Frequentemente, durante os finais de semana de Fórmula 1, o Bernie (Ecclestone, presidente da FOM, detentora dos direitos da categoria), fala sobre algumas ideias para o futuro da competição. A maioria é sem pé nem cabeça, como fazer o dono da pole position largar nas posições de trás. Nada a ver.
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Porém, recentemente, ele deu uma ideia de que eu gostei. Uma categoria só para mulheres.
A maioria das pessoas parece ter sido contra. Inclusive a Susie Wolff, que declarou não gostar da sugestão. O pior é que eu acho que o Bernie deu a ideia justamente por causa dela.
Explico: na etapa de abertura do campeonato, na Austrália, Valtteri Bottas teve fortes dores nas costas e não pôde estar na corrida. Aí, a Williams participou da etapa com um piloto só, Felipe Massa. Por quê? Porque não quis colocar na pista a piloto reserva, que é justamente a Susie Wolff.
A desculpa da equipe: Susie não seria piloto reserva, e sim piloto de testes. Sinceramente, não entendo a diferença.
A verdade é que Susie só está em sua atual posição na Williams por ser esposa de Toto, que, apesar de ser diretor da Mercedes, é acionista da equipe inglesa. Porque, quando competiu de verdade, no DTM, o Campeonato Alemão de Turismo, nunca conseguiu resultados relevantes. Na época, ela ainda atendia pelo nome de solteira, Susie Stoddart.
Aí chegamos a um ponto importante: talvez o problema não seja Susie. Talvez o problema é que as mulheres, de fato, precisam de uma categoria só para elas.
E essa afirmação está longe de ser dotada de preconceito e machismo. Pelo contrário: para mim, há inúmeras mulheres que dirigem, nas ruas, infinitamente melhor que os homens. Mas muito mesmo. Não duvido da capacidade, das habilidades e dos reflexos das mulheres ao volante. Já vi muitas dando show de perícia ao dirigir.
Mas automobilismo é diferente. É esporte. Se fosse só sobre o carro, não teríamos aquelas eternas discussões sobre quem é melhor (Prost ou Senna, Senna ou Schumacher, Alonso ou Vettel).
Dirigir um carro de corrida exige força física. Muita. No braço, no pescoço, até nas pernas. É uma atividade que leva seus praticantes à exaustão. Principalmente a Fórmula 1. Tanto que os pilotos, hoje, são atletas de elite. Eles se submetem a treinamentos aeróbios e de fortalecimento da musculatura para encarar a rotina de duas horas ao volante de um carro de F-1.
Como, então, uma mulher, que é fisicamente mais frágil, poderia ter chances contra um homem no esporte que é o automobilismo? Por acaso elas têm no tênis, no vôlei, na natação? Não! Nestas modalidades, há duas categorias, masculina e feminina.
A história comprova. Entre as poucas mulheres que já se aventuraram na Fórmula 1, a única a marcar pontos foi a italiana Lella Lombardi. Foi no GP da Espanha de 1975, quando ela obteve o sexto lugar.
Fora da F-1, uma exceção é Danica Patrick, que já venceu corrida na Fórmula Indy – no Japão – e obteve pódio na 500 Milhas de Indianápolis, o que não é pouco.
De resto, as mulheres não fizeram nada marcante na história do automobilismo. Mas o mundo mudou. Hoje, elas adoram carros e têm grande poder de decisão na compra do veículo.
A Susie Wolff acha que não haveria interesse em uma categoria feminina. Já eu acho que o interesse seria imenso. Principalmente por parte das próprias mulheres, que certamente ajudariam a alavancar a audiência da categoria.
Talvez pudesse ser algo como as 24 Horas de Le Mans. Na corrida francesa, são várias categorias na mesma prova, mas cada uma tem uma classificação diferente – são quatro pódios ao término da competição. Que tal homens e mulheres correndo juntos na pista, mas com pódios diferentes?
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