Olá, pessoal. Passamos o sábado lá em Interlagos, para os últimos treinos livres e classificatórios. Eu e a repórter do Jornal do Carro Karina Craveiro, que foi participar de um programa de imersão no dia a dia da equipe Red Bull – muito interessante, por sinal… eu participei no ano passado.
Em minhas andanças pelo paddock, pelos camarotes e o pit lane, recolhi algumas informações. Seguem:
– Acho que todo mundo já sabe, mas é preciso ressaltar. Não tem cabimento o barulho do novo motor da Fórmula 1. É ridículo, abafado. Meio aspirador de pó, meio enceradeira. O carro passa na reta e você nem toma conhecimento;
– Questionado sobre essa verdadeira heresia, já que quem vai ao autódromo, acorda cedo, pega fila, enfrenta chuva e sol, quer mesmo é escutar barulho, o presidente da Renault Sport, que produz um dos três motores da Fórmula 1, Cyrill Abiteboul, disse: “Você tem toda razão. Para quem vem ao autódromo, a Fórmula 1 precisa ter barulho.”
– Abiteboul falou, inclusive, que a Renault já trabalha em um barulho mais empolgante para o V6 biturbo com “apêndices” elétricos. “Mas não queremos forçar a barra. É preciso trabalhar alguns parâmetros do motor para que o som seja natural.” E fez questão de lembrar: “Não dá para ignorar a evolução que esses motores representam. Temos a mesma performance de antes (até o ano passado, com os V8) com até 60% de redução de consumo de combustível.”
– A Renault, aliás, hoje fornece motores para quatro equipes, mas no ano que vem, deve ficar com apenas duas, Red Bull e Toro Rosso. A Lotus vai de Mercedes. E a Caterham deve deixar a F-1. Abiteboul não disse que é certo. Mas admitiu que a possibilidade é imensa;
– O executivo falou também que será difícil, no ano que vem, a Renault chegar ao mesmo patamar da Mercedes. Ele chama a atenção para a grande evolução que o propulsor passou desde o início do ano. Tanto que a Red Bull é vice-líder. “Vamos evoluir ainda mais nos próximos seis meses, mas não começaremos o ano no mesmo patamar da Mercedes.”
– Para Abiteboul, a saída de Sebastian Vettel da Red Bull é uma pena, já que o piloto é o maior campeão em atividade. Mas ele acredita que será forte o apelo de marketing de ter os dois mais jovens pilotos do grid: Kvyat, que vai substituir Vettel, e Vestappen, estreante na Toro Rosso;
– O barulho é tão ridiculamente não empolgante que Felipe Massa conseguiu escutar, pela primeira vez, dentro do carro em movimento, os aplausos e gritos da arquibancada a cada vez que ele passava por um trecho do autódromo. Definiu a homenagem como emocionante. Em sei lá quantos anos correndo em Interlagos, ele nunca havia ouvido;
– É impressionante, aliás, o carinho do público em relação a Felipe. É aplauso quando seu carro passa, sai ou estaciona no box da Williams ou ainda quando ele surge, sem capacete, no pit lane. A maioria das pessoas vai a Interlagos para ver Felipe Massa, apesar da fase difícil pela qual ele passa. Barrichello nunca teve este apelo. Pudera: Massa, além de ter ficado muito próximo ao título em 2008, em Interlagos, venceu duas vezes no autódromo. E é também um cara muito gente boa, simpático, de bem com a vida. Tem carisma;
– Por falar em carisma, Sebastian Vettel foi do céu ao inferno neste sábado. Ou do inferno ao céu. Após o fim dos treinos livres da manhã, o geralmente muito simpático piloto saiu do carro sem olhar para o lado nem falar com ninguém. Tirou o capacete, correu em direção ao escritório da Red Bull, logo em frente, e sumiu dentro da sala reservada aos pilotos. A impressão era de que estava sem ambiente na equipe. Fora a cara amarrada;
– Mais tarde, no entanto, após ter conseguido sexta colocação no grid – o que pode ser considerado um bom resultado na atual situação, principalmente porque ficou à frente do companheiro Ricciardo -, ele voltou todo sorridente aos boxes da Red Bull, onde passou cerca de meia hora batendo papo com o surfista Adriano de Souza e um grupo de convidados da equipe, no qual esta que vos bloga fez questão de se infiltrar;
– Ele pediu, implorou, quase falou “pelo amor de Deus”, em português mesmo, por um corrida sob chuva. Olhando para o céu, bastante nublado naquela momento (durante os treinos, não choveu), perguntava aos brasileiros presentes: o que vocês acham? Quase sugeri que ele telefonasse à avó do Barrichello para ter uma opinião mais definitiva, mas me contive. Seria complicado explicar toda a história. E não sei se ele acharia engraçada;
– Sebastian explicou por que quer a chuva. Não é porque se acha um “ás” sob piso molhado: “Não há como negar: a Mercedes é muito superior às demais. A chuva ’embaralha’ um pouco as coisas. É uma oportunidade de as outras equipes terem uma chance contra a Mercedes”, falou. Meio humilde para um tetracampeão, não?
– Para quem ainda não sabe: Vettel anunciou que deixa a Red Bull no fim do ano. Não contou para onde vai, mas o mundo da Fórmula 1 já dá como certo, por diversas razões, seu destino: Ferrari. Loquinho ele, né? Ou não? Ah, é no lugar do Alonso, não do Kimi…
– Outro que estava feliz da vida após a sessão classificatória era Nico Rosberg, que dominou todo o fim de semana e marcou a pole position. Bem humorado, atendeu à imprensa por todo o tempo que esta o requisitou e tirou diversas fotos com fãs no paddock. Ele era só sorrisos. Lewis Hamilton, segundo no grid, estava mais mal humorado. Saiu da sessão de entrevista obrigatória à TV sem olhar para o lado nem falar com ninguém. Não atendeu nenhum fã;
– Acredito que não era pelo resultado. 24 pontos à frente de Nico no campeonato, Hamilton agora só tem de administrar a vantagem. Precisa terminar as duas corridas restantes em uma boa posição, não necessariamente a primeira. E se Abu Dabi, a etapa de encerramento, não valesse o dobro de pontos, teria grande chance de sair de Interlagos com seu segundo título;
– É até engraçado acompanhar um treino nos boxes da Mercedes, com acesso ao rádio e, portanto, às conversas entre pilotos e equipe. No Q1, primeiro saiu Hamilton, depois Rosberg. Quase juntos. Seus respectivos engenheiros davam informações sobre quem estava na pista e em qual posição – ante a deles. Fizeram rapidamente primeiro e segundo tempos, foram chamados de volta aos boxes e lá ficaram, só esperando. Dentro do carro, mas sem grande preocupação. É muito difícil superá-los. É como se a Mercedes estivesse em outra categoria. Estão “sambando na cara da sociedade.” Ah, eles não precisaram mais sair dos boxes, ok? Se garantiram no Q2 com 1-2;
– Enquanto isso, na vice-líder Red Bull, o clima era bem diferente. Os dois pilotos sofreram para conseguir vaga no Q2. A ponto de o sempre sorridente Ricciardo, nos boxes, ficar meio carrancudo. Não está fácil a vida para “o resto”;
– Em tempo: com exceção de 2012, quando a chuva causou muito tumulto, a Red Bull vem vencendo o GP do Brasil desde 2010. Desta vez, é pouco provável que isso ocorra. Só se der tudo errado – leia-se problemas técnicos – com a Mercedes. Ou a chuva vier e conseguir funcionar como um fator de tumulto;
– Pela primeira vez estive no “Premium Paddock Club”, o mais Vip dos camarotes que estão à venda. Ele fica sobre os boxes e o público pode acompanhar todo o trabalho das equipes. O buffet é farto, com bebidas e comidas sofisticadas. Há telões e entretenimento como simuladores de Fórmula 1 e show após o encerramento dos treinos. Mas vale à pena? Vale o que custa? Sei não viu. Para ver o trabalho das equipes, as arquibancadas em frente aos boxes são uma boa pedida. E custam muito, muito menos. Não dá para fazer o pit walk, o passeio pela região dos boxes em horários determinados. Mas dá para ver tudo, ainda que não se tire uma foto diante do carro de algum piloto;
– O pessoal da Fórmula 1 está dando graças a Deus que o paddock vai mudar, ficar maior e mais confortável, no ano que vem. “Vai ser do outro lado (na reta oposta)”, eu disse a uma funcionária da Red Bull. “Isso é uma informação nova. Eu não sabia que seria lá, apenas que mudaria”, ela respondeu, complementando: “É legal aqui, pois há uma interação entre as equipes. Nas outras corridas, com os motor homes, as equipes não ficam tão próximas quanto aqui em Interlagos, não convivem umas com as outras. Mas, apesar disso, é preciso mudar. Este espaço não é suficiente. Precisamos de mais.”
Ok, vocês terão mais espaço a partir de 2015. Mas tomara que a tal convivência continue. É legal. Até amanhã.
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