Primeira Classe

Fim do super IPI não vai deixar carros mais baratos

Na prática, nenhum veículo à venda no Brasil recolhe os 30 pontos extras de imposto para importados, conhecido como super IPI

Rafaela Borges

21 de nov, 2017 · 6 minutos de leitura.

Super IPI" >
Super IPI
Crédito: Na prática, imposto aumentaria entre 12% e 15% os preços dos importados (Foto: JF Diorio/Estadão)

O fim do regime Inovar-Auto, previsto para o início ano que vem, deverá marcar o fim da tributação que ficou conhecida como super IPI. Trata-se de um imposto de 30 pontos percentuais extras para modelos importados (mexicanos e feitos no Mercosul são exceções), medida estipulada pelo regime em vigência.

VEJA TAMBÉM

Uma questão recorrente entre leitores, seguidores de redes sociais e consumidores comuns que conheço é sobre os preços dos carros. O fim do super IPI deixará os veículos importados mais baratos? Não deixará.


Então quer dizer que o imposto vai cair, mas as montadoras não vão reduzir os preços de seus produtos? A questão é bem mais complexa.

A realidade é que hoje, no Brasil, nenhum modelo recolhe o super IPI. Esse imposto deixaria os modelos importados entre 12% e 15% mais caros.

Na prática, porém, isso não ocorreu. Em primeiro lugar, todas as montadoras e importadoras sempre tiveram cota mínima de importação sem recolher o IPI extra. Até a Ferrari foi habilitada no Inovar-Auto. Isso significa que mesmo a montadora italiana vende carros no País sem IPI adicional.


Além dessa cota obrigatória para todas as fabricantes e importadoras, o Inovar-Auto permite uma segunda cota. Marcas que cumpram processos industriais estipulados pelo regime ganham cota adicional.

Land Rover, Audi, Mercedes-Benz e BMW, por exemplo, podiam trazer exemplares importados de seus modelos, sem IPI adicional, mesmo antes da nacionalização. Era a tal da cota. Uma vez que se comprometeram a produzir localmente, ganharam esse direito.

Para as marcas de luxo, a estratégia deu certo. Para as de maiores volumes, o Inovar-Auto foi o verdadeiro inferno.


PARA QUEM O SUPER IPI DEU ERRADO

A JAC, por exemplo, está sendo processada pelo governo, que quer a devolução do IPI extra abatido em seus carros desde o início do Inovar-Auto, em 2012.

A empresa chinesa prometeu uma fábrica no Brasil, em Camaçari (BA). A pedra fundamental chegou a ser inaugurada. No entanto, os planos mudaram – e a crise brasileira ajudou a promover essa alteração. Assim, a JAC não cumpriu as regras impostas para ter direito a importar sem o super IPI.


No caso da Kia, o problema foi diferente. A montadora nunca teve planos concretos – ao menos, não anunciados – de ter fábrica por aqui. Assim, tinha de se contentar com a cota obrigatória.

A Kia poderia ter vendido além da cota? Poderia. Porém, os preços dos carros tirariam a competitividade. O mais provável é que a marca não conseguisse vendê-los, e ficasse no prejuízo.

Assim, a Kia reduziu drasticamente sua importação de modelos ao Brasil. Importou a cota isenta.


Agora, com o fim do Inovar-Auto – o regime será substituído pelo Rota 2030 -, a Kia já planeja vender até 20 mil carros no Brasil em 2018. E a SsangYoung, outra “vítima”, acaba de voltar ao País.

Até a associação das montadoras, a Anfavea, já descartou a redução de preços. Os motivos são bem próximos aos mostrados nessa análise.

Portanto, não se iludam. O Rota 2030 e o fim do super IPI trarão vantagens para as montadoras e importadoras. Vantagens que o Inovar-Auto tirou. Para o consumidor? Veremos no futuro quais serão, e se haverá. A redução dos preços dos carros, porém, não será uma delas.


E, para ficar claro: não haverá redução porque não houve aumento. A alta nos preços nos últimos anos foi causada por outros fatores, não o super IPI.

VEJA TAMBÉM: DEZ CARROS ODIADOS PELOS MECÂNICOS

Newsletter Jornal do Carro - Estadão

Receba atualizações, reviews e notícias do diretamente no seu e-mail.

Ao informar meus dados, eu concordo com a Política de privacidade de dados do Estadão e que os dados sejam utilizados para ações de marketing de anunciantes e o Jornal do Carro, conforme os termos de privacidade e proteção de dados.