Primeira Classe

O papel de Ayrton Senna na indústria automobilística

Sem as mãos de Ayrton, Audi do Brasil e NSX não seriam o que são, ou foram

Rafaela Borges

21 de mar, 2015 · 13 minutos de leitura.

O papel de Ayrton Senna na indústria automobilística
Crédito: Sem as mãos de Ayrton, Audi do Brasil e NSX não seriam o que são, ou foram

Senna e engenheiro da Honda (Foto: ayrtonsenna.com.br/Reprodução)

Eu não costumo ficar sentimentalista em efemérides sobre a vida e a carreira de Senna. Hoje, minha “timeline” no Facebook e meu “feed” no Instagram foram bombardeados por homenagens ao ídolo brasileiro. Tomei conhecimento de que, se vivo, ele estaria completando, neste 21 de março, 55 anos.

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Ídolo completaria 55 anos neste sábado (Foto: @oficialayrtonsennao)

 

Então, me lembrei de algo que é muito importante em minha vida. Não costumo falar muito sobre isso, porque acho que passado é passado. Senna se foi e a vida, como a Fórmula 1, segue. Mas a realidade é que nem sempre pensei desta maneira.

Eu era uma “viúva” do Senna nos primeiros anos após sua morte. Comecei a acompanhar Fórmula 1 não pela categoria, mas para torcer pelo ídolo brasileiro, ouvir a musiquinha piegas, ver a bandeira do País. Quando ele se foi, tinha 12 anos e sofri pelo ídolo, fiquei inconformada. Mas continuei acompanhando Fórmula 1, chateada com os trunfos de outro, leia-se Michael Schumacher, que eu acreditava que deveriam pertencer a Senna. Pura bobagem, mas fazia sentido na minha cabeça adolescente.


 

Algo bom veio com isso. O luto passou e eu comecei a gostar de verdade da Fórmula 1, admirar a tecnologia dos carros e a audácia e talento dos pilotos. Ironia do destino, Schumacher se tornou meu favorito. E foi a paixão por Fórmula 1 que me fez, no último ano de jornalismo, aceitar um emprego em um site sobre automóveis que tinha editoria de automobilismo.


O que era para ser provisório, porque meu sonho era o jornalismo político, acabou se transformando em minha vida profissional. Logo eu fui para outro site sobre automóveis, mais relevante, hospedado em um grande portal. E, anos depois, vim para o Jornal do Carro. Aprendi a amar o que faço, e isso graças a Senna, que despertou meu entusiasmo pela Fórmula 1, que, apesar de não ser o foco do núcleo em que atuo, continua sendo uma paixão e, felizmente, tem tudo a ver com a indústria automobilística.

Mantido pela família, este é um dos três NSX do piloto (Foto: Sergio Castro/Estadão)

Tanto a ver que, logo descobri, Senna, meu ídolo do passado, teve atuações muito relevantes em dois momentos importantes da indústria e do mercado automobilístico. No Brasil e no mundo. Um deles voltou a ficar em evidência neste ano, com o retorno da Honda à Fórmula 1 e, principalmente, o lançamento da nova geração do NSX. Um carro que é impossível não associar ao tricampeão.

No Salão de Detroit (EUA), em janeiro, quando o carro foi apresentado, a Acura, subsidiária de luxo da Honda (o novo esportivo será vendido sob esta bandeira no mercado norte-americano), mostrou vídeos de Ayrton testando o primeiro NSX na pista. Ele mesmo tinha três exemplares do carro; um deles, que fica aqui no Brasil e é mantido pela família, foi avaliado pelo então repórter do Jornal do Carro Leandro Alvares. O segundo também ficou no País.


E este é outro NSX que o tricampeão tinha

O outro, que ele mantinha em sua casa na região do Algarve, em Portugal, recentemente ressurgiu na Europa e foi colocado à venda em leilão.

A atuação de Senna na história do NSX foi semelhante à de Schumacher em diversos modelos da Ferrari quando atuava pela escuderia italiana. Senna, piloto da McLaren, parceira da Honda, levou o esportivo japonês à pista para dar suas impressões sobre o carro e sugerir ajustes que melhorariam sua dirigibilidade e desempenho, entre outros aspectos.

Senna divulga a chegada da Audi, marca que trouxe ao Brasil (Fotos: Reprodução)

O tricampeão foi um piloto de testes de luxo, e a Honda usou e abusou deste fato para promover o primeiro NSX, que foi apresentado ao mundo no Salão de Chicago de 1989.


Alguns dados sobre o antigo NSX. De acordo com a Honda, ele acelera de 0 a 100 km/h em 5,6 segundos e atinge 270 km/h de velocidade máxima. E uma curiosidade sobre a nova geração do modelo: também conforme a montadora, apesar de o carro ter sido desenvolvido essencialmente nos EUA, ele teve participação de engenheiros japoneses que trabalharam junto com Senna na concepção do primeiro modelo.

Nesta foto e na imagem abaixo, o jornalista Eduardo Pincigher (o primeiro à direita), que participou de ação de lançamento da Audi em Interlagos, com Senna (Foto: Claudio Larangeira)

 

A outra relação de Ayrton Senna com a indústria automobilística tem a ver com a Audi. Foi o tricampeão que trouxe a marca ao Brasil. Jornalistas com quem convivo hoje, entre eles Eduardo Pincigher, que atualmente é assessor de imprensa de uma importadora de veículos, mas na época era repórter de uma revista, contam histórias sobre isso.


(Foto: Claudio Larangeira)

Pincigher esteve em Interlagos cerca de dois meses antes da morte de Ayrton para que o piloto apresentasse à revista a o S4, um dos primeiros Audi do Brasil. Fazia parte da estratégia de lançamento da marca, da qual Senna seria o importador.

Aqui, cabe um parêntese: quando Senna morreu, em 1º de maio de 1994, ele já tinha 34 anos. As pessoas querem acreditar que, se tivesse sobrevivido ao acidente, o tricampeão ganharia diversos outros títulos e seria o maior da história não apenas na opinião alheia, mas também nos números.

Dificilmente, Senna alcançaria Juan Manuel Fangio, que então era o maior detentor de títulos – e depois foi superado por Schumacher. Isso porque, aos 34 anos, ele já estava bem próximo da aposentadoria. Um dos mais longevos pilotos da F1, Barrichello deixou a categoria por volta dos 40. Schumacher, que havia se retirado aos 36 – idade média da aposentadoria na F1 -, voltou depois e ficou até os 42. Ambos são exceções.


Por isso, aos 34, Senna já planejava se tornar um empresário ligado ao mundo do automóvel, preparado para o iminente fim de sua carreira. A Audi era a principal jogada nesse sentido.

Adriane Galisteu, a última namorada (Foto: Reuters)

Voltando a março de 1994 em  Interlagos, naquela ocasião Senna guiou o carro com Pincigher de passageiro e lhe concedeu entrevista. Depois disso, foi a vez de os próprios jornalistas dirigirem o S4.

O piloto também chegou a fazer a festa de lançamento da Audi no Brasil, em São Paulo. Foi uma das primeiras aparições de Senna com a última namorada, Adriane Galisteu, com quem ainda estava quando morreu em Imola, na Itália.


Ele, porém, nunca chegou a atuar diretamente na montadora. Com sua morte, quem assumiu as operações foi o irmão, Leonardo Senna, que teve muito sucesso no desenvolvimento da marca no País. A Audi era desconhecida por aqui e chegava com uma missão muito difícil: ser rival das poderosas BMW e Mercedes-Benz.

Com a morte de Ayrton, seu irmão, Leonardo, assumiu a operação da Audi no Brasil (Foto: Rafael Arbex/Estadão)

 

Com a produção do A3 no País, a partir do fim dos anos 90, a Audi conseguiu, em vendas, ser muito mais relevante que as duas concorrentes. A fábrica, em São José dos Pinhais (PR), era coordenada pela matriz da Audi e ficava no mesmo complexo da planta da Volkswagen, a dona da montadora.


Leonardo encerrou sua parceria com a Audi em 2005, quando, com o fim da produção local do A3, a empresa se tornou importadora e 100% da operação foram assumidos pela matriz.

Depois disso, vieram tempos difíceis, mas recentemente a montadora passou a fazer frente no mercado, novamente, à BMW e à Mercedes. Inclusive, voltará a produzir na fábrica do Paraná. Em meados deste ano, o A3 Sedan começa a ser feito por lá.

Um dos primeiros Audi trazidos ao Brasil, a perua S4 Avant de Senna também está na garagem da família (Foto: Cláudio Teixeira/Estadão)

 


E é isso. Nem o NSX nem a Audi do Brasil teriam sido o que são, ou foram, sem as mãos de Ayrton Senna. Então, neste aniversário, esta é minha homenagem ao ídolo.

 

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