcas de luxo, a redução de preço já vinha ocorrendo desde 2014, parte do processo de preparação para aumentar seus volumes antes do início da fabricação do País. No caso das generalistas, a inflação e o aumento dos custos de produção acabou refletindo em alta de tabela. Some a isso os financiamentos com taxa zero oferecidos pelas marcas premium.
Nesse contexto, o consumidor do Corolla e do ix35, por exemplo, viu a chance de comprar um A3 Sedan ou um Q3. Mas agora, isso vai mudar.
Em 2015, executivos de marcas de luxo já diziam que estavam segurando os preços dos carros, sem repassar a alta do dólar. Importados ou feitos no Brasil, esses veículos estão sujeitos às moedas estrangeiras.
Isso porque, por ora, a maioria é feita no País em CKD – montagem local a partir de peças importadas. E, no ano passado, ninguém reajustou tabela.
OS AUMENTOS CHEGARAM
O ano começou com a seguinte notícia: BMW aumenta os preços de praticamente toda a sua linha no Brasil. Carro-chefe da marca, o Série 3 ficou até R$ 22 mil mais caro. Na versão de entrada, seu preço agora é de R$ 163.950. Bem mais que os R$ 137.600 de um Ford Fusion topo de linha, por exemplo.
A BMW já quase concluiu a primeira fase de nacionalização de seus produtos, que começou no fim de 2013. Foi uma estratégia bastante estranha, aliás. Em vez de optar por dois produtos de segmentos de maior volume, como fizeram Audi, Mercedes e Land Rover, a marca já foi logo produzindo cinco modelos, de categorias distintas.
Todos (Mini Countryman, Série 1, X1, Série 3 e X3) já estão sendo montados em Araquari (SC). E o X4, com preço em torno de R$ 300 mil, também será nacionalizado.
Agora, veio a alta de preço. A Audi, que começou a vender o A3 Sedan nacional no fim do ano passado pelo mesmo preço do antigo (cerca de R$ 100 mil), acaba de atualizar a tabela do modelo. Agora, ele sai por R$ 106.990.
O A3 Sedan tem índice de nacionalização bem superior ao dos BMW. Ainda assim, ele manteve aumento, e agora teve aumento, para “compensar o período em que não se repassou a alta do dólar ao importado”, segundo uma fonte ligada à empresa.
Agora, falta o Q3, que deve vir em meados de 2016. E, nesse primeiro ano completo de produção, a marca tem de responder com bons volumes, para justificar os investimentos no retorno da fabricação em São José dos Pinhais (PR). Ainda assim, na nova tabela da Audi, ele está quase R$ 10 mil mais caro – agora, parte de R$ 136.990.
Desde o início do ano, a marca já vinha aumentando os preços dos modelos importados, que não têm destaque em suas campanhas de marketing, voltada a nacionais.
O A1, por exemplo, teve aumento de cerca de R$ 10 mil na versão de entrada e de R$ 14 mil, aproximadamente, na de topo. Agora, parte de R$ 106.990. O TT começa agora em R$ 230.190. Quando foi lançado, em maio, a tabela inicial era de R$ 209.990.
A Land Rover, que começa a produzir Range Rover Evoque e Discovery Sport em Itatiaia (RJ) a partir deste ano, informou que não pretende fazer altas em seus modelos agora. Porém, nos próximos meses, reajustes podem ser esperados.
Afinal, ontem o dólar ultrapassou a casa dos R$ 4,10. A não ser que a cotação comece a cair, o que não parece ser a realidade deste ou do próximo ano, carro de luxo vai se tornar coisa do passado, de dois anos “incríveis”, para muita gente. Recordes de vendas? Nesse ritmo de reajuste, em breve o mercado premium pode enfrentar uma queda tão íngreme quanto a observada no geral.
Assim, a “lua de mel” entre o brasileiro e os carros de marcas de luxo pode estar com os dias contados, bem como o excelente desempenho em vendas dessas empresas no País. Uma pena: em meio a crise da indústria, era um consolo saber que, pelo menos, mais brasileiros estavam tendo acesso a produtos de qualidade superior.
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