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A maldição do maravilhoso Marea Turbo

Sede de desempenho, manutenção feita nas coxas e erro da Fiat no prazo de troca de óleo deram má fama o grande Fiat Marea Turbo

Diego Ortiz

26 de mar, 2019 · 5 minutos de leitura.

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Fiat Marea Turbo
Crédito: Crédito: Fiat/Divulgação

A retomada da história do ganho de causa dos donos de Fiat Tipo, que agora, após 23 anos de processo, serão indenizados por seus carros terem pego fogo sozinhos, me lembrou de um grande carro brasileiro, também da Fiat, talvez o melhor de todos vindos da Betim (MG): o Marea Turbo.

Com ar pacato e interior caprichado, o Marea Turbo só dava a entender do que era capaz pelas rodas esportivas de 15 polegadas com desenho exclusivo. Todo o segredo de sucesso do carro estava escondido.

Feito para ser usado no Fiat Coupé Turbo, o motor 2.0 de cinco cilindros e 20 válvulas do MT jogava 182 cv para as rodas, em relativamente baixos 6 mil giros. Mas ele podia mais, daí ser adotado por todos os fuçadores de carros na época. A potência original do 2.0 era de 220 cavalos, amansados pelos engenheiros da marca em Betim.

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Porém, os mesmos que deixaram a potência mais baixa instalaram a turboalimentação da Garret no carro, que casava perfeitamente com as bielas e pistões reforçados, coletor de admissão exclusivo e válvulas refrigeradas a sódio. Um luxo em termos de engenharia.

O resultado disso era que nenhum carro brasileiro chegava sequer perto do desempenho que o Marea Turbo proporcionava. Nem mesmo o Golf GTi!

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Como não tinha controles eletrônicos de nada, seu único mimo era freios ABS, o MT não era um carro muito fácil de se domar. Chegava mesmo a assustar os menos experientes em direção. Foi aí (junto de um erro da Fiat) que começou a maldição do Marea Turbo.


O modelo virou praticamente um carro de track day todo santo day. Os donos de Marea Turbo ficavam tentando levar o carro ao limite em qualquer saída de semáforo, em qualquer pista mais livre, e fuçando, e aumentando potência…

Para atrapalhar, a Fiat errou o tempo de troca de óleo no manual do proprietário, dizendo só era necessário trocar o fluído a cada 20 mil km, da mesma forma que o Marea europeu. Só que a marca esqueceu que a gasolina brasileira tinha etanol (22% na época). Com isso, o festival de borra, superaquecimento e até incêndios começou a acontecer.

Como a tecnologia do motor era inovadora, não era qualquer mecânico que conseguia mexer e, na concessionária, o preço de retificar um motor desse era o de um rim. Com isso, a fama do maravilhoso Marea Turbo foi ficando feia, triste, e o projeto foi abandonado. Há um exemplar na Fiat em Betim, que vira e mexe roda na pista de testes da fábrica com a manutenção toda em dia. Dizem as boas línguas que pouca coisa é mais divertida que aquilo.


Marcas que já fizeram sucesso e sumiram

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Testes de colisão validam a segurança de um carro; entenda como são feitos

Saiba quais são os critérios utilizados para considerar um automóvel totalmente seguro ou não

03 de mai, 2024 · 2 minutos de leitura.

Na hora de comprar um carro zero-quilômetro, muitos itens são levados em conta pelo consumidor: preço, complexidade de equipamentos, consumo, potência e conforto. Mas o ponto mais importante que deve ser considerado é a segurança. E só há uma maneira de verificar isso: os testes de colisão.

A principal organização que realiza esse tipo de avaliação com os automóveis vendidos na América Latina é a Latin NCAP, que executa batidas frontal, lateral e lateral em poste, assim como impactos traseiro e no pescoço dos ocupantes. Há também a preocupação com os pedestres e usuários vulneráveis às vias, ou seja, pedestres, motociclistas e ciclistas.

“Os testes de colisão são absolutamente relevantes, porque muitas vezes são a única forma de comprovar se o veículo tem alguma falha e se os sistemas de segurança instalados são efetivos para oferecer boa proteção”, afirma Alejandro Furas, secretário-geral da Latin NCAP.

As fabricantes também costumam fazer testes internos para homologar um carro, mas com métodos que divergem do que pensa a organização. Furas destaca as provas virtuais apresentadas por algumas marcas.

“Sabemos que as montadoras têm muita simulação digital, e isso é bom para desenvolver um carro, mas o teste de colisão não somente avalia o desenho do veículo, como também a produção. Muitas vezes o carro possui bom design e boa engenharia, mas no processo de produção ele passa por mudanças que não coincidem com o desenho original”, explica. 

Além das batidas, há os testes de dispositivos de segurança ativa: controle eletrônico de estabilidade, frenagem autônoma de emergência, limitador de velocidade, detecção de pontos cegos e assistência de faixas. 

O resultado final é avaliado pelos especialistas que realizaram os testes. A nota é dada em estrelas, que vão de zero a cinco. Recentemente, por exemplo, o Citroën C3 obteve nota zero, enquanto o Volkswagen T-Cross ficou com a classificação máxima de cinco estrelas.

O que o carro precisa ter para ser seguro?

Segundo a Latin NCAP, para receber cinco estrelas, o veículo deve ter cinto de segurança de três pontos e apoio de cabeça em todos os assentos e, no mínimo, dois airbags frontais, dois laterais ao corpo e dois laterais de cabeça e de proteção para o pedestre. 

“O carro também precisa ter controle eletrônico de estabilidade, ancoragens para cadeirinhas de crianças, limitador de velocidade, detecção de ponto cego e frenagem autônoma de emergência em todas as suas modalidades”, revela Furas.

Os testes na América Latina são feitos à custa da própria Latin NCAP. O dinheiro vem principalmente da Fundação Towards Zero Foundation, da Fundação FIA, da Global NCAP e da Filantropias Bloomberg. Segundo o secretário-geral da entidade, em algumas ocasiões as montadoras cedem o veículo para testes e se encarregam das despesas. Nesses casos, o critério utilizado é o mesmo.

“Na Europa as fabricantes cedem os carros sempre que lançam um veículo”, diz Furas. “Não existe nenhuma lei que as obrigue a isso, mas é como um compromisso, um entendimento do mercado. Gostaríamos de ter esse nível aqui na América Latina, mas infelizmente isso ainda não ocorre.”