Primeira Classe

O maior escândalo da história das montadoras?

Volkswagen enganou não somente o governo americano e seus consumidores, mas também o mundo todo, ao adotar um artifício para que seus carros continuem poluindo

Rafaela Borges

23 de set, 2015 · 8 minutos de leitura.

O maior escândalo da história das montadoras?
Crédito: Volkswagen enganou não somente o governo americano e seus consumidores, mas também o mundo todo, ao adotar um artifício para que seus carros continuem poluindo

 

Acho que dá para dizer que o escândalo envolvendo os softwares colocados em 482 mil carros, produzidos entre 2009 e 2015, para manipular os resultados dos testes de emissão de poluentes nos Estados Unidos, é um dos maiores da história da indústria automobilística. O caso é diferente de outros que envolveram, recentemente ou no passado, companhias como Ford, Toyota e General Motors.

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(No Instagram: @blogprimeiraclasse)

Em escândalos como o da aceleração involuntária dos carros da Toyota, ou no do defeito do sistema de ignição de modelos da GM, houve sim, em algum ponto, tentativa de esconder o problema, ou de “abafar o caso”. Houve, também, perda de vidas de pessoas em decorrência de acidentes causados por essas falhas.

No caso da VW, não há um problema de segurança. Pelo menos, não de maneira ativa, com consequência imediata – é claro que que emissões mais altas consistem em um risco à saúde das pessoas, mas essa é outra história. O que torna esse caso tão escandaloso, tão vil, é o objetivo de trapacear, de burlar a lei…


Voluntariamente, a Volkswagen enganou não somente o governo americano e seus consumidores, mas também toda a humanidade, ao adotar um artifício para que seus carros a diesel emitam mais poluentes que o estipulado por lei.

No caso das outras marcas, os problemas nos veículos apareceu, mas não intencionalmente. Óbvio que não há como justificar as negativas de executivos envolvidos nesses escândalos, ou compensar as vidas perdidas. Porém, não houve intenção; foi culposo. No caso da Volkswagen, o ato foi doloso.

COMO FICA AGORA


Matthias Muller é apoiado pela família Porsche, que tem integrantes no conselho

Martin Winterkorn, que era o presidente da empresa, caiu fora. Em nota, ele, que estava há 11 anos na posição de presidente executivo, ou CEO, da companhia, assume a responsabilidade, mas diz que não tem culpa sobre o ocorrido.

Culpado ou não, ele abandonou o barco, e deixará as consequências para seu sucessor. Abandonar, na verdade, não é bem a palavra. Ele foi convidado, pelo conselho da empresa, a se retirar.

Em um outro comunicado, divulgado pelo conselho da Volkswagen, fica claro que, nos próximos dias, deverá haver mais demissões na alta cúpula. A nota informa que haverá ampla investigação interna para identificar os culpados pela fraude.


A medida pode ser chamada, na verdade, de “limpa”. Ou seja, o ato de afastar os “envolvidos” (executivos que ocupavam cargos de confiança à época da ocorrência escandalosa) e trazer à casa “sangue novo”, prometendo aos clientes que isso não voltará a acontecer.

As demissões vão refletir no Brasil? Acho difícil. Apesar de ser uma das maiores operações da Volkswagen no mundo, dificilmente o escândalo de manipulação aos testes de emissões terá influência na subsidiária local, que na verdade não tem nada a ver com essa história – ao menos em tese.

Presidente da marca Volkswagen, Herbert Diess ajudou a BMW a enfrentar com sucesso a crise mundial

O substituto de Winterkorn, porém, não será “sangue novo”, de acordo com análises e informações das imprensas europeia e americana. Segundo a agência Automotive News, há dois “concorrentes” à vaga.


Um deles é o presidente da Porsche, Matthias Muller, que está à frente de uma das marcas mais lucrativas do Grupo Volkswagen. Ele é o nome apoiado pela família Porsche, que tem integrantes no conselho da Volkswagen.

O outro nome é o Herbert Diess, que, desde julho, está à frente da marca Volkswagen. Ele veio da BMW e, na montadora sediada em Munique, sua gestão foi marcada pela política de corte de custos que ajudou a empresa a sobreviver à mais recente crise mundial.

Seja Muller, Diess ou um terceiro nome, não será nada doce a missão de assumir a presidência executiva da empresa que, recentemente, tirou da Toyota a primeira posição no ranking de vendas mundial.


A companhia será alvo de investigações por parte de diversos governos, além do americano. A Alemanha e a Coreia de Sul  já anunciaram que investigarão não apenas a Volkswagen, mas também todas as demais empresas dos países, para verificar se os carros têm softwares para manipular os testes de emissões.

Além disso, a companhia terá de modificar os motores de todos os carros irregulares. O número de modelos afetados, segundo estimativas, pode chegar a 11 milhões. Isso deverá ocasionar sérios prejuízos ao desempenho e a economia de combustível, o que vai causar descontentamento nos consumidores.

A multa a ser paga pela montadora pela fraude deverá chegar a US$ 18 bilhões, ou R$ 73 bilhões, aproximadamente. Além disso, é inevitável a perda da confiança do consumidor.


Dá para imaginar que, depois desse escândalo, a imagem da Volkswagen sofrerá forte abalo. Principalmente nos Estados Unidos, o que será desastroso, pois a empresa vem investindo pesado no país, inclusive com uma nova fábrica.

A perda da liderança mundial de vendas poderá ser uma das consequências. Levará anos até que a Volkswagen se recupere econômica e moralmente.

 


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