A Great Wall Motors e o grupo Daimler assinaram – após quatro meses de especulações – acordo para venda da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP). A planta – que produzia o sedã Classe C e o SUV GLA até dezembro de 2020 – será transformada em uma das bases globais de produção de veículos da gigante chinesa. A ideia, assim, é abastecer tanto o mercado brasileiro quanto os países da América do Sul.
“O Brasil é o maior e mais populoso país da América Latina. Sua força econômica ocupa o primeiro lugar, suas vendas de automóveis estão em sétimo lugar no mundo. E o mercado consumidor de automóveis tem grande potencial. Consideramos o Brasil, portanto, um mercado estratégico no plano global de internacionalização. O investimento da Great Wall trará uma experiência de mobilidade inteligente, segura e de alta qualidade para os usuários”, disse o vice-presidente da GWM, Liu Xiangshang.
Sem revelar o valor da transação, a Great Wall anuncia meta de produção anual de 100.000 veículos. Isso após a atualização que será feita na fábrica em Iracemápolis – originalmente, a unidade da Mercedes tem capacidade para 20.000 carros/ano. A entrega aos chineses está prevista para ser concluída ainda em 2021, com produção nacional a partir de 2022.
No acordo, a aquisição da planta de Iracemápolis pela Great Wall Motors inclui terreno e fábrica, assim como os equipamentos. Dessa forma, além de desenvolvimento de P&D local, e de indústrias relacionadas, a unidade deverá abrir cerca de 2.000 vagas diretas, conforme o plano inicial divulgado pela fabricante chinesa.
Qual será o portfólio da Great Wall Motors?
Nesse contexto, a Great Wall promete atrair o consumidor com vasta lista de produtos. Somente pela marca Haval, especializada em SUVs, a chinesa oferece um leque de 16 utilitários em seu site oficial. No mais, a GWM tem cinco picapes, algumas, inclusive, com tração 4×4 e, portanto, voltadas ao uso off-road. Mas nem tudo será produzido aqui.
A Série P (também chamada de Poer) é candidata a ganhar produção nacional, mas deverá importada de início. A picape foi registrada no Brasil há um ano e é peça-chave no plano de globalização da GWM. A ideia é concorrer com modelos do naipe de Chevrolet S10 e Toyota Hilux para, assim, tornar-se uma das maiores fabricantes de picapes do mundo.
Conforme pesquisado pelo Jornal do Carro, o site chinês da Great Wall mostra a picape média em duas opções de motor 2.0 turbo: gasolina e diesel. O primeiro propulsor tem sistema de injeção direta e gera 190 cv. São 36,6 mkgf de torque. Já o turbo diesel entrega 162 cv e 40,6 mkgf – entre 1.500 rpm e 2.000 rpm. Tem, ainda, tração 4×4 e câmbio manual de seis marchas ou automático de oito velocidades ZF – como a VW Amarok.
Em termos de tecnologia, a Série P não foge à cartilha chinesa. Bem equipada, traz itens como controle de cruzeiro adaptativo (ACC), alerta de ponto cego e frenagem automática de emergência. No painel, duas telas para o quadro de instrumentos e a multimídia.
SUVs
Fundada em 1984, a GWM também vende o Haval H6. Trata-se de um SUV médio já patenteado no Brasil. Com 4,65 metros de comprimento, tem porte de Caoa Chery Tiggo 8 e Volkswagen Tiguan Allspace. Igualmente bem equipado, tem tela de 10,2 polegadas atrás do volante, e de 12,2″ no centro do painel. No mais, vem com 6 airbags e até Head-Up display – que projeta as informações de bordo no para-brisa.
Outro candidato da marca Haval é o Jolion, um SUV para brigar entre modelos médios, categoria que mais cresceu em 2021. Um pouquinho menor que o H6, o Jolion é um dos SUVs mais novos da marca e tem 4,47 metros de comprimento por 2,70 metros de entre-eixos. Ou seja, se vier, concorrerá com Jeep Compass, Toyota Corolla e VW Taos.
Uma vantagem é que tanto o Haval H6 quanto o Jolion podem usar o mesmo conjunto mecânico. Trata-se do motor 1.5 turbo a gasolina com injeção direta, 150 cv de potência e 22,4 mkgf de torque. O câmbio tem dupla embreagem e sete marchas, e a tração é dianteira. Com este conjunto, tem a potência do VW Taos e estará apto para a disputa.
Tem jipão…
O WEY Tank 300, caso venha, pode agradar o público brasileiro que curte um fora-de-estrada. O grandalhão que tem ares de Jeep Wrangler e Mercedes-Benz Classe G, com carroceria quadrada, faróis redondos à lá Ford Bronco Sport e mecânica forte.
Sob o capô, traz o 2.0 turbo de 230 cv. O torque fica em 39,4 mkgf. Tem câmbio automático de oito marchas. No mais, oferece bloqueio de diferencial (dianteiro, central e traseiro) e nove modos de tração para superar obstáculos off-road.
… e tem Fusquinha
A Great Wall também produz carros elétricos. O principal deles – que pode fazer sucesso no Brasil – é o ORA Euler Ballet Cat. Trata-se de uma releitura moderna do Volkswagen Fusca. Apresentado no Salão de Xangai (China), como o conceito Punk Cat, o hatch elétrico estará no Salão do Automóvel de Chengdu, na semana que vem.
Nem é preciso dizer que a Volkswagen não gostou da “inspiração”. A montadora alemã ameaçou, inclusive, entrar com ação judicial contra a GWM. Contudo, a marca chinesa não desistiu da ideia e já até divulgou teasers que mostram as mesmas linhas de design do conceito na versão de produção, que chegarás às ruas do país nos próximos meses.
O “Fusca chinês” terá, como todos os modelos da ORA, propulsão 100% elétrica, e as baterias geram até 500 km de autonomia. A potência máxima fica em 143 cv, conforme dados da marca. Seria uma tacada de mestre unir a tradição do ícone da VW por aqui, justamente agora, com o mercado de elétricos em ebulição. Inclusive, o momento perfeito para disputar mercado com os também clássicos Fiat 500e e Mini Cooper S E.
E não para por aí. O ORA Lightning Cat é outra aposta polêmica. O elétrico tem inspiração no Porsche 911, mas seu perfil esportivo invade o interior, que tem traços do Panamera. Assim, apresenta revestimento alaranjado, duas telas sensíveis ao toque e, por fim, três mostradores circulares digitais no quadro de instrumentos – bem ao estilo da dupla da Porsche.
Como principais características estéticas, destaque para os faróis ovais. Nesse sentido, há, ainda, rodas com raios curvos, e pintura da carroceria em dois tons – cinza fosco e bronze. Na parte de trás, o chinês tem asa ativa que se ergue e se recolhe em movimento.
Origem da marca
Com 37 anos de existência, a Great Wall Motors é considerada a maior fabricante de capital privado da China. Sua especialidade são os SUVs e picapes, alguns deles populares por lá. Hoje, reúne quatro marcas de veículos: GWM, Haval, WEY e ORA.
A montadora expandiu seus negócios na última década. Em 2013, comprou a Haval, especializada em SUVs e crossovers. Quatro anos depois, em 2017, lançou a WEY, de veículos de luxo. No ano seguinte (2018), criou a ORA/Euler, que produz carros elétricos.
A operação brasileira, portanto, será uma das maiores da Great Wall que, atualmente, tem uma pequena linha de montagem no Equador. De lá, saem modelos para Uruguai, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Chile. Este último, aliás, o maior mercado da marca na América Latina, bem como o 6º maior globalmente, com 2.435 unidades em 2020.