Primeira Classe

Como teria sido o mundo com Senna?

A pergunta é recorrente, há anos, entre os fãs de Ayrton Senna, e fica mais em alta a cada 1º de maio. Com certeza, muita coisa e a trajetória de muitas pessoas teriam mudado

Rafaela Borges

01 de mai, 2018 · 11 minutos de leitura.

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Ayrton Senna
Crédito: Pintura mostra realidade alternativa, na qual Senna teria sobrevivido ao acidente em Ímola

A imagem do alto desta página é uma pintura, e não sei quem é o autor (você pode ver em resolução melhor em meu perfil no Instagram, @Rafaelatborges). Existe uma outra imagem, criada por uma empresa canadense, que mostra Ayrton Senna saindo do carro após o acidente de Ímola – que sabemos como terminou.

Por que as pessoas gostam de criar essas imagens? Por causa da pergunta recorrente em 1° de maio de 1994, e durante todo aquele mês: e se Senna tivesse sobrevivido?

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Vou além: muitos se perguntaram isso naquele ano, e nos seguintes.

Pergunta recorrente a cada título de Schumacher, a cada decepção dos brasileiros com os novos pilotos do País. Há quem se pergunte isso até hoje.

E é válido. Ayrton Senna foi o maior ídolo que o esporte brasileiro já teve. Maior que Pelé. O poder de atração de Ayrton Senna ia muito além do Brasil.


Seu estilo arrojado, impetuoso, bem como sua dedicação, comoviam o mundo. Senna era muito maior do que o que são hoje Hamilton, Alonso e Vettel. Na verdade, não dá nem para comparar o sentimento de adoração despertado pelo brasileiro, ante o que representam os três maiores nomes da Fórmula 1 atual.

Então, a indignação é natural, e o exercício de “e se”, válido. Isso é um conforto para os fãs. Quem nunca?

Mas vamos lá: e se Ayrton Senna tivesse sobrevivido? Isso teria certamente mudado muita coisa na Fórmula 1, e poderia ter invertido a trajetória do automobilismo brasileiro. Além disso, geraria influencia na vida de muitas pessoas. Vamos por tópicos.


 

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TÍTULOS DE AYRTON SENNA

Senna poderia ter corrido por alguns anos mais, e continuado apenas com três títulos mundiais. Mas disso, duvido. Creio que ele teria quatro, ou cinco.

Se o campeonato de 1994 tivesse se desenrolado da mesma maneira, mas com Senna na disputa, acho que o título daquele ano seria dele.

Relembrando: a Benetton, após início avassalador, perdeu pontos. Descobriu-se irregularidades no carro. A disputa, por isso, foi até o fim. Damon Hill teve chances até as últimas corridas.


No lugar de Hill, Senna teria sido mais bem sucedido. Quanto a isso, não há dúvidas. E, além disso, houve o título de 1996, vencido por Hill, e o de 1997, por Villeneuve.

Quem vocês acham que ganharia esses títulos? Hill e Villeneuve ou Senna? A Williams, naqueles anos, era muito superior. Quem conseguiria parar Senna em um carro daqueles?

Creio, por isso, que ele teria pelo menos mais um, ou dois títulos. Mais, não, pois aí já viria a aposentadoria. Falaremos mais sobre isso abaixo.


IDA PARA A FERRARI

Anos após a ida de Schumacher para a Ferrari, surgiu uma informação. Era Senna que a equipe queria, para fazer o mesmo trabalho que o alemão fez: reerguer o time.

Eu duvido que Senna iria. O brasileiro queria vencer, e acho que não tinha mais paciência para tentar reerguer uma equipe.

Não podemos nos esquecer de que Ayrton Senna tinha já 34 anos, dez a mais que o então jovem Schumacher. Sim: ele estava próximo da aposentadoria.


Mesmo hoje, 24 anos depois, dificilmente um piloto vai muito além dessa idade na Fórmula 1. O mais longevo, Barrichello, se retirou pouco depois dos 40, mas aos trancos e barrancos, por ser muito apaixonado pela competição.

Schumacher se aposentou aos 36. Voltou, mas não deu certo. Nem ele, o maior campeão da história, conseguiu se dar bem em uma carreira tão longa.

Creio que Senna teria ficado na Williams, a equipe para qual tanto queria ir. Ganharia mais um ou dois títulos e se aposentaria como piloto da equipe.


SCHUMACHER

A sobrevivência de Senna certamente teria influenciado a imagem de Schumacher. Um fato: eles seriam os principais nomes, e rivais da Fórmula 1.

Schumacher, com Ayrton Senna na disputa, poderia ser bem menor do que é hoje. Poderia ter menos títulos, e não ser o maior campeão da história da Fórmula 1.

Por outro lado, ele poderia ser o maior campeão da Fórmula 1 tendo vencido Ayrton Senna. Isso o tonaria muito maior, pois há quem diga que ele só fez o que fez não por ser grande, mas por não ter rivais.


Quem poderia duvidar da grandeza de Schumacher se ele tivesse vencido, na pista, aquele que muitos consideram o maior de todos?

BARRICHELLO E MASSA

Com Senna, Barrichello poderia ter sido só mais um brasileiro na Fórmula 1. Talvez ficasse mais dois, três anos, para depois ir embora, como tantos foram.

Em Barrichello, foram despejadas todas as esperanças dos brasileiros naquele esporte. Ele ganhou, do dia para a noite, uma projeção que não teria em condições normais.


Por outro lado, sem a pressão de ser o “novo Senna”, Barrichello poderia ter trilhado seu caminho com mais tranquilidade, sem a cobrança de ter de vencer. Poderia ter se desenvolvido e evoluído aos poucos.

E, grande piloto que é (sim, ele é), talvez pudesse ter vencido um título. Mas, no caso de Barrichello, havia também o fator Schumacher, seu companheiro de equipe quando de fato ele poderia ser um vencedor, na Ferrari.

Não acho que a morte de Senna tenha influenciado a carreira de Massa, que estreou na categoria anos depois. A pressão ficou mesmo com Barrichello.


AUTOMOBILISMO BRASILEIRO

Não temos piloto na Fórmula 1 pela primeira vez desde Emerson Fittipaldi. Sem Senna, o desenvolvimento de pilotos no País foi perdendo força.

Além disso, a Fórmula 1 também foi perdendo força no Brasil. Na ausência de um grande ídolo, como foi Ayrton Senna, e como haviam sido, antes, Piquet e Fittipaldi, o jovem brasileiro parou de sonhar com a glória nas pistas.

Senna vivo, inspirador, teria mudado isso. E acredito que, aposentado, ele se dedicaria ao automobilismo, ajudando o desenvolvimento de novos talentos. Talvez, hoje, o Brasil tivesse não só um piloto na F1, mas um campeão.


VIDA PÓS FÓRMULA 1

Senna seria presidente da Audi, montadora que trouxe ao Brasil? Acho que, por um tempo, sim. Ele sairia da F1 e assumiria a operação da companhia, que surgiu por aqui justamente em 1994.

Porém, a trajetória da Audi teria sido a mesma. Com o crescimento do mercado brasileiro, a matriz teria assumido a operação, como fez em 2006.

Mas Senna foi essencial para a criação e consolidação da marca no País. Mesmo não estando mais aqui, sua imagem estava completamente associada à Audi, que se chamava, nos primórdios, Audi-Senna – e era coordenada por Leonardo, irmão de Ayrton.


O que Senna estaria fazendo agora, aos 58 anos? Eu gosto de acreditar que seria algo ligado ao mundo da velocidade. Ele era apaixonado por esse universo.

Senna, em minha opinião, seria agora dono de equipe de Fórmula 1. Como Prost foi, mas talvez de uma maneira mais bem sucedida, por ser mais dedicado e apaixonado que o francês.

Bem, pessoal, é isso. Esqueci de algum tópico? E vocês, o que acham que teria acontecido se Senna tivesse sobrevivido?


Não dá para mudar o destino. Mas imaginar faz bem. Ajuda a amenizar o luto que, para os brasileiros, parece não ter fim. E as saudades eternas do maior ídolo do Brasil.

Para muitos, 1º de maio não é mais só o Dia do Trabalho, mas também o Dia do Senna. Esta é minha homenagem ao tricampeão.

 


 

 

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