O Volkswagen Golf é (ao lado do Civic) um dos melhores carros produzidos no Brasil. Ainda assim, a qualidade do produto não está sendo suficiente para embalar suas vendas. O modelo está vendo o principal rival abrir ampla vantagem no ranking de vendas.
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São várias as razões para explicar o iminente fracasso – que, claro, pode ainda ser revertido. Eu creio que uma das principais é a decadência do segmento de hatches médios.
Porém, há também outros fatores. Um posicionamento errado de preço, por exemplo, também pode ser atribuído ao Golf. Ele vale o que custa, mesmo sendo bom?
Vendas em decadência
Desde que a versão nacional da nova geração foi lançada, o Golf vinha brigando pelo primeiro lugar de vendas. Mas tudo começou a mudar neste ano.
O auge do Golf foi em dezembro de 2015, quando ele registrou mais de 1.200 emplacamentos. Com isso, foi disparado o hatch mais vendido daquele mês.
No decorrer de 2016, o segmento entrou em decadência. Trata-se da categoria que foi mais prejudicada com o avanço dos SUVs compactos.
Porém, mais que a derrocada dos hatches médios, o que parece mais ter afetado o Golf foi o Cruze Sport6. A nova geração do modelo da Chevrolet foi lançada em janeiro deste ano.
Aquele foi o último mês em que o Golf liderou as vendas do segmento – com 463 emplacamentos. Depois disso, só deu Cruze, que em alguns meses ultrapassou os 800 emplacamentos, excelente número para a fase atual do segmento. E o VW acabou caindo para a terceira posição – atrás também do Focus.
O Golf é mais barato que o Cruze. O problema é que o Golf não é mais barato que o Cruze na versão equivalente. A nova geração do Chevrolet traz apenas opções com amplo pacote de equipamentos, todas com o motor 1.4 turbo de até 153 cv.
O preço inicial é de R$ 92.990. Já o Golfcomeça em R$ 107.600 com motor também 1.4 turbo de 150 cv e câmbio automático – único tipo de transmissão disponível para o Cruze.
Há, porém, o Golf mais em conta, Comfortline 1.0 turbo, por R$ 77.247. A 1.6 não aparece mais no configurador da Volkswagen.
O motor 1.0 tem cerca de 125 cv. Porém, é 1.0. Isso não é demérito. É o contrário. Trata-se de um propulsor moderno e eficiente. Mas será que o consumidor brasileiro entende o conceito de “downsizing” (motores menores com turbo, injeção direta, potência de propulsores maiores e baixo consumo)? Será que não acredita que trata-se de um típico 1.0 de carro popular?
Essa é uma questão. A outra é que o 1.0 turbo só vem com câmbio manual. Nesse segmento, transmissão automática é mandatória.
Fatos conectados
A chegada do novo Cruze e a queda nas vendas do Golf claramente estão conectadas. A impressão que fica é que o consumidor desse segmento, muito mais admirador da esportividade que o de sedãs médios, quer um carro rápido. E, com o Golf 1.4 a mais de R$ 105 mil, o Cruze por quase R$ 14 mil a menos (e mesma potência) parece uma opção melhor.
Uma coisa é clara: o Golf é um carro melhor. E mais renomado. Mas será que melhor e renomado a ponto de valer R$ 14 mil a mais? O cliente de hatches parece achar que não.
Já circularam rumores de que, com um volume tão baixo, o Golf poderia parar de ser produzido em São José dos Pinhais (PR). A Volkswagen não confirma essa hipótese. Seria uma pena, pois trata-se de um excelente carro, com história rica no Brasil e que é alvo de afeto dos consumidores do País. Principalmente dos apaixonados por carros.
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Volkswagen Tiguan
Há diversos modelos que já fizerem muito sucesso. Alguns foram até líderes de suas categorias. No entanto, geralmente por falta de inovação, eles foram perdendo o poder de atração. Alguns, hoje, respiram por aparelhos no mercado, de tão irrelevantes que são suas vendas. Nos áureos tempos, o Tiguan vendeu muito bem, e era objeto de desejo. Tanto que, até hoje, é figurinha comum nas ruas. Porém, nos últimos anos, as vendas do modelo passaram a ser totalmente irrelevantes. Em junho, ele teve menos de 50 emplacamentos.
Kia Cerato
Já apareceu em terceiro lugar no ranking de sedãs médios e, com preço competitivo, chegou a ameaçar a hegemonia de Corolla e Civic. Agora, o Cerato desapareceu. Em junho, teve 145 emplacamentos.
Volkswagen Golf
Um dos carros mais adorados pelos entusiastas, o Golf está minguando no ranking de vendas. Aqui, o problema é mais do segmento, que caminha para o desaparecimento no Brasil. O Golf, porém, tem registrado vendas ainda mais baixas que as de Cruze e Focus nos últimos meses, nos quais suas médias foram de 300 unidades.
Fiat Palio
Há dois anos, o Palio era líder de vendas no Brasil. Porém, desde o fim de 2017, ele vem perdendo mercado e, de abril para cá, não conseguiu chegar nem a 1.500 unidades emplacadas por mês. Hatch já sofre ameaça de ficar fora do "top 30".
Volkswagen SpaceFox
Outro segmento que está bastante ameaçado no Brasil é o de peruas. Já quase não há modelos da categoria no País. Os que são oferecidos não vendem nada. A SpaceFox registrou médias mensais abaixo de 50 unidades durante a maior parte do ano.
Ford Fiesta
O Fiesta já foi o Ford mais vendido do País e, antes, tinha cadeira cativa no "top 10" de vendas - com ocasionais visitas ao "top 5". Porém, há muito tempo ele já não frequenta nem o "top 20". Suas médias, neste ano, foram de cerca de 1.300 unidades. Problemas com seu câmbio automático (Powershift) ajudaram a manchar a imagem do modelo.
Nissan Sentra
Em seus momentos mais brilhantes, já foi o terceiro sedã mais vendido do País. Agora, tem médias mensais de vendas de 350 unidades.
Renault Duster
Foi o carro que mais perdeu com a chegada dos novos SUVs compactos. Nos últimos meses, suas vendas vêm despencando (leia detalhes aqui).
Honda CR-V
Em outros tempos, frequentava as primeiras posições da lista de vendas de SUVs. Desde o ano passado, vem aparecendo no pé deste ranking. Desde abril, suas vendas não passam de 50 unidades. O CR-V está sem mudanças há muitos anos, mas sua nova geração em breve estará nas lojas do País.
Fiat Strada
Não dá para dizer que a Strada, de uma hora para a outra, tornou-se irrelevante. É fato, porém, que a ex-líder disparada do segmento de picapes vem perdendo o brilho no ranking mês a mês. Sua situação é muito ruim quando são consideradas apenas as vendas no varejo. Cerca de 88% dos emplacamentos da Strada são provenientes de negócios fechados no atacado (leia aqui).
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