Primeira Classe

Volkswagen e Renault a um passo de terem equipe própria na F1

Marca francesa já teria fechado compra da Lotus, segundo rumores; a alemã deverá adquirir nada menos que a poderosa Red Bull. Veja detalhes dessas histórias

Rafaela Borges

19 de set, 2015 · 14 minutos de leitura.

Volkswagen e Renault a um passo de terem equipe própria na F1
Crédito: Marca francesa já teria fechado compra da Lotus, segundo rumores; a alemã deverá adquirir nada menos que a poderosa Red Bull. Veja detalhes dessas histórias

 

Com todo respeito à Red Bull e a história que a fabricante de energéticos construiu em tão pouco tempo na Fórmula 1, mas será muito bom se as notícias que chegam de Cingapura se confirmarem. E, com todo ceticismo em relação a boatos, é fato que, quando se fala demais sobre algo, é porque “aí tem”.


(No Instagram: @blogprimeiraclasse)

Então, é improvável que não sejam mesmo verídicos os rumores sobre a entrada do Grupo Volkswagen na Fórmula 1. Desde o início do ano se fala nisso e, agora, as notícias que surgiram tornam o cenário bem realista. Confirmada a história, isso seria bom demais para a principal categoria do automobilismo, que, convenhamos, não anda bem das pernas. Some a isso a iminente volta da equipe própria da Renault e a equação fica perfeita.

Mas vamos à nova história: como sempre, ela tem a ver com a Red Bull e seus constantes queixumes em relação ao motor Renault, além de incessantes ameaças de deixar a categoria. Ontem, em Cingapura, o consultor do time austríaco, Helmut Marko, deu a entender que, sim, o casamento entre a fornecedora de motores e a equipe dos energéticos chegou ao fim.


Assim, agora é questão de tempo para que seja anunciada a compra da Lotus pela Renault. Porque a marca francesa não vai deixar a Fórmula 1. E, tendo hoje a Red Bull e sua equipe satélite, a Toro Rosso, como clientes, a única maneira de a empresa se manter na categoria é voltar a ter equipe. Aguarde, portanto, o anúncio para breve (e leia aqui detalhes desta história).

Mas e como fica a Red Bull? Quem será a fornecedora de motores da equipe? As respostas: não fica e não será. O que chega de Cingapura, agora, é que o time dos energéticos, tetracampeão do mundo (2010 a 2013), está tirando, mesmo, o time de campo. Ao menos parcialmente.

A Red Bull estaria sendo comprada pela Volkswagen. No entanto, permaneceria na categoria como patrocinadora principal da equipe a ser montada pela empresa alemã. Mais: esse acordo teria participação da Ferrari, que seria fornecedora de motores para a austríaca, mesmo que um tanto a contragosto, nas temporadas de 2016 e 2017.


A Volkswagen usaria estes dois anos, já presente na categoria, para desenvolver seu conjunto mecânico. Deste modo, tentaria evitar os mesmos problemas da Honda, que, atrasada em relação às demais fornecedoras, por ter entrada depois na competição, vem levando essa primeira temporada com a McLaren aos trancos e barrancos.

Assim, a Volkswagen passaria a ser equipe e fabricante de motores apenas em 2018, tornando-se a quinta fornecedora de unidades de força da categoria. E, em uma situação inusitada, a Fórmula 1 passaria a ter quatro equipes que produzem seus próprios propulsores (as outras três são Mercedes, Ferrari e, provavelmente, Renault).

ENTENDA A ‘NOVELA’


Quando o casamento entre Renault e Red Bull começou a azedar, o primeiro rumor foi de que a equipe austríaca estaria procurando a Audi, para que a marca alemã entrasse na Fórmula 1 como fornecedora de motores (confira detalhes aqui). Red Bull e Audi têm uma forte parceria no DTM, o campeonato alemão de turismo.

O problema é que, como a Honda, a Audi não vai chegar vencendo. Se entrasse no ano que vem, dificilmente ofereceria uma unidade de força vencedora à Red Bull logo de cara – por mais que tenha experiência com motorização híbrida no Campeonato Mundial de Endurance/24 Horas de Le Mans.

Então veio uma solução que parecia mais plausível: Aston Martin. Mas, se a Audi não consegue desenvolver em pouco tempo um motor, como a Aston Martin pode conseguir? Pois bem: não pode.


O motor, na verdade, seria Mercedes. A alemã e a Aston Martin firmaram parceria para fornecimento de motores para os carros de rua da inglesa (confira aqui). Nesse acordo, acabou ficando com 10% das ações da nova cliente. Assim, usar a marca Aston Martin na Fórmula 1 seria uma forma de promovê-la e, ao mesmo tempo, não associar o nome da Mercedes à Red Bull (o que seria bom para ambas, que são grandes rivais).

Porém, o pessoal lá de Stuttgart pensou bem, e, por fim, disse não. Afinal, é meio que dar um tiro no pé fornecer o melhor motor da F1 a uma das equipes que, mesmo sem vencer, tem um dos carros mais eficientes do grid, especialmente no aspecto aerodinâmico. Uma coisa é ser fornecedora de Williams e Lotus. Outra, bem diferente, é dar “combustível” para a Red Bull.

Essa decisão da Mercedes, aliás, foi ótima. Afinal, do jeito que a coisa anda, daqui a pouco uns 80% dos carros do grid terá motor da marca alemã (hoje, já são Mercedes, Lotus, Williams e Force India).


Restou à Red Bull a Ferrari, em uma solução que não agrada a nenhuma das duas. O descontentamento da Ferrari é pelo mesmo motivo da Mercedes. O da Red Bull é porque o motor Ferrari não é o melhor do grid (embora tenha evoluído muito).

Além disso, há o boato de que a italiana pretende fornecer unidades de forças da temporada de 2014 à austríaca. É uma prática proibida, mas, como a FIA permitiu à Manor comprar esses motores, mais baratos, abriu um precedente.

Para a desanimada Red Bull, portanto, o melhor seria mesmo a compra pela Volkswagen. Assim, ela conseguiria manter sua marca na F1, como patrocinadora, mas sem arcar com os custos e decepções da derrota, que parece não suportar.


Torço muito para que isso aconteça. Você pode gostar ou não da Volkswagen, ou ser indiferente, mas o fato é que trata-se, hoje, do grupo automotivo mais emblemático do mundo – fora a tradição.

Atualmente, a Volkswagen não é apenas uma empresa alemão. É a definição mais precisa de uma multinacional. Atua em todos os segmentos e tem marcas de diversos países.

Skoda, da República Checa, e Seat, espanhola, são as mais populares. Volkswagen é a intermediária. Em seguida, vem a Audi, já entrando no segmento luxuoso. A Porsche é tradicionalmente esportiva, mas vem também começando a atuar em outros segmentos, sempre com carros de alto padrão.


A inglesa Bentley é a marca que mais sabe associar luxo à esportividade. Seus carros são joias raras. A italiana Lamborghini, fabricante de superesportivos, é a principal rival da Ferrari. E francesa  Bugatti é o suprassumo do alto desempenho, com carro de mais de 1.000 cv de potência.

Quer mais? A marca também atua nos segmentos de motos, com a Ducati, e caminhões, com a Man.

Uma Volkswagen só faria bem à Fórmula 1. Some a isso a entrada da Renault e o panorama fica sensacional: serão cinco montadoras com equipes próprias, fora a Honda, fornecendo motores.


A presença de montadoras enriquece qualquer categoria de esporte a motor. Eles investem alto, despertam paixão e, por fim, poderosas como são, vão contribuir muito para mudanças de regras que atraiam mais fãs para o campeonato, especialmente os jovens.

COM QUE MARCA A VW PARTICIPARÁ DA F1?

Sobre este tema, estive em maio na sede da Audi Sport (a divisão de automobilismo da montadora), em Neuburg, na Alemanha, e conversei com seu diretor, Wolfgang Ullrich. Ele negou veementemente a entrada da marca na F1, alegando que, hoje, a categoria não serve como base de desenvolvimento de tecnologias para produtos de rua. Esse laboratório de pistas é proporcionado pelo Mundial de Endurance.


E como marketing? Ullrich disse que o Campeonato Alemão de Turismo desempenha esse papel muito melhor, pois lá está um produto de verdade, vendido nas lojas, o cupê RS5.

Os argumentos do executivo são bastante convincentes. Porém, a Volkswagen não precisaria de entrar na Fórmula 1 especificamente com a Audi. Com exceção de Skoda e Seat, todas as marcas do grupo fariam um belo papel na categoria. Até mesmo a própria Volkswagen.

Minha opinião? Apesar do que disse Ullrich, a Volkswagen vai para a Fórmula 1 de Audi mesmo. Primeiramente, por ser, fora a própria VW, a marca mais relevante do grupo. A fabricante de Ingolstadt está passando por um momento de grande expansão e já é a fabricante de luxo líder no mercado europeu. Estar na Fórmula 1 seria um instrumento de marketing maravilhoso, por mais que não houvesse promoção de um produto específico, caso do RS5 no DTM.


Tem ainda o fato de hoje a Mercedes, arquirrival da Audi, dominar a categoria. Isso, porém, é o de menos. O que mais me instiga é a entrada da Porsche no Mundial de Endurance. Não há nada que justifique o Grupo VW investir pesado para que duas de suas marcas duelem na pista. Os executivos podem dizer o que quiserem, mas jamais conseguirão dar uma explicação convincente sobre isso.

Então, volto a uma teoria que já levantei anteriormente. A Porsche, maior vencedora da 24 Horas de Le Mans, retornou à categoria para representar o Grupo Volkswagen. Com isso, a Audi pode se retirar do campeonato e voltar-se à Fórmula 1.

Por fim, há a contratação do ex-chefe da Ferrari, Stefano Domenicalli, pela Audi. Em um desses posts cujos links postei acima, eu disse que ele estaria atuando na Audi Sport. Não está. Atua diretamente com Rupert Stadler, presidente da montadora.


Isso, no entanto, não muda nada, até porque ninguém nunca revelou qual é a função do italiano na Audi. Atuar meio que secretamente na equipe de Stadler só reforça a impressão de que a marca está ensaiando seu ingresso na Fórmula 1.

Enfim, pessoal, é isso. Vamos aguardar as próximas notícias.

 


 

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