Primeira Classe

Ford do Brasil dá um tiro no pé

É até difícil de acreditar nesta notícia: Ford atualizou o Fiesta, mas manteve o câmbio Powershift

Rafaela Borges

23 de nov, 2017 · 7 minutos de leitura.

Câmbio Poweshift" >
Câmbio Poweshift
Crédito: Caixa tem problemas que a Ford não estava conseguindo resolver, mas foi mantida no novo Fiesta

É difícil de acreditar: a Ford não se livrou de sua “caixinha de problemas”. O controverso câmbio Powershift, que tanto vem atrapalhando o Fiesta (leia todos os detalhes sobre o carro), continua sendo oferecido na linha 2018.

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O carro feito em São Bernardo do Campo (SP) mudou. Recebeu reestilização e ganhou uma central multimídia mais moderna. A expectativa era de que, como no EcoSport, o câmbio Powershift fosse trocado pelo automático de seis marchas, do Fusion.


E aí, veio a surpresa: nada disso. O câmbio Powershift continua sendo oferecido nas mesmas versões de antes, com motores 1.6 ou 1.0 turbo.

O 1.6, aliás, também não foi substituído pelo novo 1.5, como no EcoSport. Um problema também, mas não tão grave quanto a manutenção do Powershift.

Essa caixa de câmbio, que tem um grave problema de fábrica, “queimou o filme” do Fiesta no mercado. O Jornal do Carro já visitou lojas de usados e é consenso: o Fiesta Powershift é um carro muito difícil de revender.


Assim, parecia óbvio que o modelo, que já foi o mais vendido da Ford, ganhasse a nova caixa. Afinal, sua plataforma é a mesma do EcoSport. Tradicionalmente, o hatch compacto compartilha mecânica com o SUV.

A realidade, que contradiz aquilo que era expectativa, foi como um “soco na cara”. Por que a Ford deu um tiro no pé justamente com aquele que é um de seus modelos mais tradicionais?

Por que não “salvar” mercadologicamente um automóvel que, mesmo já um pouco defasado, sempre se destacou pela qualidade? A decisão da Ford é difícil de explicar. Talvez, seja impossível.


Para não dizer que nada mudou, a Ford abandonou o nome Powershift para identificar o câmbio. Não vai adiantar. Ele é o mesmo, e pronto.

Ah, a marca também informa que trocou alguns componentes internos da caixa, para eliminar os atritos e aumentar sua durabilidade.

HISTÓRIA


A nova geração do Fiesta nacional foi lançada no Brasil em 2013. A versão feita em São Bernardo substitui a mexicana.

Reestilizado e trazendo novos e modernos motores, o carro era destaque por ser um dos primeiros compactos a ter controle eletrônico de estabilidade. Além disso, trazia um câmbio que era considerado moderno.

E, por definição, ele realmente era: um automatizado de duas embreagens, coisa que só se via em carro de luxo e nos caros Volkswagen importados, por exemplo.


O Fiesta logo caiu no gosto do povo. Era o melhor custo-benefício para quem buscava sistemas de segurança ativos. E também passivos.

Ficou popular nas grandes cidades, com demanda cada vez maior por câmbios automáticos, para enfrentar picos de trânsito caótico. Era também a escolha de muitos pais que queriam dar aos jovens filhos um modelo compacto seguro.

O Fiesta foi o Ford mais vendido até a chegada do novo Ka. Além disso, chegou a figurar no “top 5” do ranking de emplacamentos.


Mas aí vieram os problemas com o câmbio Powershift. Há uma falha, reconhecida pela Ford, no módulo da transmissão. Com o tempo de uso, as trocas de marcha ficam mais lentas, pode haver dificuldade na partida e até mesmo perda de potência.

A garantia do componente foi estendida de três para dez anos. As trocas de câmbio se tornaram uma constante, e donos do carro tiveram de enfrentar filas para conseguir o serviço. Em muitos casos, a substituição não foi suficiente. Os defeitos voltaram a aparecer.

A realidade é que a Ford parece não saber reparar a transmissão. E trata-se de um problema global. Em muitos países, pelo mesmo motivo, o câmbio Powershift foi abandonado de vez.


Quando deixou de usar o Powershift no EcoSport, a Ford do Brasil dava sinais de que poderia seguir o mesmo caminho. Não foi o que ocorreu no caso do Fiesta.

Agora, é esperar para ver o que a montadora fará em relação ao Focus. O carro é o terceiro produto da marca a usar essa transmissão.

O Focus, que por muito anos foi o hatch médio mais vendido, também perdeu mercado por causa de problemas com o Powershift. E, quanto aos donos dos três carros com essa transmissão, só resta lamentar na hora da revenda.


Porque, no mercado de usados, é quase um consenso: o câmbio Powershift é um dos maiores micos da Ford nos últimos tempos.

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