Dizer que peruas e minivans foram as vítimas da invasão dos SUVs já é notícia velha. Isso de fato ocorreu, mas ainda na época em que o mercado só tinha EcoSport e Duster. Porém, os novos SUVs afetaram, e em alguns casos até derrubaram, carros de segmentos bem mais importantes.
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Por causa dos novos SUVs, que chegaram a partir de 2015, o segmento de hatches médios praticamente deixou de existir. Além disso, os sedãs médios também não estão em seus melhores dias.
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Não seria surpresa se, em alguns anos, até os hatches compactos, que ainda integram o principal segmento do País, começassem a perder espaço. Afinal, já tem montadora criando SUV para concorrer com eles. A Renault preparou seu Kwid, afinal, para ser classificado como SUV.
O carro da Renault tem características que o permitem ser chamado de SUV compacto, de acordo com a classificação do Inmetro. E as demais montadoras também investem cada vez mais em versões “SUV” de seus hatches – o próximo a receber uma configuração assim será o Ford Ka.
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Mas o poder de destruição dos SUVs a longo prazo vai ficar para depois. Afinal, meu colega Diego Ortiz, do blog Onboard, já “profetizou”: o mundo que deixaremos para Keith Richards só terá SUVs. E o Corolla.
Aqui, vamos falar dos carros que já foram derrotados pelo novos SUVs ou, ao menos, amplamente afetados.
HATCHES MÉDIOS X NOVOS SUVS
Essa guerra os hatches médios já perderam. Modelos como i30 deixaram o mercado. E os carros que restaram têm volumes muito baixos.
O Brasil tem basicamente aquatro hatches médios: Cruze Sport6, Focus, Golf e 308. Os demais são de marcas de luxo. Desse grupo, o único ainda que tem vendas razoáveis é o Chevrolet. Razoáveis para a pouca representatividade da categoria hoje, é claro.
Em outras palavras, o Cruze vende o dobro dos dois concorrentes. Às vezes, o triplo.
Porém, não dá para se gabar tanto. Afinal, as vendas de Focus e Golf são hoje pouco significativas.
No primeiro trimestre, foram vendidas 815 unidades do Focus e 654 do Golf. O Cruze registrou 1.654 emplacamentos. Os demais (308, V40, A3, Classe A e Série 1) não chegaram aos 150 exemplares comercializados no período.
Para comparação, o décimo colocado no ranking de SUVs compactos, Peugeot 2008, teve mais de 2 mil emplacamentos no primeiro trimestre. O líder geral do segmento de utilitários, o médio Jeep Compass, somou quase 13 mil.
Antes da chegada dos novos SUVs (Compass, HR-V, Creta, Renegade, Kicks e Captur, entre outros), a vida dos hatches era bem mais confortável. Em 2014, o líder era o Focus, que registrou médias mensais de 1.800 unidades por mês. Cruze e Golf tinham em torno de 1.500 emplacamentos.
Até o 308 tinha bom desempenho, comparado ao atual. Enquanto no mês passado ele somou 35 emplacamentos, em 2014 fazia médias mensais de 500. E isso num contexto de crise forte, a qual a indústria automobilística está agora superando.
FUTURO INCERTO
Os hatches foram, assim, as maiores vítimas da invasão dos novos SUVs. Em meu ponto de vista, talvez o Golf tenha sido o mais prejudicado. Trata-se de um dos melhores carros produzidos no Brasil, com motores modernos e econômicos, além de muita tecnologia.
No entanto, é só o terceiro mais vendido de seu segmento. Antigo sonho de consumo do brasileiro, o Golf, assim como os demais hatches médios, tornou-se um carro de nicho, para entusiastas.
Hoje, quem compra Golf, Focus e Cruze é aquele cliente que ama dirigir e gosta de carros baixos. Porém, não dá para investir na nacionalização de carros de nicho, convenhamos. Os volumes são baixos demais e não pagam o investimento.
A Ford não deverá produzir por aqui a recém-apresentada geração do Focus. Fica difícil sonhar também com um novo Golf nacional. Na Europa, ele continua sendo um dos carros mais vendidos.
SEDÃS MÉDIOS X NOVOS SUVS
O Corolla é um “mundo à parte”. O fato de a Toyota não ter SUV compacto ajuda muito o sedã médio mais vendido do Brasil (confira detalhes aqui). Porém, com exceção dele, os demais estão passando por um momento difícil.
Civic e Cruze ainda conseguem fazer um volume considerável. Porém, o Honda perdeu muito espaço após a chegada dos novos SUVs. Em 2014, ele registrava médias mensais de 4.300 emplacamentos por mês. No primeiro trimestre de 2018, não chegou a 1.900.
O sedã da Honda foi muito prejudicado pelo HR-V. Afinal, desde que foi lançado, o companheiro de concessionárias do Civic é o SUV compacto mais vendido do Brasil.
O Cruze perdeu menos: foi de cerca de 2 mil exemplares mensais em 2014 para 1.700 agora. Além de o SUV compacto da Chevrolet (Tracker) não vender tanto quanto o HR-V, o Cruze nunca foi tão bem sucedido quanto o Civic em seu auge.
Os demais sedãs médios foram vão muito mal. O Jetta, neste ano, tem médias mensais de 450 unidades. O Sentra, que em 2014 registrava cerca de 1.200 exemplares vendidos por mês, caiu agora para pouco mais de 300.
As perspectivas para o segmento são apenas um pouco melhores que as dos hatches médios. Não dá para imaginar o Brasil sem a nova geração do Corolla, que ainda nem foi mostrada no exterior, mas em breve será.
O Jetta terá nova geração no Brasil ainda este ano. Porém, não mais produzida localmente, e sim trazida do México. A Citroën acaba de atualizar o C4 Lounge. Já a Renault parece ter desistido dos sedãs médios no País. O Fluence saiu de linha, e não tem substituto.
Enquanto isso, a Volkswagen anunciou que vai lançar cinco SUVs. A Chevrolet também terá novos modelos no segmento e até a Toyota pretende entrar nessa jogada.
A Fiat, que tinha deixado o departamento de SUVs por conta da Jeep (a outra marca do Grupo FCA), também considera ter um utilitário para chamar de seu.
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