Ontem falamos aqui no blog sobre os carros sem graça que o brasileiro ama. Hoje, chegou a vez de fazer a lista oposta. Com raras exceções, os melhores carros do País são ignorados pelo consumidor. Ou, ao menos, vendem muito menos do que deveriam.
Muitos dos melhores carros eleitos pelo Jornal do Carro nos últimos anos estão nessa lista. Há ainda os tradicionais vencedores de nossos comparativos.
No grupo dos melhores carros que vendem pouco, o destaque são dois Volkswagen, Golf e Golf Variant. O Up! até que vende bem, mas alcança volumes bem menores que os de outros subcompactos.
Entre os sedãs médios, o Cruze é um grande injustiçado. O Jetta, porém, é ainda mais. O Civic é outro que merecia, ao menos, vender mais que o Corolla.
Entre os SUVs compactos, dá para apontar pelo menos dois injustiçados. Um deles é o Tracker. Há ainda o Renegade a diesel.
Mas o Renegade não é o segundo SUV compacto mais vendido no acumulado do ano? É sim. Você entenderá melhor abaixo porque o Jeep está nessa lista.
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Volkswagen Golf
Ele tem versões a partir de R$ 78.780, valor bem abaixo do cobrado pelo Cruze (líder do segmento) mais simples. Além disso, traz dois modernos motores turbo (1.0 e 1.4). Ainda assim, o Golf vendeu neste ano apenas 286 unidades, ante as 558 do Focus e as 1.150 do Cruze. O principal problema do VW é o preço das versões 1.4, rivais diretas do Cruze, que partem de altos R$ 109.730.
Ford Fiesta
O Fiesta já foi o Ford mais vendido do País, mas acabou perdendo espaço para o Ka e para a má-fama do câmbio Powershift. Agora, o carro mudou. Ele manteve o câmbio, o que pode não ter sido uma boa ideia, mas ganhou mais sofisticação, além de uma moderna central multimídia. Mesmo com atributos para fazer frente à Polo, Argo e cia, o hatch premium está muito atrás em vendas. Ele registrou neste ano 2.859 emplacamentos, ante os 11.574 do Polo.
Volkswagen Amarok
É a picape com a melhor dirigibilidade do segmento, e também a mais confortável. Ainda assim, perde feio para Hilux e S10. Este ano, ao menos, a Amarok conseguiu ultrapassar a Ranger, outra injustiçada do mercado. Isso, porém, pode ter sido reflexo da pré-venda da nova versão V6. É preciso esperar os próximos meses para saber se ela conseguirá manter o ritmo. Em 2018, a Amarok somou 2.383 emplacamentos, ante os 5.085 da Hilux e os 4.695 da S10.
Peugeot 2008
O Tracker conseguiu entrar na briga pelas posições intermediárias do ranking de SUVs. O 2008, que até o ano passado disputava com ele os últimos lugares, ainda não. Uma injustiça grande, pois trata-se de um carro com excelente modernidade, muita tecnologia e preço extremamente competitivo. Ele parte de R$ 72.990. O fato de não ter câmbio automático na versão de topo depõe contra o 2008, mas, pelo menos, no ano passado ele trocou a transmissão de quatro pela de seis velocidades na combinação com o 1.6 aspirado. Assim, ficou bastante equivalente ao Nissan Kicks, um dos sucessos do mercado (segundo SUV compacto mais vendido em 2018). Neste ano, tem 1.282 emplacamentos, ante os 4.165 do Tracker, 6.788 do Kicks e 7.474 do líder dos compactos, HR-V.
Volkswagen Up!
Ele é o melhor carro entre os modelos de entrada disponíveis no Brasil. Seus motores são modernos e econômicos, e ele tem nota alta em testes de segurança. Porém, neste ano, o Up! somou somente 3.353 emplacamentos, ante os 8.006 do Mobi e os 7.235 do Kwid.
Nissan Sentra
Muito econômico e com ótimo custo-benefício (parte de R$ 82.900), o Sentra já foi um sedã médio bem vendido, mas agora não consegue mais acompanhar os líderes. Neste ano, somou apenas 581 emplacamentos, ante os 3.315 do vice-líder, Cruze. O Corolla tem tanta vantagem que parece fazer parte de outro segmento (8.354 unidades vendidas neste ano).
Citroën C3
Aqui, a lógica é a mesma do irmão Peugeot 208. São dois carros bons, com ampla tecnologia, econômicos nas versões 1.2 de três cilindros e bom custo-benefício. Além disso, ganharam recentemente o bom câmbio automático de seis marchas. Porém, assim como Fiesta, não conseguem acompanhar o Polo. O C3 somou 1.210 emplacamentos neste ano e o 208, 1.315.
Nissan March
É um dos carros mais econômicos do Brasil, e tem excelente agilidade na versão com motor 1.6. Porém, ele nunca foi páreo para os hatches compactos mais vendidos do País, especialmente seus rivais diretos Onix e HB20. Este ano, o March teve 2.040 unidades vendidas, ante as 14.799 do HB20 e as 28.855 do Onix.
Volkswagen Jetta
O caso aqui é diferente do que ocorre com o Sentra, pois o Jetta vende bem melhor. Porém, mesmo com todos os atributos para enfrentar Corolla, Civic e Cruze, ele está longe dos rivais em vendas. O Jetta é espaçoso, tem dirigibilidade exemplar, ótimo câmbio e os motores mais modernos do segmento. Além disso, sua versão mais forte entrega 211 cv. Porém, neste ano o Jetta teve somente 1.099 unidades emplacadas, ante as 2.870 do Civic e as 3.315 do Cruze.
Melhores carros pequenos
O público brasileiro parece não ter entendido a proposta do produto quando o assunto é o Volkswagen Up!
O subcompacto certamente está na lista dos melhores carros do Brasil. Ele é econômico (tanto com o motor 1.0 aspirado quanto com o turbo), anda bem, é gostoso de dirigir e tem muito mais espaço do que suas diminutas dimensões sugerem.
Além disso, dependendo da versão, já vem com controle de tração. O brasileiro, porém, nunca deu muita bola para o Up! O Kwid, que era rival direto, explodiu em vendas desde o lançamento. O Mobi, muito inferior, vende bem mais.
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A verdade, porém, é que carros do porte do Up! causam uma certa resistência no consumidor do segmento de estrada, que é muito racional. No geral, eles querem mais espaço, algo que o Kwid, por exemplo, oferece. O Mobi, por sua vez, sempre teve preço menor que o do Volkswagen.
A montadora, então, decidiu reposicionar o Up! Ele deixou, neste ano, de ser um carro com pretensões de altos volumes. Agora, já sai de fábrica apenas em versões bem equipadas e com preços acima de R$ 50 mil.
Agora, ele vende ainda menos – entre 1.500 e 2 mil unidades ao mês. Porém, já não tem mais pretensão de ser um carro de altíssimo volume.
Sedãs médios
O Corolla é um fenômeno no segmento. Ele tem volumes médios de 5 mil unidades ao mês, com picos de 6 mil. Porém, está longe do topo da lista de melhores carros da categoria. Nela, há pelo menos três modelos à frente do Corolla.
O segundo colocado, Civic, tem picos de 2 mil exemplares/mês. Isso mesmo sendo muito superior ao Corolla. Ele traz mais tecnologia embarcada, tem câmbio melhor e também leva vantagem na dirigibilidade.
O Cruze, que vende menos ainda, tem o melhor custo-benefício. Além de tecnologia e boa dirigibilidade, traz, em todas as versões, o moderno motor 1.4 flexível, equipado com turbo e injeção direta.
Mais injustiçado, porém, é o Jetta, que traz esse tipo de motor em duas opções, e também em todas as versões. O modelo está em fim de carreira, pois a nova geração vem aí. Porém, antes da iminente da mudança, já não conseguia chegar nem próximo às mil unidades/mês.
Torcemos para que a nova geração tenha sorte melhor.
Renegade
O Renegade é, no acumulado deste ano, o segundo SUV compacto mais vendido do Brasil. Porém, dá sim para dizer que ele é ignorado pelo brasileiro. Como?
A maior parte dos emplacamentos do Renegade é resultante de vendas diretas. Essa modalidade consiste em negócios fechados com empresas e frotistas, principalmente.
Houve meses em que o atacado já chegou a representar cerca de 80% dos emplacamentos do Renegade. Isso significa que no varejo – ou nas concessionárias -, o carro não está fazendo grande sucesso.
Se o Renegade tivesse só opção flexível, daria até para entender. Porém, a versão a diesel é um dos melhores carros do segmento.
Isso porque dá um bom motor ao único SUV compacto robusto de verdade, com suspensão independente e tração nas quatro rodas. Isso sem ter preço absurdo.
Além do motor 1.8 flexível fraco e gastão, o maior problema do Renegade chama-se Compass. O sucesso do irmão maior, SUV mais vendido do Brasil, acabou ofuscando o menor.
Tracker
Desde que ganhou motor 1.4 flexível e reestilização, o Tracker se tornou, em meu ponto de vista, um dos melhores carros da categoria de SUVs compactos.
Seu motor, o mesmo do Cruze, está entre os mais econômicos. Além disso, o carro anda muito. Sua central multimídia é das mais intuitivas e agora, finalmente, ele passou a vir com ESP.
O Tracker é um dos carros com melhor custo-benefício da categoria. Depõem contra o modelo, porém, o porta-malas pequeno e a falta de empatia com o público em seu início de carreira no País, quando era caro e tinha motor 1.8 aspirado.
Ao menos, neste ano, as vendas do Tracker estão melhorando bastante. Porém, acredito que tenha potencial para muito mais. Afinal, os carros que lideram a categoria, HR-V, Kicks e Creta, são infinitamente mais sem graça que o Chevrolet. Isso se aplica ao EcoSport também.
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