Eu sou uma apaixonada pelo VW Jetta. Para mim, é o melhor sedã do Brasil. Admito que torci o nariz para o carro na época em que a versão de entrada passou a trazer o defasado motor 2.0 aspirado de 120 cv (na chegada da atual geração, em 2011).
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Porém, o VW Jetta se redimiu ao substituir esse propulsor pelo 1.4 turbo (em janeiro de 2016).
Aliás, o Volkswagen foi o primeiro sedã médio a trazer motor turbo com injeção direta. Trata-se do 2.0 TSI, agora em versão de 211 cv. O VW Jetta 2.0 TSI já foi um antigo sonho de consumo do brasileiro.
Era considerado caro, e de fato era mesmo, para o padrão dos sedãs médios. Sempre teve preço bem próximo ao do Fusion, que é maior (o Ford é sedã médio-grande).
Porém, não existia, e ainda não existe, sedã médio de marca generalista mais potente do que este.
Hoje, o VW Jetta 2.0 TSI nem é mais tão caro. Afinal, estamos falando de um segmento em que um Corolla com motor de 154 cv sai, na versão de topo, por quase R$ 120 mil. O Volkswagen de topo é tabelado em R$ 108.600 atualmente.
Quando o VW Jetta ganhou versão de entrada, com o tal motor 2.0 aspirado, achei que as vendas fossem estourar. Acreditei que o modelo daria trabalho para os líderes Civic e Corolla. Afinal, era um Jetta, e mais barato.
Isso, porém, não aconteceu. As vendas até aumentaram, mas o carro jamais conseguiu ser páreo para os líderes. Talvez, o consumidor brasileiro tenha percebido rapidamente que o 2.0 aspirado não estava à altura de um carro como o Jetta.
Quando o sedã passou a trazer o 1.4 turbo, em meu ponto de vista, já era tarde demais. O sedã já estava um tanto defasado, e os SUVs começavam a dominar os clientes que antes optavam pelo três-volumes médios.
Já analisamos nesse blog o fato de os sedãs médios estarem perdendo espaço com a proliferação dos SUVs. Agora, só tem alto volume o Corolla, enquanto Civic e Cruze ainda vendem bem.
Mas mesmo o Civic sofreu muito. Suas vendas despencaram a partir da chegada do HR-V, em 2015 (leia detalhes abaixo).
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Evolução de vendas do VW Jetta
O Jetta quase sempre conseguiu se manter na quarta posição do segmento (abaixo do Toyota, do Honda e do Chevrolet). No entanto, de 2015 para cá, as médias mensais estão muito baixas: cerca de 700 unidades.
Para comparação, em 2017, o Corolla fez médias de 5.500 unidades mensais e o Civic, de 2.150.
Neste ano, nem vamos considerar os últimos dois meses. O VW Jetta, segundo concessionárias, não está sendo entregue desde fevereiro. A próxima geração está prevista para chegar entre dois e três meses, conforme as mesmas fontes (veja mais detalhes abaixo).
Por isso, em abril e março, ele teve menos de 300 unidades emplacadas. Vendeu menos que C4 Lounge e Focus Sedan, por exemplo (e até que Fusion e Classe C, que são de outros segmentos).
O melhor desempenho do Jetta no Brasil foi registrado em 2012, primeiro ano completo da nova geração no País. Ele teve 20 mil emplacamentos. Um número bom, mas menos da metade dos mais de 50 mil registrados por Corolla e Civic.
Depois disso, as vendas caíram, embora as posições no ranking tenham oscilado entre quarta e sexta (brigando sempre com Sentra e Focus Sedan). Em 2013, teve 14.350 unidades vendidas – Civic e Corolla, mais uma vez, ficaram com mais de 50 mil cada um.
Em 2014, foram 10.593 emplacamentos. Depois, o carro nunca mais conseguiu alcançar a marca dos 10 mil exemplares vendidos.
Por que o VW Jetta merecia um destino melhor
O Jetta deveria ser um dos sedãs a ter sobrevivido à invasão dos SUVs. É um carro com atributos para ter mais de mil unidades emplacadas por mês, algo que não ocorre desde 2013.
Em primeiro lugar, há o fator mercadológico. Uma das razões que fizeram o Civic perder espaço na briga com o Corolla foi o HR-V. Antes do SUV, a disputa era mais equilibrada.
Em 2014, último ano sem o HR-V, o Civic somou cerca de 52 mil emplacamentos e o Corolla, cerca de 63 mil. Depois disso, a diferença entre o Toyota e o Honda virou um abismo.
Isso porque a Toyota não tem SUV compacto para brigar pelos clientes com o Corolla nas concessionárias. A Volkswagen também não tem. Ainda.
Quem quiser um modelo na faixa de preço dos utilitários pequenos encontra apenas o VW Jetta à disposição. Porém, para esse modelo, a fórmula não funcionou bem, como ocorreu com o Corolla.
Além do fator mercadológico, há a qualidade do produto. O VW Jetta, mesmo já um tanto defasado, traz uma gama com os melhores motores da categoria.
As duas versões são turbinadas e com injeção direta. O Civic só tem essa configuração de propulsor em sua versão de R$ 125 mil. O Cruze traz o bom 1.4 turbo em toda a gama, mas ele não é tão eficiente quanto o da Volkswagen.
Além disso, o VW Jetta é um carro ágil e espaçoso. A dirigibilidade é uma das melhores do segmento e a lista de equipamentos, bem completa. Mesmo com o peso dos anos, ainda é um carro incrível.
Isso sem preços altos demais para o segmento. A versão 1.4, que é a que concorre com os demais sedãs, sai por R$ 94.190 (ou saía, como você poderá entender melhor abaixo). É exatamente a mesma faixa de preço dos rivais equivalentes – em alguns casos, até menos.
‘Rescaldo’ nas concessionárias
A verdade, porém, é que a versão 1.4 já está em falta nas concessionárias. É difícil de encontrar. Afinal, estamos falando de um carro que não é entregue desde fevereiro.
Já os estoques da 2.0 ainda estão altos. A boa notícia é que essa versão, uma das mais legais disponíveis no segmento, está com preços muito bons.
Encontramos exemplares do VW Jetta 2.0 TSI por cerca de R$ 98 mil, R$ 10 mil a menos que na tabela. Para quem não faz questão de ter “carro do ano”, é uma boa oportunidade para adquirir o sedã.
Outra boa notícia é que a Volkswagen não desistiu do segmento. A nova geração do Jetta vem aí e trará versões 1.4 turbo competitivas. Elas vêm para concorrer com os sedãs mais vendidos. Está prevista para chegar até setembro ao Brasil.
Quem sabe, desta vez, o Jetta consiga embalar em vendas. Claro que vai depender muito do posicionamento de preços adotado pela Volkswagen. Vamos torcer para que seja uma boa faixa.
Assim, o Jetta deixará de ser mais um caso, muito comum no Brasil, de carro bom que quase ninguém compra. E o segmento de sedãs médios, cada vez mais fraco, vai poder respirar aliviado.
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