O que é um SUV? Traduzindo ao pé da letra, é a sigla, em inglês, para veículo utilitário esportivo. Mas dá mesmo para aplicar o conceito de utilitário em modelos como HR-V, Creta e cia?
Nós achamos que não dá. Alguns anos atrás, quando se pensava em um veículo utilitário, qual imagem surgia em sua cabeça? Provavelmente a de um carro grande, alto, percorrendo trilhas e transpondo os mais absurdos obstáculos off-road.
Um Land Rover. Isso sim era um utilitário. Ou um utilitário-esportivo.
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Há alguns anos, utilitário-esportivo precisava ter tração 4x4. De preferência, com reduzida. O Creta e o HR-V não têm esses sistemas. Nem o Kicks, nem o Tracker, nem o 2008.
Aliás, esses carros não têm nem mesmo suspensão traseira independente. Esse item não é primordial para para um carro ser utilitário, mas é importante. Esse item tem a ver com conforto, mas também com robustez.
E esse é o ponto crucial desta análise. Para ser utilitário, precisa ser robusto. E para ser SUV?
Mas SUV e utilitário não são a mesma coisa? Teoricamente, sim. Na prática, é como se os dois conceitos tivessem se afastando. É que, nos últimos anos, houve uma grande banalização do conceito de SUV.
O início. O EcoSport, o utilitário compacto pioneiro, sempre fez valer sua denominação de SUV. Ao menos, ele tinha uma versão 4x4. Sua robustez é contestável, mas ele tinha meios para tentar ser robusto.
Então, veio o Duster. Também com versão 4x4. Em seguida, após algumas tentativas chinesas (como o Chery Tiggo), foi a vez da dupla Renegade/HR-V.
O primeiro, da Jeep, é, entre os compactos, o utilitário de verdade. Tem tração 4x4, tem suspensões independentes. Tem até versão a diesel.
O HR-V? Não. O Honda pode ser tudo, menos robusto. Pode-se dizer que foi ele que deu origem ao conceito de utilitários urbanos.
Para que tração 4x4 e qualquer atributo que auxilie na capacidade off-road? As pesquisas indicavam que o cliente de utilitários, na verdade, usam esses carros na cidade.
E a Honda tinha razão. Tanto que o HR-V logo se tornou o modelo mais vendido do segmento. Depois dele, vieram 2008, Creta, Kicks, Captur e uma versão renovada do Tracker.
Mas, agora, a banalização do conceito de utilitário chegou ao ápice. Primeiro, com o WR-V, que é algo como um CrossFox da Honda - só que baseado no Fit, não no Fox.
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E, agora, o Kwid está a caminho. O Kwid, que é rival do Up! e do Mobi. O Kwid, que, excluindo alguns chineses com pouca relevância no mercado, será o carro mais barato do Brasil (a partir de R$ 29.990).
E sabe como a Renault vai posicionar o Kwid? Como um SUV. Sim, é isso mesmo que você leu.
Mas ele não é um hatch? Aparentemente, ele é sim. Porém, a Honda tem o direito de posicioná-lo como um SUV, porque, na verdade, ele é. E o WR-V também.
Classificação. Como isso é possível? É possível porque o Inmetro os classifica assim. De acordo com o instituto, para ser veículo utilitário esportivo, um carro tem de cumprir dois atributos, num universo de três.
Os atributos são ter altura ante o solo mínima de 18 centímetros, ângulo de entrada não inferior a 24° e de saída de 19° ou mais.
Kwid e WR-V cumprem esses requisitos. Portanto, e é o Inmetro que está dizendo, eles são SUVs de verdade.
Nós não estamos aqui para contestar a classificação do Inmetro. Não somos nós que classificamos os carros.
O que está em debate é uma banalização de conceito. Com as regras do Inmetro, não é preciso mais ser robusto para ser utilitário. É preciso apenas ser alto.
E, sendo assim, todos agora querem - e a maioria pode - ser um SUV. Isso porque o segmento é o que mais cresce no mercado brasileiro, tanto em vendas quanto em número de lançamentos.
O consumidor está ávido por utilitários. O Kwid, assim, chega com uma campanha de marketing que é uma fórmula garantida de sucesso: ele é o SUV barato.
Para finalizar, desde 2015, a Anfavea, associação das montadoras, deixou de classificar os SUVs como comerciais leves. Agora, eles são carros de passeio.
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