Primeira Classe

Por que amamos as peruas e odiamos os SUVs

Peruas gastam menos combustível e têm melhor dirigibilidade. Ainda assim, estão desaparecendo

Rafaela Borges

10 de fev, 2018 · 8 minutos de leitura.

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Crédito: A4 Avant é uma das poucas remanescentes do segmento de peruas no Brasil (Foto: Audi)

Não é fácil encontrar um jornalista especializado em automóveis que seja grande fã de SUVs. A principal razão? No geral, falta prazer ao dirigir, algo que prezamos demais. E, se é preciso ter porta-malas espaçoso e amplo espaço interno sem abrir mão da boa dirigibilidade, as peruas são carros que suprem perfeitamente essa necessidade.

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As peruas são, na Europa, símbolos de esportividade com toque familiar. No Brasil, elas nunca estiveram associadas ao apelo esportivo. Sempre foram consideradas veículo para famílias, com uma pegada conservadora e um quê de “tiozão”.

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As similaridades entre SUVs e peruas são muitas. Os dois tipos de veículo são até parecidos nas formas. Além disso, têm porta-malas que formam volume único com a cabine e podem ser preenchidos até o alto (embora isso não seja recomendado, pois prejudica a visibilidade traseira).

É até comum algumas pessoas – principalmente as com mais de 40 anos – chamarem os SUVs de peruas. A principal diferença entre eles é justamente aquela que interfere na dirigibilidade: a altura ante o solo e, consequentemente, a posição de guiar.

SUVs são mais altos e peruas, mais baixas. Claro que também há diferenças, principalmente quando se considera utilitários-esportivos com vocação para o fora-de-estrada. Mas, quando o assunto é SUV urbano, grupo que inclui Honda HR-V, Hyundai Creta, Nissan Kicks e cia, a altura é mesmo a principal diferença em relação às peruas.


Com centro de gravidade alto, os SUVs tendem a apresentar rolagem de carroceria mais acentuada. As peruas são mais “grudadas” no chão. Mais que isso: o motorista fica mais próximo ao solo, o que permite sentir as reações do carro de forma mais clara e, muitas vezes, se emocionar com elas. Coisa de entusiasta da direção.

Recentemente, passei uma semana com a Audi A4 Avant, uma das peruas remanescentes no Brasil. Cerca de um mês antes, havia guiado, pelo mesmo período, seu “irmão” Q5.

Embora o SUV seja muito bom de dirigir, não se compara à perua. Ele até tem acabamento melhor, mas não oferece a emoção entregue pela A4.


Não são só motivos emocionais, no entanto, que fazem das peruas opções melhores que os SUVs. Por serem, no geral, mais leves que utilitários de comprimento semelhante, elas consomem menos combustível.

Além disso, em relação a SUVs equivalentes em tamanho e motor, elas também costumam ser mais baratas.

Para comparação (entre dois modelos da VW), uma Golf Variant começa em cerca de R$ 97 mil. O preço de um Tiguan parte de R$ 129 mil, aproximadamente.


Por que, então, as peruas estão morrendo?

A morte das peruas está relacionada aos SUVs, mas a agonia desses modelos teve início bem antes. Elas começaram a perder apelo com a ascensão das minivans  – que, agora, também são raras por aqui.

As minivans começaram a matar as peruas. E, depois, os SUVs mataram os modelos desse segmento e praticamente exterminaram as peruas de vez.


São várias as razões para o consumidor preferir um SUV. Em primeiro lugar, há a crença que esse segmento, por muitos anos restrito a carros caros, garante status. Além disso, a posição alta de guiar passa sensação de segurança aos motoristas no trânsito.

E não há como negar que, também por causa da altura, o SUV é um carro bastante confortável. Algo importante em um país no qual as vias nem sempre são bem pavimentadas.

Aos poucos, os SUVs começam a fazer outras vítimas. Os hatches médios estão desaparecendo, e até os sedãs médios começam a sentir o efeito da proliferação dos utilitários.


 

Quais peruas ainda temos?

Sempre que amigos e conhecidos pedem dicas de carro, e dizem que querem um SUV compacto ou médio, eu sugiro uma alternativa: a Golf Variant. É um carro com motor potente e econômico, espaçoso e muito bom de guiar. Até hoje, apenas uma dessas pessoas aceitou meu conselho e levou a perua.


Um amigo que é dono de uma Golf Variant está bastante satisfeito, mas a maioria das pessoas tem medo de apostar no incerto. Porque perua virou um universo incerto – o que acaba gerando insegurança até sobre o valor de revenda.

Além da Variant e da Avant, ambas com vendas pífias – o modelo da VW mal chega às 50 unidades por mês -, há ainda a Mercedes-Benz Classe C Estate e a Volvo V60, por exemplo.

Entre as compactas, estão no mercado a Fiat Weekend e a VW SpaceFox. Ambas, porém, têm volumes de emplacamentos tão baixos que fica difícil acreditar que serão mantidas em linha por muito tempo.


Em janeiro, a Weekend teve apenas 143 vendas. A SpaceFox foi um pouco melhor, mas também sofre. A perua VW registrou 483 unidades licenciadas no País.

E assim, as peruas, que tanto amamos, vão morrendo no mercado brasileiro.

 


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