É difícil de acreditar: a Ford não se livrou de sua “caixinha de problemas”. O controverso câmbio Powershift, que tanto vem atrapalhando o Fiesta (leia todos os detalhes sobre o carro), continua sendo oferecido na linha 2018.
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O carro feito em São Bernardo do Campo (SP) mudou. Recebeu reestilização e ganhou uma central multimídia mais moderna. A expectativa era de que, como no EcoSport, o câmbio Powershift fosse trocado pelo automático de seis marchas, do Fusion.
E aí, veio a surpresa: nada disso. O câmbio Powershift continua sendo oferecido nas mesmas versões de antes, com motores 1.6 ou 1.0 turbo.
O 1.6, aliás, também não foi substituído pelo novo 1.5, como no EcoSport. Um problema também, mas não tão grave quanto a manutenção do Powershift.
Essa caixa de câmbio, que tem um grave problema de fábrica, “queimou o filme” do Fiesta no mercado. O Jornal do Carro já visitou lojas de usados e é consenso: o Fiesta Powershift é um carro muito difícil de revender.
Assim, parecia óbvio que o modelo, que já foi o mais vendido da Ford, ganhasse a nova caixa. Afinal, sua plataforma é a mesma do EcoSport. Tradicionalmente, o hatch compacto compartilha mecânica com o SUV.
A realidade, que contradiz aquilo que era expectativa, foi como um “soco na cara”. Por que a Ford deu um tiro no pé justamente com aquele que é um de seus modelos mais tradicionais?
Por que não “salvar” mercadologicamente um automóvel que, mesmo já um pouco defasado, sempre se destacou pela qualidade? A decisão da Ford é difícil de explicar. Talvez, seja impossível.
Para não dizer que nada mudou, a Ford abandonou o nome Powershift para identificar o câmbio. Não vai adiantar. Ele é o mesmo, e pronto.
Ah, a marca também informa que trocou alguns componentes internos da caixa, para eliminar os atritos e aumentar sua durabilidade.
HISTÓRIA
A nova geração do Fiesta nacional foi lançada no Brasil em 2013. A versão feita em São Bernardo substitui a mexicana.
Reestilizado e trazendo novos e modernos motores, o carro era destaque por ser um dos primeiros compactos a ter controle eletrônico de estabilidade. Além disso, trazia um câmbio que era considerado moderno.
E, por definição, ele realmente era: um automatizado de duas embreagens, coisa que só se via em carro de luxo e nos caros Volkswagen importados, por exemplo.
O Fiesta logo caiu no gosto do povo. Era o melhor custo-benefício para quem buscava sistemas de segurança ativos. E também passivos.
Ficou popular nas grandes cidades, com demanda cada vez maior por câmbios automáticos, para enfrentar picos de trânsito caótico. Era também a escolha de muitos pais que queriam dar aos jovens filhos um modelo compacto seguro.
O Fiesta foi o Ford mais vendido até a chegada do novo Ka. Além disso, chegou a figurar no “top 5” do ranking de emplacamentos.
Mas aí vieram os problemas com o câmbio Powershift. Há uma falha, reconhecida pela Ford, no módulo da transmissão. Com o tempo de uso, as trocas de marcha ficam mais lentas, pode haver dificuldade na partida e até mesmo perda de potência.
A garantia do componente foi estendida de três para dez anos. As trocas de câmbio se tornaram uma constante, e donos do carro tiveram de enfrentar filas para conseguir o serviço. Em muitos casos, a substituição não foi suficiente. Os defeitos voltaram a aparecer.
A realidade é que a Ford parece não saber reparar a transmissão. E trata-se de um problema global. Em muitos países, pelo mesmo motivo, o câmbio Powershift foi abandonado de vez.
Quando deixou de usar o Powershift no EcoSport, a Ford do Brasil dava sinais de que poderia seguir o mesmo caminho. Não foi o que ocorreu no caso do Fiesta.
Agora, é esperar para ver o que a montadora fará em relação ao Focus. O carro é o terceiro produto da marca a usar essa transmissão.
O Focus, que por muito anos foi o hatch médio mais vendido, também perdeu mercado por causa de problemas com o Powershift. E, quanto aos donos dos três carros com essa transmissão, só resta lamentar na hora da revenda.
Porque, no mercado de usados, é quase um consenso: o câmbio Powershift é um dos maiores micos da Ford nos últimos tempos.
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Ford com câmbio automatizado Powershift
A transmissão de dupla embreagem Powershift deu e dá tantos problemas que está muito longe de ser uma boa opção de compra no mercado de usados, nem levando-se em conta que a Ford estendeu para dez anos a garantia do sistema. A montadora está abandonando esse tipo de câmbio, tanto que o novo EcoSport passou a empregar sistema convencional, com conversor de torque. Além do Eco anterior, o Fiesta e o Focus também utilizam sistema Powershift.
Effa M100
A Effa estreou no Brasil há dez anos, com o M100. Mas o modelo tinha desempenho fraco, acabamento simples demais e pouca estabilidade, além de baixa qualidade. Não durou no mercado, e não tem motivos para ser considerado como opção no mercado de usados.
Fiat com câmbio automatizado
Lojistas evitam pegar modelos da Fiat com câmbio Dualogic, automatizado. Diferentemente do sistema da Ford, o problema dos Fiat não é quebra, mas lentidão nas trocas. A foto é de um Punto, mas poderia ser também do Palio, Stilo, Siena, Linea, etc.
JAC J5
O lojista Álvaro Mari, da Primo's Car, evita veículos chineses em geral em sua loja, na Zona Norte de São Paulo. No caso do J5, há outras razões: o motor 1.5 está subdimensionado para o modelo. E a JAC está paralisando a importação de seus modelos urbanos (J2, J3 e J3 Turin), e o J5 pode entrar na lista. A ideia é concentrar esforços nos SUVs, caso do T40 e T5 e T6.
Citroën DS5
Na loja multimarcas Trans-Am Faraj, na Zona Norte, um reluzente Citroën DS5 já completou um ano no estoque. O motivo pode estar na falta de teto solar, item considerado indispensável nesse tipo de automóvel. Sem ele, o carro vira mico.
Geely EC7
A foto é do sedã EC7, mas poderia ser a do compacto GC2. A Geely teve vida muito curta no País. Chegou em 2014 e partiu em 2016. Sem representação, a assistência técnica (peças e mão-de-obra) torna-se uma incógnita.
Chevrolet Agile com câmbio automatizado
O câmbio automatizado na Chevrolet, batizado de Easytronic, equipou Agile e Meriva, e não deixou saudades. As trocas eram demoradas e feitas com trancos, motivo pelos quais os modelos são evitados pelos lojistas.
Lifan 320
O 320 (a foto é do modelo 2010) era uma cópia de baixíssima qualidade do Mini, que parou de ser importado. Com isso, a desvalorização aumentou muito. Lojistas e seguradoras não querem correr riscos com modelos assim.
Volkswagen com câmbio automatizado
A foto é do Voyage, mas também poderia ser do Fox, do Gol, do Polo... O câmbio automatizado da Volkswagen também não é muito bem visto pelos lojistas, por causa das demoras nas trocas de marcha.
Chery Celer
Os carros da Chery também não escapam da rejeição dos lojistas, a exemplo do que ocorre com outros chineses. É o caso do comerciante Álvaro Mari, da Primo's Car, que evita comprá-los, por saber que a revenda será complicada.
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