Chamou muito a minha atenção os números divulgados pela Toyota durante o lançamento do novo Yaris. O carro já pode ser encomendado nas concessionárias. A produção do hatch começa na sexta-feira (15) e a do sedã, no dia 2 de julho.
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Os números de expectativas de vendas da montadora deixam claro que os sonhados 10% do mercado, dos quais a Toyota fala desde 2005, não vão vir com o novo Yaris. Nem a quarta posição do ranking de montadoras.
Não este ano. Já em 2019, esse antigo sonho pode sim se tornar realidade (leia mais abaixo).
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Volkswagen Golf
Ele tem versões a partir de R$ 78.780, valor bem abaixo do cobrado pelo Cruze (líder do segmento) mais simples. Além disso, traz dois modernos motores turbo (1.0 e 1.4). Ainda assim, o Golf vendeu neste ano apenas 286 unidades, ante as 558 do Focus e as 1.150 do Cruze. O principal problema do VW é o preço das versões 1.4, rivais diretas do Cruze, que partem de altos R$ 109.730.
Ford Fiesta
O Fiesta já foi o Ford mais vendido do País, mas acabou perdendo espaço para o Ka e para a má-fama do câmbio Powershift. Agora, o carro mudou. Ele manteve o câmbio, o que pode não ter sido uma boa ideia, mas ganhou mais sofisticação, além de uma moderna central multimídia. Mesmo com atributos para fazer frente à Polo, Argo e cia, o hatch premium está muito atrás em vendas. Ele registrou neste ano 2.859 emplacamentos, ante os 11.574 do Polo.
Volkswagen Amarok
É a picape com a melhor dirigibilidade do segmento, e também a mais confortável. Ainda assim, perde feio para Hilux e S10. Este ano, ao menos, a Amarok conseguiu ultrapassar a Ranger, outra injustiçada do mercado. Isso, porém, pode ter sido reflexo da pré-venda da nova versão V6. É preciso esperar os próximos meses para saber se ela conseguirá manter o ritmo. Em 2018, a Amarok somou 2.383 emplacamentos, ante os 5.085 da Hilux e os 4.695 da S10.
Peugeot 2008
O Tracker conseguiu entrar na briga pelas posições intermediárias do ranking de SUVs. O 2008, que até o ano passado disputava com ele os últimos lugares, ainda não. Uma injustiça grande, pois trata-se de um carro com excelente modernidade, muita tecnologia e preço extremamente competitivo. Ele parte de R$ 72.990. O fato de não ter câmbio automático na versão de topo depõe contra o 2008, mas, pelo menos, no ano passado ele trocou a transmissão de quatro pela de seis velocidades na combinação com o 1.6 aspirado. Assim, ficou bastante equivalente ao Nissan Kicks, um dos sucessos do mercado (segundo SUV compacto mais vendido em 2018). Neste ano, tem 1.282 emplacamentos, ante os 4.165 do Tracker, 6.788 do Kicks e 7.474 do líder dos compactos, HR-V.
Volkswagen Up!
Ele é o melhor carro entre os modelos de entrada disponíveis no Brasil. Seus motores são modernos e econômicos, e ele tem nota alta em testes de segurança. Porém, neste ano, o Up! somou somente 3.353 emplacamentos, ante os 8.006 do Mobi e os 7.235 do Kwid.
Nissan Sentra
Muito econômico e com ótimo custo-benefício (parte de R$ 82.900), o Sentra já foi um sedã médio bem vendido, mas agora não consegue mais acompanhar os líderes. Neste ano, somou apenas 581 emplacamentos, ante os 3.315 do vice-líder, Cruze. O Corolla tem tanta vantagem que parece fazer parte de outro segmento (8.354 unidades vendidas neste ano).
Citroën C3
Aqui, a lógica é a mesma do irmão Peugeot 208. São dois carros bons, com ampla tecnologia, econômicos nas versões 1.2 de três cilindros e bom custo-benefício. Além disso, ganharam recentemente o bom câmbio automático de seis marchas. Porém, assim como Fiesta, não conseguem acompanhar o Polo. O C3 somou 1.210 emplacamentos neste ano e o 208, 1.315.
Nissan March
É um dos carros mais econômicos do Brasil, e tem excelente agilidade na versão com motor 1.6. Porém, ele nunca foi páreo para os hatches compactos mais vendidos do País, especialmente seus rivais diretos Onix e HB20. Este ano, o March teve 2.040 unidades vendidas, ante as 14.799 do HB20 e as 28.855 do Onix.
Volkswagen Jetta
O caso aqui é diferente do que ocorre com o Sentra, pois o Jetta vende bem melhor. Porém, mesmo com todos os atributos para enfrentar Corolla, Civic e Cruze, ele está longe dos rivais em vendas. O Jetta é espaçoso, tem dirigibilidade exemplar, ótimo câmbio e os motores mais modernos do segmento. Além disso, sua versão mais forte entrega 211 cv. Porém, neste ano o Jetta teve somente 1.099 unidades emplacadas, ante as 2.870 do Civic e as 3.315 do Cruze.
Expectativa para o novo Yaris
De acordo com a Toyota, a expectativa é que a linha Yaris tenha vendas mensais de 5.800 unidades. Com isso, no fim do ano, a marca espera atingir 200 mil unidades vendidas, ante as 76 mil que comercializou até agora.
Na prática, isso significa que o novo Yaris vai somar, conforme expectativa da própria Toyota, apenas 2.380 emplacamentos mensais ao montante da marca.
Como os 5.800 se transformaram em 2.380? A explicação mais plausível: o novo Yaris vai derrubar as vendas do Etios.
A conta do novo Yaris
De janeiro a maio, a Toyota vendeu 76.396 veículos no Brasil. Ela ocupa a sexta posição no ranking de vendas. Está atrás de, respectivamente, Chevrolet, Volkswagen, Fiat, Ford e Hyundai.
Os emplacamentos totais significam média mensal de 15.280 carros até agora. Se a marca espera vender 200 mil modelos até o fim do ano, a média deve subir para 17.660 nos próximos sete meses. Ou seja: 2.380 veículos a mais que agora.
E o Etios é o carro que será prejudicado. Dificilmente, sobrará para o Corolla, veículos posicionado imediatamente acima da linha Yaris.
Em primeiro lugar, o hatch do novo Yaris não vai afetar o Corolla. Se algum modelo incomodar o veterano, será o três-volumes.
Só que o sedã mais caro da linha Yaris custa R$ 80 mil. O Corolla mais em conta começa em cerca de R$ 90 mil. É uma imensa diferença.
E esta nem é a versão mais vendida do sedã médio. O carro-chefe é a XEi, por R$ 105.690.
A própria Toyota já tirou diversas versões do Etios de linha, sem alarde. Agora, o compacto veterano não tem nem mais opção com versão multimídia. A linha foi bastante simplificada (leia aqui).
Neste ano, a linha Etios (hatch e sedã) está com média mensal de emplacamentos de quase 6 mil unidades. Se for mesmo a única prejudicada, dentro da marca Toyota, pelo novo Yaris, deverá cair para 2.500 unidades mensais, aproximadamente. Isso, é claro, se a montadora não estiver escondendo o jogo em suas projeções.
Quem a Toyota vai passar?
Se os 200 mil emplacamentos divulgados pela marca como projeção forem mesmo para valer, a Toyota deverá ganhar apenas uma posição no ranking de montadoras neste ano. Ela poderá conseguir ultrapassar a Hyundai, para ficar com a quinta colocação.
Se mantiver a média mensal de vendas até o fim do ano, a Hyundai somará cerca de 195 mil carros vendidos no encerramento de 2018. E isso, de fato, é o que deverá ocorrer.
Na sua planta de alto volume, em Piracicaba, a Hyundai tem capacidade para produzir apenas 180 mil carros por ano. E sem perspectiva de aumentar. O volume extra é de importados.
Assim, a Toyota só não ultrapassará a Hyundai se não conseguir cumprir, com o novo Yaris, as suas projeções. A perspectiva, portanto, é de que a japonesa se torne a quinta força do País em 2018. Mas ainda não será desta vez que ela entrará no clube das “quatro grandes”.
A quarta colocada, Ford, terminará o ano de 2018 com cerca de 210 mil emplacamentos se conseguir manter a média mensal registrada até agora.
É um número possível para a Toyota atingir em 2019, sem dúvidas. Até porque terá um ano completo de vendas do novo Yaris. E quanto à Ford? Será que terá um novo produto para impulsionar suas vendas?
Já a participação de 10% será mais difícil de alcançar em 2019, mas não impossível. A Ford hoje tem 9,44%. Basta, para a Toyota, fazer um pouquinho mais.
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