Quem esteve no Autódromo de Interlagos no último domingo deve ter saído de lá bem chateado. Principalmente os que já haviam assistido in loco uma corrida de Fórmula 1 anteriormente. Agora, dá para conversar nas arquibancadas e até dentro dos boxes. Um absurdo.
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O som ficou baixo, abafado, meio enceradeira, meio aspirador de pó. Cadê aquele barulho arrepiante do carro rasgando na pista? Felipe Massa, pela primeira vez, conseguiu escutar a multidão gritando seu nome dentro do próprio carro. Tem cabimento.
Em março, logo após a estreia da temporada de 2014, preparei uma reportagem explicando por que o som dos motores da Fórmula 1 ficou tão chato, baixo, sem graça. Para quem gosta de tecnologia, confira abaixo:
Antes, o barulho era de rock and roll. Agora, está mais para uma baladinha romântica, dessas que a gente escuta para tentar pegar no sono. O som dos motores V6 de 1,6 litro, que substituíram os 2.4 V8 na Fórmula 1, não está empolgando os fãs da categoria. Em fóruns sobre automobilismo e redes sociais, só se leem reclamações. Atual campeão mundial, Sebastian Vettel chegou a usar uma palavra de baixo calão para definir a “melodia”. Mas por que o novo propulsor soa tão diferente?
O volume do som não tem nada a ver com a redução do tamanho e do número de cilindros. Isso influencia na forma como os motores soam, não na intensidade”, diz o engenheiro da JL Racing Products, que constrói os modelos da Stock Car, Gustavo Letho Gomes. “O V6 tem som diferente do V8 porque há menos peças (no caso, cilindros) envolvidas em uma rotação”, explica.
De acordo com ele, 90% da responsabilidade pela redução da intensidade do ruído do motor é da turbina, novidade para este ano. “Ela interfere na velocidade de saída dos gases do motor, que é menor”, diz Gomes. Isso faz com que o ruído fique bem mais baixo que o de propulsores aspirados, como os V8 usados até 2013.
Além disso, agora há o sistema ERS, que conecta o turbo ao Kers para recuperar energia a partir da turbina. “Esse dispositivo ajuda a abafar o som do propulsor. Ele não existia há cerca de 25 anos, quando também eram usados os turbos.”
Nas desacelerações, chama a atenção o barulho que lembra um assobio e é típico de picapes com motor turbodiesel, por exemplo. Isso ocorre porque, nas reduções de marcha, o freio-motor entra em ação, desacelerando o propulsor, processo que gera turbulência dentro da turbina, que está em rotação bem mais alta.
O ponto positivo dessa mudança é que agora é possível ouvir, por meio da transmissão da TV, barulhos antes só conhecidos por quem já assistiu a uma corrida de Fórmula 1 na pista, como o dos pneus derrapando em frenagens e curvas.
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