Blog do Boris

Fábricas: ‘vamos quebrar se continuarmos vendendo apenas carros’

Montadoras perceberam que, para sobreviver no mercado, devem oferecer também soluções de mobilidade para seus clientes

Boris Feldman

06 de jan, 2020 · 6 minutos de leitura.

Fábrica de táxis" >
Fábrica da LEVC em Coventry, na Inglaterra
Crédito: Crédito: LEVC/DIVULGAÇÃO

Herr Lutz Meschke, diretor da Porsche, não hesitou em afirmar, numa entrevista para a revista inglesa “Autocar”, que sua empresa tem que investir em firmas destinadas a resolver os problemas do trânsito, única saída para sobreviver num futuro não muito distante.

“As cidades querem reduzir o volume de tráfego, então nós temos que procurar soluções compatíveis com nossa marca. Mobilidade compartilhada não é suficiente pois não gera uma rentabilidade razoável”, disse o executivo.

É surpreendente uma marca baseada no prazer em dirigir que afirma, por um lado, que jamais abandonará a produção de carros com volante, pedais e câmbio manual, esteja também se preparando para novos tempos em que não será mais viável vender apenas carros tradicionais.

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“Só pensarmos em nossos carros se adequando à futura mobilidade não é suficiente. Temos que imaginar novos investimentos e startups para faturarmos  em outros ramos de negócios. Nossos clientes, que compram atualmente dois, três ou quatro Porsches, terão no futuro apenas um ou dois, no máximo. Mas para se movimentar nas cidades vão se utilizar de outros serviços”, afirmou Meschke

“Temos, portanto,  que compensar vendas que serão perdidas com outros modelos de negócios”, completou. Sua idéia é abrir novas empresas com outros nomes.

Carros ‘por assinatura’

Aliás, a Porsche já implantou nos EUA o negócio de “assinatura da marca” em que o cliente paga uma taxa mensal e tem o direito de usar modelos da marca durante determinado tempo por mês.


Se a Porsche, marca superpremium, está preocupada em perder faturamento devido aos novos conceitos de mobilidade, o que dizer das grandes marcas generalistas que talvez não venham a vender carro nenhum para seus clientes finais, mas apenas para frotistas, locadoras e car sharings.

No Brasil, já se oferece a locação de carros por hora ou por dia: a Toyota disponibiliza seus carros em algumas concessionárias e a Volkswagen três de seus modelos experimentalmente numa revenda da marca em São Paulo. O T-Cross custa R$ 19 a hora, o Virtus sai por R$ 17 e o Voyage R$ 12, além de R$ 0,50 o km rodado.

GM e Renault já oferecem a locação por aplicativo para seus funcionários, que retiram e devolvem o carro na própria fábrica. Uma experiência que pode se estender para suas concessionárias. Pelo menos duas outras já estudam oferecer a locação: Nissan e BMW.

Este é apenas o início de uma completa reviravolta no negócio do automóvel. Todas os grandes fabricantes estão conscientes de que, além de produzir carros, deverão também oferecer soluções mais abrangentes de mobilidade.

Nos EUA, a GM tem a Maven, que já aluga carros para o público e a Maven Gig, especialista na locação para motoristas de aplicativos.

A Renault oferece outro serviço na Europa, com total mobilidade ao cliente que viaja de avião ou trem: condução até o local de embarque e um carro no desembarque.

Grandes grupos de concessionárias estão lançando suas próprias locadoras, com uma vantagem: o cliente deixa o carro para reparo ou revisão e sai com o automóvel alugado. E o deixa de volta quando o seu ficar pronto.

Outros serviços de mobilidade estão surgindo em todo o mundo. A Turo, por exemplo, é um sistema semelhante ao Airbnb que aluga veículos de terceiros. Se o dono de um carro pretende alugá-lo, o aplicativo da Turo encontra o interessado e administra a locação. Ela diz que um carro que custa U$ 4.500 por ano rende ao dono U$ 6.500 , alugado apenas seis dias por mês.

O app da Turo funciona em mais de 5.000 cidades nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Grã Bretanha. Assim como a Uber, ela apenas administra o aluguel sem investir em frota própria.

Fora a locação de bicicletas ou patinetes elétricas no mundo inteiro. Ainda melhor do que um automóvel para enfrentar o trânsito pesado das grandes cidades.

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Oficina Mobilidade

Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”