O secretário-geral do LatinNCAP, Alejandro Furas, não está contente com a recente decisão das autoridades brasileiras de adiar para 2024 a obrigatoriedade do controle de estabilidade nos carros. Para o líder do órgão que realiza os crash-tests na região, “a medida é lamentável em todos os sentidos”. Segundo Furas, há interesses para além do equipamento.
“O LatinNCAP entende que este adiamento não se deve ao fato de colocar ou não o ESP, e não subir custos. Mas responde ao interesse de manter “vivos” modelos de plataformas muito antigas, com segurança baixa e talvez altos lucros para marcas, tais como: Volkswagen Gol, Fiat Uno e Chevrolet Onix Joy“, listou o secretário-geral do LatinNCAP, citando carros populares.
De acordo com Alejandro Furas, mesmo com os atrasos decorrentes da pandemia da Covid-19, não há espaço, portanto, para o argumento de atraso tecnológico. “Tecnicamente o problema está resolvido, uma vez que os modelos de veículos mais novos já oferecem ESP como padrão ou opcional”, disse Furas em entrevista ao Autoblog Argentina.
Carros sem ESP terão 1 estrela no máximo
Disponível desde 1995, o controle eletrônico de estabilidade (ESC) ainda hoje não é obrigatório em vários países no mundo, como o Brasil. Entretanto, o dispositivo, que também atende pela sigla ESP, de Programa Eletrônico de Estabilidade (em inglês), pode salvar vidas. Por isso, é considerado elementar pelos órgãos de validação de segurança.
“Os governos continuam a ignorar o grande problema de não exigir uma tecnologia tão relevante como ESP. Por não exigir o ESP, estão prejudicando os consumidores com menos recursos, que são mais afetados por um acidente de trânsito (em termos relativos)”, critica o chefe do LatinNCAP. Alejandro Furas lembra que estes modelos obterão, no máximo, 1 estrela.
“Conforme o protocolo avança, e com as configurações já estabelecidas, é muito difícil chegar a mais do que zero estrelas”, diz. Pelo cronograma do LatinNCAP, será feita uma revisão dos protocolos em 2022, quando os critérios de segurança ficarão ainda mais rígidos. Para ter as cinco estrelas máximas, os carros precisarão de pelo menos seis airbags, além do ESP.
Decisão do Brasil afeta toda a região
Na visão de Alejandro Furas, a decisão brasileira de postergar o controle de estabilidade vai, assim, afetar toda a região. “Já se viu em outras ocasiões (não é o primeiro adiamento do ESP), que decisões do Brasil se refletem em outros países, até mesmo em países com indústria local. E no Mercosul, os países se alinham para que um não exija mais que o outro”, explica.
Entretanto, Furas reconhece que parte dos recentes avanços em segurança vieram de carros brasileiros. “O peso do Brasil tem o lado positivo. E dessa forma, o que se impõe em relação às melhorias, em decorrência das ações do LatinNCAP, por ‘transbordamento’ atinge toda a região, como é o caso do novo Chevrolet Onix”, diz o secretário-geral do LatinNCAP.
ESP custa US$ 60 ou menos para o fabricante
Segundo Alejandro Furas, a ausência do ESP é inexplicável também do ponto de vista do custo. “No pressuposto de que a plataforma do modelo já possui a opção do ESP, como na grande maioria dos carros atuais, o custo de um computador que opera o dispositivo é, então, de US$ 60 ou menos para o fabricante. Com economias de escala envolvidas, esses preços caem”, diz.
Novos testes em abril
Por causa da pandemia, o LatinNCAP precisou represar alguns testes em 2020, e o cenário segue difícil com a segunda onda do coronavírus. O órgão espera publicar pelo menos sete resultados em 2021. “Vamos anunciar os primeiros resultados de 2021 possivelmente em abril. As restrições da Covid-19 ainda tornam as operações difíceis”, lamenta Furas.
O chefe do LatinNCAP encerrou a entrevista citando mais uma vez a necessidade do ESP nos veículos. “Em uma manobra de emergência, o ESP ajuda o carro a fazer o que o motorista manda com o volante, independentemente das condições externas. O ESP, assim, evita perdas de controle que levam a capotamentos, giros e consequentes colisões”, explica.