O SUV compacto Volkswagen T-Cross já é bem conhecido dos brasileiros. O modelo leva cinco passageiros, tem porta-malas variável que chega a 420 litros e usa, nas versões de topo, o divertido motor 1.4 TSI turbo flex de quatro cilindros e injeção direta de combustível. Ele gera 150 cv de potência e 25,5 mkgf de torque máximo, com desempenho interessante.
Mas, e se, de repente, o T-Cross começasse a andar tanto quanto (ou mais) que o Tiguan R-Line? A versão mais esportiva do SUV médio da marca alemã usa o motor 2.0 TSI de 220 cv e 35,7 mkgf de torque. Ou seja, mais que suficiente para puxar a carroceria maior para até sete passageiros. Entretanto, estamos falando do SUV compacto, não do Tiguan.
Essa foi proposta que o Jornal do Carro experimentou, ao avaliar rapidamente um T-Cross com modificação de R$ 14.900 feita pela Oettinger. Ele tem 200 cv e mais de 37 mkgf de torque! A preparadora especializada em modelos do Grupo Volkswagen é representada no Brasil pela Strasse, que vende preparação para carros da Audi, VW e Porsche.
T-Cross “sleeper” engana na aparência
Por fora, não há nada que entregue que o T-Cross Oettinger seja, digamos, especial. Ou quase nada. Há apenas um pequenino emblema da empresa adicionado à tampa do porta-malas. Da mesma forma, dentro da cabine, tem só um outro emblema na tampa do porta-luvas. Dentro dele, quem procurar vai encontrar a documentação extra fornecida pela Strasse, bem como o certificado de garantia da Oettinger.
Como o serviço é feito por empresa que tem ligações com o Grupo VW, nada se perde na garantia de fábrica do carro. Teve um defeito no vidro do carro? Basta acionar a Volkswagen, como faria normalmente. Para as modificações que faz no funcionamento de motor, câmbio, tração e refrigeração, a Strasse concede garantia de dois anos.
“Se tiver algum problema com estes sistemas, aí basta nos procurar. Mas o resto continua sendo responsabilidade da Volkswagen, como em qualquer outro modelo deles. O cliente não perde nada”, afirma Julico Simões, fundador da Strasse.
Em inglês, há um termo para carros que andam demais, mas não aparentam ter tamanho desempenho: “sleeper”, que, na tradução livre, significa “dorminhoco”. Essa é a aparência do T-Cross Oettinger quando está no trânsito.
Torque supera o Tiguan R-Line
Até que você pise com força do acelerador, nada entrega o novo vigor do SUV compacto, que acaba ganhando 48% a mais de desempenho em relação a uma unidade original de fábrica. Com o remapeamento do conjunto mecânico e da refrigeração, o 1.4 TSI passa a render 200 cv de potência. Certo, ainda são 20 cv a menos que o 2.0 TSI do Tiguan. Mas calma lá.
Olhando para os números do torque, surge o real ganho: agora o 1.4 gera 37,72 mkgf, um extra de 12 quilogramas-força-metro aplicados sobre as rodas dianteiras. E, com isso, o motor puxa como o Tiguan R-Line. Segundo a Strasse, esse ganho faz o T-Cross melhorar sua aceleração em quase meio segundo. Assim, a aceleração de 0-100 km/h é feita em 8,4 segundos. Já a velocidade máxima vai de 192 para 195 km/h. No Tiguan com, o motor 2.0 350 TSI, o 0-100 km/h é um pouco mais rápido: 6,8 segundos.
Ao volante, é possível perceber – e a própria Strasse aponta isso – que não se trata de uma preparação esportiva, para sair rasgando. O ganho é na dirigibilidade, principalmente em rodovia, onde o T-Cross tem retomadas mais interessantes, algo importante em ultrapassagens, bem como mais fôlego em retas. Por “sobrar” nas acelerações, o motor 1.4 TSI pode até consumir menos, a depender da forma como se conduz. Mas nosso teste foi curto para traçar média de consumo e abastecimento.
Há também uma questão de perfil de comprador desse tipo de serviço, que acaba sendo o mesmo tipo de consumidor que blinda seus carros. Tanto que a própria Strasse oferece o serviço de blindagem. Neste caso, a preparação acaba servindo para recuperar a performance de direção perdida com o sobrepeso da blindagem.
Preparação via Correios
Fundada em 1940, na Alemanha, a Oettinger passou a se especializar em conversões de alta performance dos carros das marcas Volkswagen, Audi e Porsche. No Brasil, a empresa tem representação desde 2013 pelo Grupo Strasse, que também lida com importação e modificação para fabricantes de luxo, como Mercedes-Benz, BMW, Mini e Land Rover.
Voltando ao T-Cross com preparação Oettinger, a Strasse cobra os R$ 14.900 por alterações que incluem o remapeamento do motor 1.4 TSI, do câmbio automático de seis marchas, do conjunto de tração e do sistema de refrigeração. Vale ressaltar que o serviço pode ser parcelado em 10 vezes no cartão de crédito. Além disso, no caso do motor 1.4 turbo, não é necessário que o carro vá até o centro técnico da empresa.
Simões explica que os clientes de fora do Estado de São Paulo, onde fica a oficina da Strasse, podem contratar a modificação em uma oficina de confiança (de preferência da própria Volkswagen). A empresa, então, retira a unidade central de comando do veículo. O envio e recebimento da peça podem ser feitos por serviço de transporte, como o Sedex dos Correios.
“No caso do motor 1.4 TSI, é um serviço simples, uma única central que recebemos, fazemos as alterações e reconfigurações que a fazem atuar como uma central Oettinger. Depois, a devolvemos ao dono, tendo só o custo da postagem e um prazo super enxuto, sem a necessidade de se deslocar ou enviar o carro a São Paulo”, detalha o empresário.
Outros modelos Oettinger
De acordo com Julico Simões, esta “preparação à distância” pode ser feita também em carros com motor 1.4 TSI (como Polo, Virtus e Nivus, por exemplo), além da picape Amarok. Outro modelo que pode receber os ajustes da casa de preparação é o SUV Taos, lançado em 2021. Inclusive, ele vai também aos 200 cv e 37,7 mkgf do T-Cross Oettinger.
Os valores e a logística mudam de acordo com a maior ou menor complexidade do sistema. “Para modelos mais complexos, como é o caso dos carros da Audi, por exemplo, que têm mais centrais e mais comandos a serem alterados, aí é necessário que o carro esteja em nosso centro técnico”, explica Simões.