Um ano após pararem para conter o coronavírus, as montadoras e concessionárias estão diante de um segundo lockdown ainda mais grave do ponto de vista econômico. Em entrevista ao Jornal do Carro, o presidente da federação das concessionárias, Alarico Assumpção Jr., alerta para a falência de revendas. Para a Jato Dynamics, a única saída para o setor automotivo é a vacinação em massa.
O Jornal do Carro conversou com Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato, sobre como a consultoria avalia a atual situação do segmento automotivo no país. Assim como o presidente da Fenabrave, Milad Neto vê um cenário bem mais assustador em 2021.
“Estamos em plena segunda onda, com um lockdown um pouco mais forte. Daqui a 15 dias, teremos um retorno disso. Entretanto, os números referentes à pandemia, de contágio diário e mortes por Covid-19, não estão bons. Tem que ter algum tipo de ação”, reconhece.
Além de não enxergar possibilidade técnica de “subsídios” por parte dos governos estaduais e federal, o gerente da Jato Dynamics entende que algumas concessionárias não resistirão. “As que estão sofrendo mais, ou terão de reduzir funcionários, ou terão de fechar”, diz.

Varejo responde por até 60% dos emplacamentos
Segundo o especialista da Jato, o fechamento das concessionárias não afetará muito as vendas diretas, mas terá impacto imenso no varejo, que é responsável por mais da metade das vendas totais de veículos no país. Por isso, a única saída para retomar é a vacinação em massa.
“Deixando de lado o viés político, a falta de vacina está impactando diretamente nesse processo. E se reflete também na economia, o que incluí o mercado de carros e as concessionárias. Então, enquanto não tivermos a vacinação em massa, teremos uma série de problemas. Fechamento de concessionária? Sim. Vem crise em cima de crise”, acredita Neto.
Venda online não resolverá o problema
Entre abril e junho de 2020, muitas montadoras e concessionárias ficaram fechadas por causa da pandemia. Dessa maneira, todo o setor voltou o foco para as ferramentas digitais de venda online. Assim, foi feito um esforço coletivo para viabilizar os negócios à distância. E segundo a Fenabrave, 60% das vendas no ano passado foram fechadas pela internet.
Contudo, para Milad Kalume Neto, mesmo com todo o avanço das ferramentas digitais, desta vez a gravidade da pandemia é muito maior e não há clareza quanto ao que acontecerá com o país.
“Com a loja fechada, o público não vai testar o carro, que é o grande passo para efetivar um processo de venda. Com as concessionárias fechadas, o cliente tem de estar decidido por um determinado veículo, ou a se perpetuar em uma marca ou modelo. Mas esse é um número pequeno dentro do universo de compradores”, explica o gerente da Jato.

Milad Neto acredita que, mesmo com todos os esforços, a situação atual pode inviabilizar os negócios. “Nas vendas de carros novos, o cliente quer testar, sentir o veículo, entender como é a prestação de serviço daquela concessionária antes de fechar o contrato. E é esse o grande impacto que vai existir (com o novo lockdown)”, resume o gerente da Jato.
Indústria parada de novo
Se a situação das concessionárias é grave, a das montadoras também anda complicada. Além da questão sanitária da pandemia, que vai fazer a Volkswagen paralisar por 12 dias suas fábricas no país a partir desta quarta (24/4), há falta de componentes para a produção de modelos novos.
No início deste mês, a GM interrompeu a produção dos Novos Onix e Onix Plus em Gravataí (RS) por falta de componentes. A Honda fez o mesmo em Itirapina (SP). Na indústria, a previsão é de que a falta de componentes possa se estender por meses, o que pode causar desabastecimento.