Primeira Classe

Quando o que importa é a disputa entre montadoras

Seis Horas de São Paulo foi marcada por título da Toyota, primeira vitória da Porsche após retorno e horrível acidente de Webber, que felizmente passa bem

Rafaela Borges

30 de nov, 2014 · 9 minutos de leitura.

Quando o que importa é a disputa entre montadoras
Crédito: Seis Horas de São Paulo foi marcada por título da Toyota, primeira vitória da Porsche após retorno e horrível acidente de Webber, que felizmente passa bem

Porsche de Webber após o acidente

 

Há dois anos, pela primeira vez uma etapa do Campeonato Mundial de Endurance (WEC), a 6 Horas de São Paulo, ocorria no Brasil. Eram os carros de Le Mans, “ao vivo e a cores”, no velho e bom Autódromo de Interlagos. Acompanhei aquela corrida “in loco” e pude ver a história sendo escrita: em seu primeiro ano de WEC, a Toyota vencia, naquela etapa, pela primeira de muitas vezes.


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Hoje, em Interlagos, na terceira edição da 6 Horas de SP – e também última etapa da WEC do ano -, a Toyota voltou a consolidar uma conquista: apesar de não ter vencido a edição 2014 da mítica 24 Horas de Le Mans (o primeiro lugar ficou com a Audi), a montadora japonesa conquistou seu primeiro título de construtores – o de pilotos já havia sido confirmado na etapa anterior.


Teve mais: estreante no WEC – ou reestreante, porque já competiu na categoria e é, inclusive, a maior vencedora da 24 Horas de Le Mans -, a Porsche repetiu o feito da Toyota em 2012 e venceu a prova de Interlagos, sua primeira vitória nesta nova fase de WEC.

Subiram ao primeiro lugar do pódio os pilotos do carro de número 14, Romain Dumas, Neel Jani e Marc Lieb. O segundo lugar ficou com o Toyota de Anthony Davidson e Sebastien Buemi (os campeões de 2014), seguidos pelos Audi de Tom Kristensen, que hoje fez a última corrida de sua carreira, Lucas Di Grassi e Loic Duval.

Assim, foram as três grandes montadoras que participam do WEC ocupando os três primeiros lugares do pódio. Mais: nas três etapas realizadas no Brasil, cada uma foi vencida por uma fabricante (a Audi ficou com a vitória em 2013).


E isso que é o grande barato do WEC: a briga entre marcas. É certo que a categoria vem atraindo pilotos renomados, a exemplo de Mark Webber, que já lutou por título da Fórmula 1 (em 2010) e, este ano, assumiu o volante do protótipo de número 20 da Porsche. A nota chata do dia, aliás, ficou por conta do australiano. Duas vezes vencedor da corrida de F-1 em Interlagos, Webber sofreu grave acidente após choque de seu protótipo contra uma Ferrari da categoria LMGT Am (veja o vídeo acima). Apesar de o carro ter ficado bastante destruído, com princípio de incêndio, e o piloto ter sido transportado ao centro médico de maca, ele está absolutamente fora de perigo. Vai passar a noite no hospital apenas em observação.

Voltando: além de Webber, está confirmado no ano que vem, guiando o segundo carro da Porsche, Nico Hulkenberg, o alemão da Force India. Como este protótipo vai correr somente em Le Mans e na Bélgica, “Hulk”, já confirmado na mesma equipe para 2015, poderá conciliar WEC com Fórmula 1.

Mais: rumores bem fortes apontam que o segundo piloto deste carro da Porsche poderia ser nada mais nada menos que Fernando Alonso. O espanhol andou “visitando” corridas do WEC, já foi flagrado “pagando pau” para o protótipo de Le Mans da Audi e não esconde de ninguém que gostaria correr no campeonato de endurance.


Teve disputa boa entre Toyota e Porsche quase até o fim

Daí a conciliar sua vida na Fórmula 1 no ano que vem – ele deve correr pela McLaren – com duas etapas do WEC? Será? A conferir.

Mas, no WEC, o importante não será Alonso, nem “Hulk”, nem é Webber, muito menos Di Grassi, único brasileiro na categoria principal do campeonato, a LMP1. O importante é Toyota, Audi, Porsche e, a partir do ano que vem, Nissan. A marca japonesa passará a fazer parte da categoria LMP1.

Já em 2015, está confirmada a entrada de uma terceira montadora. Já andaram dizendo por aí que seria a Ford, que fez bonito nas pistas de Le Mans em outro tempos – um filme sobre o tema, inclusive, está sendo produzido. Tem o nome de “Go Like Hell” (ainda sem título em português) e Tom Cruise no evento.


A grande briga da Ford, liderada por Caroll Shelby, em Le Mans, foi contra a Ferrari. A italiana, por sua vez, é outra cotada para retornar ao WEC – protótipos da LMP1 da marca italiana vêm sendo flagrados na Europa.

A Ferrari, além da Ford, teve uma bela rivalidade com a Porsche. Tema de outro filme, dos anos 70, “As 24 Horas de Le Mans”, com Steve McQueen.

Na corrida de 24 horas, ou na de São Paulo, ninguém diz “quem vai ganhar é o Webber, o Kristensen, o Di Grassi”. Todos afirmam: “eu estou torcendo para a Audi, a Porsche, a Toyota”.


Pódio: Porsche venceu a primeira após retorno ao WEC

É montadora contra montadora, desenvolvendo tecnologia e levando-a para a pista, tentando construir não apenas o carro mais rápido, mas também o mais confiável, já que as corridas são longas. Tanto que este ano a Audi, mesmo com seu R18 de motor V6 a diesel mais lento que o protótipo Toyota, que usa um V8 a gasolina, venceu Le Mans.

E a Porsche conseguiu tirar extrema potência para chegar à alta velocidade com seu conjunto mecânico, que tem como principal fonte um propulsor de quatro cilindros em V. Todos são acompanhados por propulsores elétricos, em um sistema que privilegia, também, a sustentabilidade.

Para registro: neste ano, após duas edições de baixo público, Interlagos ficou, finalmente, “lotado” para a 6 Horas de São Paulo. E diversão para quem esteve lá não faltou. Houve parque de diversão, show da esquadrilha da fumaça, visitação aos boxes para todos. O mais legal mesmo, porém, foi a ótima corrida que rolou na pista. Foi a briga, até a quase a última volta, entre as marcas que produzem também os carros que você dirige.


 

Guiando carro número 1, Kristensen fez sua última corrida

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