Ontem, terça-feira (14), aqui na redação, alguém disse: “Saiu o preço do WR-V. É R$ 79.400.” Na hora, achei que fosse brincadeira, e logo falei: “Não, esse é o preço do HR-V.”
(No Instagram: @primeiraclasse_estadao)
Engano meu. O HR-V custa um pouco mais: parte de R$ 79.900. Essa versão é a LX manual. A LX automática vai a R$ 86.800. Tudo bem que o WR-V mais em conta é o EX automático; no SUV maior, essa configuração, com lista de equipamentos semelhante, mas não igual, sai a R$ 93 mil.
Em versões equivalentes, o WR-V é mesmo mais em conta. E só faltava não ser, né? Ele é menor, tem porta-malas de EcoSport (volume bem semelhante ao de um hatch compacto) e, principalmente, motor 1.5 de 116 cv – ante os 140 cv do 1.8 que equipa o HR-V.
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Em resumo, o WR-V é um Fit anabolizado e com suspensão retrabalhada – além de visual diferente (saiba mais aqui). Daí a surpresa do parágrafo inicial: por que um carro desses sai por R$ 80 mil iniciais? Não tem sentido. Não é possível. Parece piada.
A Honda optou por não ter câmbio manual no WR-V. Além disso, sempre divulga que as versões LX do HR-V não vendem nada (e por isso, não haveria “canibalização”, como é conhecido o fenômeno mercadológico em que um carro da mesma marca rouba clientes de outro). Mas ainda assim, R$ 80 mil é muito para esse carrinho.
O objetivo é brigar com o EcoSport, certo? Pois o EcoSport começa em R$ 68.690. O Ford vai mudar em maio, ficar melhor. Mas não deverá haver grandes revoluções na tabela. Não é praxe da marca – e as versões atuais serão mantidas. A expectativa é de que ele fique na casa dos R$ 70 mil iniciais – que era a faixa estimada para o WR-V, antes do susto de terça-feira.
Então, podemos apostar que o WR-V não vai vender, certo? Que, desta vez, a Honda passou dos limites? Errado, meus caros. O mais provável é o WR-V venda. Venda muito. Como água. Venda toda a produção.
Por quê? Porque a Honda e a Toyota criaram uma reputação no Brasil. E, agora, podem pintar e bordar. Elas cobram o que querem por carros que, definitivamente, não valem o que custam – ao menos, quando o quesito é exclusivamente o produto. Ainda assim, seus automóveis vendem como água.
Eu cheguei a apostar que o novo Civic, com os R$ 125 mil pedidos para a versão que tem, de fato, um motor legal, estaria ameaçado pelo Cruze (leia aqui). Errei. A nova geração do modelo não ameaça o Corolla (e este nem era o objetivo). Porém, está muito à frente do Chevrolet, que, apesar de ter menor variedade na gama, traz custo-benefício bem melhor.
E, agora, vamos à Toyota. O Corolla, caro e defasado, foi o quinto carro mais vendido do Brasil no ano passado. Agora, ele ficou menos defasado. Ganhou ESP, pelo menos. Renovado, o sedã está começando a ser distribuído nas concessionárias.
Hoje, nosso repórter Hairton Ponciano teve acesso aos preços – que seriam divulgados apenas no fim da semana. São R$ 92.440 iniciais, de acordo com concessionários consultados pela reportagem.
A tabela mais alta na versão de topo, no entanto, continua sendo privilégio do Civic. No Corolla, a Toyota pede agora R$ 116 mil, R$ 9 mil a menos que no rival – que, justiça seja feita, ao menos oferece o melhor motor disponível em um carro brasileiro.
Com a alta de R$ 5 mil, em média, o Corolla vai continuar vendendo bem? Vai! Podem apostar que vai. E com grandes chances de se manter no “top 10”.
É só olhar para os outros segmentos. O SW4 é muito mais caro que o único rival direto, o Trailblazer. Ainda assim, massacra o concorrente no mercado. A Hilux, picape média com tabela mais alta, é também a mais vendida.
Até o Etios, inicialmente rejeitado, está começando a fazer um bom volume. E isso mesmo com o fato, inegável, de ser um carro feio, algo que o brasileiro jamais suportou.
Por que Honda e Toyota fazem o que querem no Brasil? Por que perderam o medo (se é que um dia tiveram) de lançar modelos com tabelas assustadoras, sem limites? Porque aí entra uma outra questão: os carros podem até não ser os melhores, mas o consumidor está pagando pelo que não vê no produto.
No caso de Honda e Toyota, o que mais vale é a redução nos custos que vêm depois da compra. A desvalorização dos modelos das duas marcas é, de fato, ridiculamente baixa. E essa história de perder o menor valor possível em um carro é algo que o brasileiro sempre prezou.
Além disso, as duas marcas fazem valer a fama de produzirem carros que não quebram. Na seção “Defenda-se” do Jornal do Carro, e mesmo em nossas redes sociais, são raríssimos os relatos reclamando de problemas nos modelos das japonesas. Mais raras ainda são as “cartas” de queixas contra o serviço nas concessionárias.
Pelo contrário: os relatos de clientes das marcas são, no geral, elogiando os serviços e a facilidade de resolver falhas, quando elas ocorrem. E mesmo com os carros já fora da garantia.
Os clientes de Honda e Toyota não querem sair das respectivas marcas. E a reputação, cada vez melhor, atrai novos consumidores. As japonesas, com isso, conseguiram algo que não é tão comum no Brasil: fazer o comprador pagar pelo que não vê, por algo além dos produtos.
Sim, porque os produtos são bons, mas, em todos os segmentos que atuam, sempre há um melhor. E são mais caros. Sempre. Mas seu cliente paga o preço alto para fugir das dores de cabeça. E para ser respeitado, algo que também não é comum no mercado de carros do Brasil, no qual muitas vezes, muitas mesmo, o consumidor é enganado – até por montadoras de luxo.
Mas, Toyota e Honda, cá entre nós: vocês não acham que estão exagerando um pouco nos preços?
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