“A cada ano, pelo menos dois de nós morrem nas pistas.” Esta é uma das frases da cena inicial de “Rush – No Limite da Emoção”, longa de 2013, dita por Niki Lauda, interpretado por Daniel Bruhl. O personagem começa a história passando a mensagem de que, para ser piloto de Fórmula 1, era preciso ser também um pouco insano, ao ter coragem de colocar a vida em risco a cada corrida.
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A estatística divulgada por Lauda ao início do filme condiz com a realidade da época. Apesar de em 1976, ano em que se passa a ação da cena inicial, nenhum piloto de Fórmula 1 ter perdido a vida nas pistas – o próprio Lauda sofreu um terrível acidente, mas sobreviveu -, nas temporadas anteriores houve muitas mortes decorrentes de acidentes.
Mas, com o avanço da tecnologia e, consequentemente, da segurança nos cockpits dos carros de F1, as estatísticas nos anos 80 se tornaram pífias, comparadas às das décadas anteriores. Nos 90, o número de acidentes com mortes teriam sido zero, não fosse o desastroso fim de semana entre 29 de abril e 1º de maio em Ímola, na Itália, no qual perderam a vida Roland Ratzenberger e Ayrton Senna.
Desde então, a Fórmula 1, contra todos os prognósticos, se tornou um esporte seguro. Houve grandes avanços no sistema de absorção de impacto dos carros. Até a posição de guiar dos pilotos mudou; eles passaram a ficar quase deitados ao volante, para deixar quase todo o corpo protegido.
Entre 1994 e 2014, foram poucos os acidentes com consequências graves. Em 1995, Mika Hakkinen sofreu graves ferimentos no GP da Austrália.
Em 1999, Michael Schumacher quebrou uma perna em batida no GP da Inglaterra e ficou fora do restante da temporada.
Já o acidente de Felipe Massa em 2009 foi causado por uma mola que se desprendeu do Brawn-GP de Rubens Barrichello, que se chocou contra a viseira do capacete do piloto. Por causa desta ocorrência, chegou a se cogitar transformar os monopostos de Fórmula 1 em carros fechados, para não deixar a cabeça dos pilotos expostas.
Em outubro de 2014, no GP do Japão de 2014, o panorama mudou. A direção de prova tomou uma decisão equivocada ao não acionar o carro de segurança durante o procedimento de retirada do carro de Adrian Sutil de uma área de escape. Então, Jules Bianchi perdeu a direção e chocou sua Marussia contra o trator que fazia a remoção.
Desde o acidente, Bianchi permaneceu em coma. Inicialmente, no Japão. Depois, foi transferido para um hospital em Nice, na França. Nesta sexta-feira (17), Bianchi, aos 25 anos, veio a óbito.
POR DÉCADA
Até a morte de Bianchi, 36 outros óbitos haviam sido registrados em decorrência de acidentes de Fórmula 1 – em corridas, treinos livres e classificatórios, provas de exibição ou testes privados. Destes, 31 ocorreram entre as décadas de 50 e 1990; apenas cinco após esse período – seis, com o de Bianchi.
O primeiro acidente com óbito registrado oficialmente foi durante uma prova de exibição no fim de semana do Grande Prêmio de Mônaco de 1952. A vítima foi Luigi Fagioli, da equipe Lancia.
Em um evento oficial, a primeira vez que um piloto perdeu a vida foi no Grande Prêmio da Alemanha de 1954, em Nurburgring. A vítima foi o argentino Onofre Marimón.
Os anos mais críticos para a categoria foram os 1958, 1960 e 1970. Em cada um, três pilotos perderam a vida em eventos da Fórmula 1.
No caso de 1960, dois pilotos faleceram durante o Grande Prêmio da Bélgica, Chris Bristow e Alan Stacey. O Grande Prêmio de Ímola de 1994 também registrou dois óbitos. Porém, Ratzenberger perdeu a vida nos treinos classificatórios e Senna, na corrida.
No total, foram 12 mortes nos anos 50, dez nos 60, nove nos 70, três nos 80 e dois na década de 90.
COMOÇÃO
Algumas das mortes decorrentes de acidentes de Fórmula 1 causaram repercussão mais evidente. A maior foi por causa de Ayrton Senna, em 1994. O piloto, aos 34 anos, tricampeão, era considerado o maior esportista e ídolo do Brasil. Além disso, tinha uma legião de fãs por todo o mundo, de Portugal ao Japão.
A comoção vista no funeral e no cortejo fúnebre de Senna superou a até então maior registrada na história do Brasil, em 1985, quando Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito após o longo período de ditadura militar, faleceu antes mesmo de tomar posse.
Contribuiu ainda para o imenso choque o fato de, desde 1986, o mundo da Fórmula 1 não ter presenciado nenhum acidente fatal.
Além de Senna, outros campeões morreram nas pistas. O italiano Alberto Ascari, que conquistou as temporadas de 1952 e 1953, faleceu em decorrência de um acidente em teste privado em Monza, na Itália.
Já o austríaco Jochen Rindt é o único campeão póstumo da Fórmula 1. Em 1970, correndo de Lotus, ele já havia vencido cinco corridas quando perdeu a vida em acidente no Grande Prêmio de Monza. O campeonato ainda não havia terminado, mas seus rivais, dos quais o principal era o belga Jacky Ickx, não conseguiram alcançar sua pontuação.
Em 1982, perdeu a vida outro carismático piloto, o canadense Gilles Villeneuve. Mesmo sem ter vencido título, o piloto da Ferrari era considerado um dos mais talentosos da Fórmula 1. O acidente ocorreu no Grande Prêmio da Bélgica.
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