Que a inglesa Rolls-Royce pertence à alemã BMW todo mundo sabe. Mas as jogadas de bastidores que levaram a essa situação formam um dos capítulos mais instigantes da história da indústria automobilística. Para possuir a Rolls, a BMW travou uma guerra contra a toda-poderosa Volkswagen. E a verdade é que jamais comprou a fabricante de carros britânica.
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Sim, exatamente isso. Quem comprou a Rolls-Royce, em 1998, foi a Volkswagen. A BMW, já parceira da empresa britânica – era sua fornecedora de motores -, tinha interesse e preferência no negócio. Pela Rolls, e também pela Bentley, já que as duas empresas eram parte do mesmo grupo automotivo – a primeira havia comprado a segunda na primeira metade do século XX -, a BMW ofereceu 340 milhões de libras.
A Volkswagen, no entanto, conseguiu informações privilegiadas sobre a oferta da BMW. Então, fez à Vickers, proprietária das empresas desde 1980, uma proposta mais vantajosa. Pagaria 430 milhões de libras.
Foi a Volkswagen, portanto, que ficou com a Rolls-Royce/Bentley. Levou a fábrica, em Crewe, as linhas de produção e, principalmente, um dos símbolos mais emblemáticos da indústria automobilística: ‘Spirit of Ecstasy’. A escultura é colocada sobre o capô de todos os modelos da Rolls-Royce.
Porém, a toda-poderosa não contava com as armas da BMW. E aí entra outra história. Nos anos 70, após uma grave crise desencadeada por uma mal sucedida com a fabricante de aviões Lockheed, a Rolls-Royce foi dividida em duas operações: a de carros e a de turbinas para aviação.
A divisão aeronáutica foi estatizada e, mais tarde, privatizada novamente. Era dela a propriedade do símbolo “RR” que ficava na grade frontal dos modelos da Rolls-Royce – e também do nome da marca.
Em 1990, a divisão aeronáutica também se tornou parceira da BMW. Vendo seu negócio de compra da divisão automotiva fracassar, a BMW recorreu à parceira do ramo da aviação para adquirir o símbolo “RR”. Por ele, pagou “apenas” 40 milhões de libras.
Então, logo após efetivar sua compra, a Volkswagen descobriu que não poderia usar nem o nome nem o símbolo Rolls-Royce. Mais: a BMW ameaçava encerrar a fornecimento de motores para os carros da marca, e a VW não tinha propulsores que pudessem ser usados nestes modelos de luxo.
O fim da “guerra”, porém, ocorreu de uma forma bastante civilizada. A cúpula da Volkswagen se dirigiu até Munique para uma reunião com o alto escalão da BMW. Em um clube nos arredores da cidade bávara fechou-se, em julho de 2008, o acordo que separava as britânicas Bentley e Rolls-Royce.
A Volkswagen ficaria com todo o ativo adquirido, mas não poderia chamar seus carros de Rolls-Royce. Ficaria apenas com a marca menos badalada, a Bentley.
A BMW, por sua vez, continuaria fornecendo motores aos agora Bentley por um período mais longo. Em contrapartida, usaria a fábrica de Crewe até 2003, prazo para que a planta que ergueria em Goodwood, também na Inglaterra, ficasse pronta.
E quem saiu ganhando, no fim das contas? A Volkswagen pagou 430 milhões de libras por uma empresa pronta, mas não levou a marca que realmente queria, a Rolls-Royce. A BMW gastou 40 milhões de libras para ter a montadora desejada (uma economia de 300 milhões de libras em relação à sua oferta inicial), mas teve de construir fábrica e criar plataformas para os carros de luxo, uma vez que as antigas bases da Rolls-Royce ficaram com a Volks.
Em tempo: pouco tempo depois de o acordo ter sido assinado, a Volkswagen lançou motores modernos para equipar os Bentley. Estes propulsores também são utilizados em modelos de outras marcas do conglomerado, como a Audi.
A BMW ergueu sua fábrica em Goodwood e transferiu para lá as operações da Rolls-Royce. E o “Spirit of Ecstasy”, que por um período pertenceu à Volks, é usado atualmente nos Rolls, como manda a tradição.
Por fim, as duas marcas, patrimônios da Inglaterra, até mantém suas fábricas em território britânico, mas sob o controle alemão. Para tristeza dos ingleses.
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