Primeira Classe

Toyota, finalmente, entra no time das ‘quatro grandes’ montadoras

Etios, Corolla e a crise econômica fizeram a marca entrar no clube das maiores montadoras do Brasil

Rafaela Borges

04 de ago, 2016 · 9 minutos de leitura.

Toyota, finalmente, entra no time das 'quatro grandes' montadoras
Crédito: Etios, Corolla e a crise econômica fizeram a marca entrar no clube das maiores montadoras do Brasil

Etios: lição de como passar do fracasso ao sucesso sem uma grande revolução (Foto: Felipe Rau/Estadão)

 

Quatro grandes: Volkswagen, Chevrolet, Fiat e Ford. Com alterações na ordem de importância (leia-se vendas), ano a ano, década a década, essas quatro montadoras foram consideradas “as quatro grandes”. Primeiro porque, evidentemente, só existiam elas. Depois, veio a abertura das importações, no governo Collor, e, entre o fim dos anos 90 e o início dos 2000, as chamadas “new comers” (como ficaram conhecidas as novas fabricantes francesas e japonesas).

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Pois bem: as “new comers” vieram, abalaram as estruturas das quatro grandes e as levaram a perder participação de mercado (principalmente a Volkswagen, que, até então, era líder). Mas as quatro grandes continuaram quatro grandes, com esporádicas mudanças no posicionamento do ranking de vendas. Por anos e anos, a Fiat liderou, a VW e a GM se alternaram na segunda posição, a Ford quase sempre se manteve em quarto.

Então, veio a crise econômica brasileira, que agora já se estende por quase dois anos. Crise essa que atingiu em cheio o setor automobilístico. Resultado: o ranking das marcas que mais vendem carros virou uma corrida maluca. E, em julho, a Toyota realizou um antigo sonho: entrou para o time das quatro grandes.


Voltemos, então, a 2005: naquela época, a Toyota já anunciava que pretendia conquistar 10% do mercado brasileiro até 2010. Para isso, produziria, no Brasil, um carro de grande volume. A aposta, à época, era o Yaris.

10% é um número que colocaria a Toyota, se não entre as quatro grandes, pelo menos no quinto lugar, brigando diretamente com a Ford.

O tempo passou e a Toyota percebeu que o Yaris jamais seria um carro com volume suficiente para conquistar os 10% planejados. O Yaris é rival do Honda Fit. O Honda Fit é caro, não concorre com carros de entrada.


Aí a Toyota apostou na linha Etios, hatch e sedã, e ergueu até nova fábrica, exclusiva para a gama. Errou feio. O carro, de origem indiana, é feio. Mas a Toyota achou que tudo bem, porque a credibilidade da marca no Brasil é tão grande que o brasileiro não se importaria com aparência. Compraria a essência: um Toyota de entrada, barato em relação aos concorrentes, com boa mecânica e o consagrado pós-venda da marca, que desperta encantamento em seus clientes.

Errou. O brasileiro gosta de carro bonito. E nem a credibilidade da Toyota foi suficiente para encantar o consumidor.

Lançado em 2012, o Etios teve vendas pífias desde então. Até agora. Isso porque a Toyota foi resolvendo outras falhas do carro. Além de feio, ele tinha soluções jurássicas: ausência de retrovisores externos elétricos, painel de instrumentos tosco e até abertura da porta por meio de chave no miolo.


Quatro anos depois, o visual controverso permanece, mas as demais falhas foram resolvidas – ou, ao menos, amenizadas. Além disso, quatro anos é tempo suficiente para ganhar boa fama. Isso porque os poucos que compraram o Etios não querem sair do Etios – a não ser os consumidores que evoluíram financeiramente e passaram a ser clientes de Corolla.

Os clientes do Etios experimentaram o pós-venda da Toyota – e gostaram. Além disso, desde os primórdios, mecanicamente o modelo é excelente. Por fim, junto com as mudanças que o tiraram da “era jurássica”, veio também o câmbio automático.

A Toyota acertou na estratégia. Em vez de fazer como as outras marcas, que colocam as transmissões automáticas só em versões de topo, a japonesa a oferece em todas as versões do Etios. Com isso, ele tornou-se o modelo sem pedal de embreagem mais barato do Brasil, a partir de R$ 47.770.


Com essas mudanças, a resposta em vendas foi imediata. Desde o segundo trimestre, o Etios vem escalando o ranking e, em julho, o hatch ficou na décima segunda posição entre os mais vendidos do Brasil. O sedã também está no “top 20”.

E, assim, a Toyota virou uma das quatro grandes. Em julho, teve 16.855 unidades vendidas, atrás de Chevrolet, Fiat e Volkswagen, respectivamente.

No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, a Toyota é quinta, cerca de 10 mil unidades atrás da Hyundai – e seu bem sucedido HB20. Aqui, vale dizer: a Ford, que tem uma linha excelente, mas sempre “derrapou” no marketing, já perdeu há alguns meses o status de integrante do grupo das quatro grandes, no contexto da corrida maluca do ranking da indústria automobilística.


É claro que a Toyota no clube das quatro grandes não é mérito só do Etios. O “Corollão”, que eu não acho um bom carro, mas o consumidor acha (e isso já foi assunto em outro post), está sambando na cara da concorrência.

Além de vender mais que todos os outros sedãs médios juntos, o Corolla está há meses e meses na lista dos dez carros mais emplacados do País. Reflexo da crise: os clientes do segmento de entrada enfrentam a realidade da redução de seu poder aquisitivo e da dificuldade de conseguir financiamentos com taxas baixas e prestações que cabem no bolso.

Assim, os carros mais baratos do País estão perdendo espaço no ranking, possibilitando o crescimento na participação de mercado de modelos mais caros, como o Corolla.


A Toyota foi, em julho, a marca certa no contexto certo. E entrou no clube das quatro grandes. Mas, será que ela se mantém?

Minha aposta: sim. O crescimento do Etios tem sido progressivo. É possível que, no próximo mês, ele entre no “top 10” do ranking de vendas. Além disso, a nova geração do Civic, que poderia ser uma grande ameaça ao Corolla, chegará ao mercado cara demais (veja aqui).

Façam suas apostas: a Toyota vai se consolidar no grupo das quatro grandes?


 

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Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”