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Primeira Classe

Ferrari entra em nova ‘era’ nas pistas e fora delas

Enquanto Sebastian Vettel chega para ser primeiro piloto, ex-homem de Marlboro passa a dirigir a equipe e área corporativa da montadora passa por imensa reformulação. Entenda a nova fase da empresa italiana

Rafaela Borges

02 de dez, 2014 · 14 minutos de leitura.

Ferrari entra em nova 'era' nas pistas e fora delas
Crédito: Enquanto Sebastian Vettel chega para ser primeiro piloto, ex-homem de Marlboro passa a dirigir a equipe e área corporativa da montadora passa por imensa reformulação. Entenda a nova fase da empresa italiana

O primeiro teste de Vettel com a Ferrari foi com o carro de 2012 (Fotos: Reprodução)

No último fim de semana, Sebastian Vettel, maior campeão da Fórmula 1 em atividade, foi à Itália fazer sua estreia ao volante de um carro da Ferrari, sua equipe a partir de 2015. O primeiro teste foi o modelo de 2012, com o qual Fernando Alonso liderou boa parte daquele campeonato, mas terminou a temporada, por fim, na segunda posição, após uma emocionante corrida final em Interlagos, na qual o próprio Vettel acabou conquistando o título – seu terceiro, de um total de quatro.

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O evento, na pista privada da Ferrari em Fiorano, foi simbólico. Marcou o início de uma nova “era” para a marca italiana. E não apenas para a escuderia de Fórmula 1. A montadora também está passando por uma grande reformulação.

Sobre a experiência de Vettel ao volante da Ferrari, em primeiro lugar, ele teve de andar no carro de 2012 porque o regulamento atual da Fórmula 1 só permite rodar em modelos de dois anos  – ou mais – atrás.


Ele deu algumas voltas na pista, que estava bastante úmida. Por isso, usou pneus do tipo intermediário. Descreveu a experiência como “mágica”, citando partes de sua infância em que via Schumacher fazer história com o carro vermelho. Confira no vídeo acima.

E AGORA, COMO FICA?

A Ferrari passa, sim, por um jejum, mas não tão grande quanto o enfrentado antes da chegada de Schumacher, em 1996. Afinal, a escuderia foi campeã de 2007 – e antes disso tinha conquistado cinco títulos de pilotos seguidos, de 2000 a 2004, todos com Schumi.


Além disso, a Ferrari foi vice-campeã em 2008 (Massa), 2010, 2012 e 2013, nestas três ocasiões com Alonso. Detalhe: nos três anos citados, não houve outro campeão além de Vettel, sempre com a mesma equipe, a Red Bull. Ou seja: houve um time tão dominante quanto foi a própria Ferrari na primeira parte dos anos 2000 para impedir pelo menos três títulos da escuderia – em 2008, ela foi vítima dos próprios erros.

Sebastian em Fiorano, no último fim de semana

Ainda assim, a fanática torcida italiana não enxerga o panorama desta maneira. Afinal, 2014 foi um ano ruim; a Ferrari conseguiu apenas a quarta posição entre os construtores, atrás de Mercedes, Red Bull e Williams, nesta ordem.

Além disso, para uma equipe que, há dez anos, dominava a Fórmula 1, o segundo lugar não basta. Os fãs, também chamados de “tifosis”, querem mesmo é o título. E despejam em Vettel, que no início da carreira, antes mesmo de conquistar seu primeiro campeonato, já tinha o apelido de “Baby Schumi”, as esperanças.


A associação é inevitável; afinal, Schumacher, um alemão, foi um dos mentores da revolução que encerrou um jejum de 21 anos na Ferrari, levando a equipe a dominar a Fórmula 1 novamente, com a glória de cinco campeonatos seguidos.

Na “era” Schumacher, 72 vezes o mundo da Fórmula 1 escutou o hino da Alemanha, no pódio, celebrando o campeão, seguido do italiano, da equipe, regido pelo piloto. É uma combinação que traz muitas lembranças alegres aos tifosi e à escuderia.

No vídeo abaixo, veja o “maestro” Schumacher regendo o hino italiano e levando os “tifosi” à loucura após vitória no GP de Monza de 2006. Luca di Montezemolo e John Elkann (leia mais sobre eles abaixo) aparecem nas imagens.


Será que Vettel aguenta a pressão desencadeada pela cobrança dos tifosi? Mesmo sendo muito jovem, com 27 anos, o alemão já provou mais de uma vez que sabe lidar muito bem com ela. Tanto na decisão de 2010 quanto na de 2012, ele precisou de muito sangue frio para chegar aos títulos, e não cometeu erros nas horas decisivas.

Além disso, o alemãozinho já deve estar ciente de que não vai chegar à equipe com um baita carro em mãos. A Ferrari precisa de muito trabalho para voltar a andar na frente, e de um piloto para atuar como um dos líderes dessa reestruturação.


Alonso, mais impaciente, não foi esse líder. Vettel, mais novo e já com quatro títulos conquistados – mais do que Schumacher quando ingressou na Ferrari, que tinha dois -, não precisa correr contra o tempo.

Schumacher e Todt: parceria de sucesso

Mas será que é possível esperar um repeteco da história? O mundo sempre muda, impedindo que as histórias sejam escritas da mesma maneira. A Fórmula 1, na era Schumacher, era diferente. Havia mais liberdade e, principalmente, os testes privados para desenvolvimento dos carros da temporada eram liberados, algo que não ocorre hoje.

Schumacher levou gente de sua confiança para a equipe italiana. Vettel, ao menos ao que se sabe, não fará a mesma coisa. Nem mesmo seu engenheiro, Guillaume Rocquelin, foi com ele.


Na época de Schumacher, a Ferrari tinha Rory Byrne, Ross Brawn e Jean Todt. Aí entra o que parece ser o grande problema da Ferrari: a direção. Está, aparentemente, uma bagunça.

Maurizio Arrivabene, novo diretor da Ferrari e ex-homem da Marlboro

Neste ano, Stefano Domenicali caiu fora. Em seu lugar, entrou Marco Mattiacci, que antes atuava na Ferrari dos Estados Unidos. Foi Mattiacci, dizem, quem se desentendeu com Alonso e articulou a transferência de Vettel da Red Bull para a escuderia.

Mas Mattiacci não durou muito no time. No encerramento do campeonato, foi anunciada sua substituição por Maurizio Arrivabene, que trabalhava no marketing da Marlboro – embora a F-1 já não permita propagando de cigarro, a Philip Morris ainda é grande parceira da Ferrari.


NA ÁREA CORPORATIVA

Todas essas trocas, que parecem um tanto confusas, têm a ver com a fase pela qual passa a montadora Ferrari. O ex-chefão da empresa, Luca di Montezemolo, teve sua saída anunciada há alguns meses. Foi revelado que, em seu lugar, ficaria Sergio Marchionne, que é nada mais, nada menos, que presidente da Fiat, da Chrysler, da FCA (Grupo Fiat-Chrysler), etc e tal. Ou seja: é o homem que manda na companhia da qual, ainda, faz parte a Ferrari.

Bernie Ecclostone (esq.) com Marchionne (centro) e Arrivabene

Por que ainda? Porque já foi anunciado que a Ferrari deixará de fazer parte do Grupo FCA. Mas, para quem será vendida? Para o próprio pessoal da Fiat. Vendida, não. Entregue. Apenas 10% das ações da montadora de Maranello serão colocadas no mercado. As outras 90% serão distribuídas entre os acionistas da Fiat.


O que se diz, nos bastidores da indústria, é que a decisão é da família Agnelli, dona da Fiat. Os descendentes do fundador da empresa teriam interesse em concentrar suas atenções na Ferrari, um negócio de nicho, exclusivo e muito lucrativo, deixando os negócios da FCA ainda mais concentrados em Marchionne.

Isso pode significar que a Ferrari terá mais atenção dos Agnelli, família cujo principal representante hoje é John Elkann. Nascido nos Estados Unidos, ele tem 38 anos, é neto de Gianni Agnelli e presidente do conselho da FCA.

John tem um irmão, Lapo, e uma irmã, Ginevra. Ambos, no entanto, demonstram pouco interesse pelo negócio automobilístico – embora Lapo já tenha trabalhado na Fiat.


Jonh Elkann, o neto de Gianni Agnelli, e Sergio Marchionne, o chefão executivo da FCA, ou Fiat-Chrysler

Já li muito por aí “presságios” de que Marchionne vai afundar a equipe de Fórmula 1, uma vez que é um executivo de montadora e não entende nada sobre o esporte, que era a “praia” de Montezemolo. O que eu acho? Pura bobagem.

Para mim, a única coisa óbvia em toda essa bagunça é que Marchionne não ficará à frente da Ferrari. Ele ocupa o comando da companhia de forma interina. Ainda não se sabe o que vai acontecer com a empresa após a saída da FCA, mas, com certeza, o executivo italiano, um dos mais badalados da indústria automobilística, terá assuntos mais urgentes para cuidar no conglomerado automotivo ítalo-americano.

Assim, a temporada de 2015 para a Ferrari pode começar extremamente confusa, ou surpreendentemente positiva. Surpreendente, porque ainda acredito que existe uma “carta na manga”, um segredo não revelado sobre a estrutura da equipe para o próximo campeonato.


Ou porque, apesar de as coisas na F-1 mudarem de maneira lenta, gradual, pode haver sempre uma surpresa, como o Brawn GP em 2009 ou a Williams nesta temporada. Por fim, porque a Ferrari, apesar de tudo o que se fala, não esteve tão ruim assim nos últimos anos. Alonso é um piloto fantástico, mas em alguns momentos teve também um bom carro nas mãos. Ninguém consegue bons resultados com um carro péssimo.

Mas ainda acredito que a reformulação da Ferrari precisará de tempo e paciência. E, pelo menos em relação a dupla de pilotos, a escuderia começa bem. Será a única representada por dois campeões mundiais (além de Vettel, tem Kimi Raikkonen) – desde que não se confirme Alonso e Button na McLaren.

Quanto à área corporativa da montadora, não deve mudar muita coisa, na prática. Afinal, os negócios da Ferrari nunca se misturaram muito com os da Fiat, e os donos, no fim das contas, serão os mesmos.


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