Ao contrário do que ocorre nos países mais ricos, no Brasil a eletrificação dos carros caminha a passos lentos. A baixa procura pelos veículos elétricos e híbridos tem nos preços o seu principal entrave. O brasileiro paga mais caro para ter veículos mais ecológicos, o que não faz sentido. Isso ocorre porque não há políticas públicas de incentivo.
Por causa disso, um estudo aponta que, até 2030, a participação desses modelos no Brasil não ultrapassará os 10% de participação.
O relatório do Boston Consulting Group aponta que, até 2025, cerca de 47% de todos os veículos leves vendidos globalmente serão híbridos ou elétricos. Entretanto, essa rápida transição terá impulso, majoritariamente, na China, na Europa e nos EUA.
Brasil fora do mapa dos elétricos?
Em contrapartida, nações como o Brasil e a Índia ficarão de fora da corrida rumo à eletrificação. Segundo o estudo, estes mercados vão postergar a aposentadoria do motor a combustão. Seja por falta de regulamentações ou de medidas que incentivem à introdução de carros elétricos. Desse modo, o estudo prevê que somente 2% a 10% do mercado seja eletrificado até 2030.
No entanto, o gargalo não está só na falta de desenvolvimento de elétricos e híbridos. O Brasil tem um longo caminho na questão da infraestrutura energética. O relatório afirma que o investimento precisa acontecer em conjunto com a implantação de uma rede de abastecimento.
Contudo, o cenário pode mudar. A consultoria afirma que a transição para os elétricos e híbridos ficará a cargo de amplas mudanças tomadas pelo governo. E pela indústria local.
Híbridos puxam eletrificação no Brasil em 2021
Por sua vez, o mercado de híbridos e elétricos registrou recorde em relação a 2020. Nos seis primeiros meses do ano, emplacou 13.899 unidades ante 19.745 licenciadas em 2020. A estimativa é de que a categoria ultrapasse os 28 mil licenciamentos até o fim do ano. Ou seja, terá aproximadamente 1,4% das vendas totais.
Híbrido antes do elétrico
A comercialização de veículos puramente elétricos representa só 5% do mercado de eletrificados. Dessa forma, das 13.899 unidades licenciadas, 732 são de modelos movidos por baterias. O presidente da Associação Brasileira do Carro Elétrico (ABVE), Adalberto Maluf, vê uma preferência do brasileiro pelos híbridos. Por motivos como o preço. E a alta taxação.
Frota brasileira vai eletrificar?
O presidente da ABVE acredita que a análise da Boston Consulting Group utilizou os parâmetros atuais no país. Mas não acha que a previsão vai se concretizar. Na sua visão, o Brasil está se distanciando do resto do mundo. Para Maluf, caso não haja maciço investimento na área, o País pode sofrer uma ruptura. E, assim, ficar isolado como uma dos poucos mercados mundiais que comercializa carros a combustão.
“Ou o governo implementará políticas para produção e comercialização do elétrico no Brasil. Ou há chance de as montadoras deixarem o País no futuro”, reflete o presidente da ABVE.
Montadoras buscam alternativas com o etanol
Algumas montadoras buscam alternativas que estejam mais alinhadas ao modelo brasileiro. A Toyota, por exemplo, inovou ao lançar no mercado o sistema híbrido flex com o Corolla sedã e o Corolla Cross.
A Nissan, por sua vez, estuda há algum tempo a propulsão 100% elétrica movida à célula de combustível de óxido sólido. Em síntese, o sistema transforma o etanol em hidrogênio que serve para alimentar a bateria elétrica. Desse modo, basta 30 litros do combustível vegetal para gerar autonomia que ultrapassa os 600 km.
A BMW do Brasil anunciou que está testando um motor gerador a etanol em seu hatch i3. Assim, o motor elétrico consegue funcionar mesmo com as baterias descarregadas. Além disso o elétrico passa a ser neutro em emissões de CO₂. Uma vez que os gases liberados pelo escape são reabsorvidos pelas lavouras de cana-de-açúcar.
Volkswagen investe para criar o seu híbrido flex
Por fim, a Volkswagen anunciou que o Brasil sediará o Centro de Pesquisa & Desenvolvimento que vai liderar estudo de soluções baseadas em etanol e outros biocombustíveis. Ele funcionará de forma independente às operações da montadora. E buscará parcerias com o governo, universidades, bem como a agroindústria.
De acordo com Pablo Di Si, CEO da Volkswagen na América Latina e no Brasil, o uso do etanol pode viabilizar a difusão do carro elétrico por aqui. E em outros países emergentes.