O mercado de veículos usados nunca esteve tão aquecido quanto em 2021. Para se ter uma ideia, segundo levantamento da Fenauto, a federação dos lojistas multimarcas, a média diária desses modelos está acima da registrada em 2019, ou seja, antes da pandemia da Covid-19. Mas o que a troca de óleo do motor do carro tem a ver com isso?
Bem, antes de fechar negócio e levar o carro usado para garagem, é fundamental verificar as condições em que o modelo se encontra. E isso incluí as trocas de óleo. Por não ser uma parte visível do veículo, muitas pessoas não costumam investigar como foi feita essa manutenção, conforme explica Fernanda Ribeiro, especialista em lubrificantes e coordenadora de gestão de produtos da Iconic. A empresa é uma joint-venture da Ipiranga e da Chevron, dos lubrificantes Ipiranga e Texaco.
Diferenças entre seminovo e usado
Segundo Fernanda, na compra o carro 0-km, tem-se uma preocupação maior de sempre fazer as revisões na concessionária autorizada, até por questões de garantia. Ou seja, o motorista delega 100% do plano de manutenção à rede da fabricante. “Alguns modelos indicam a hora da troca no computador de bordo, então as pessoas se preocupam menos”.
Por causa disso, no carro seminovo, quando ainda no período da garantia, ou mesmo que tenha acabado de perder a cobertura, o risco de se ter problemas relativos à troca de óleo é menor.
Entretanto, quando falamos de carro de “segunda mão”, os hábitos são diferentes. Alguns donos levam na rede autorizada, mas não é uma regra. E tem os modelos mais antigos. “As vendas de usados têm garantido mais o aquecimento da economia. Mas são poucas pessoas que investigam a troca do óleo. A maioria delega para as Super Trocas”, aponta Fernanda.
E é aí que mora o problema. Segundo a especialista da Iconic, geralmente nos carros antigos, incluindo modelos de colecionador, por exemplo, o proprietário não vai mais achar no mercado o óleo recomendado pela fabricante no Manual do Proprietário. Nesse caso, a especialista da Iconic recomenda “usar um óleo de performance superior”.
Atenção com carros de aplicativo
Normalmente, o brasileiro troca o óleo do carro duas vezes ao ano, em média. Contudo, isso é para usuários que rodam basicamente de casa para o trabalho, e vice-versa. No caso dos veículos usados para o trabalho, como os carros de aplicativos como o Uber, a troca de óleo se faz necessária em prazos mais curtos. E o risco de postergar é enorme.
“Se prolongar a troca, começa a criar borra, aqueles depósitos. Aí, só abrindo o motor e a caixa de câmbio. E dependendo do motor e do carro, se não acha peça tão rápido”, alerta Fernanda.
Outra dica é nunca mudar a viscosidade do óleo. Segundo ela, é crucial seguir a recomendação da fabricante. “Motor de carro popular não utiliza óleo popular, mas de qualidade. E tem um preço, custa R$ 40 o litro, em média. Ou seja, a cada troca de óleo, gasta-se quase R$ 200 no lubrificante. É caro. Mas parar na mecânica também”, pontua.
Atenção ao óleo do câmbio automático
As vendas de carros automáticos já superam as de modelos manuais no mercado brasileiro. Portanto, a busca por veículos sem o pedal de embreagem cresceu, e, por isso, é preciso observar também como foi feita a manutenção da caixa de câmbio. E isso incluí a troca de óleo, que é igualmente recomendada por muitas montadoras de tempos em tempos.
“No anda e para do trânsito, exige-se muito do carro, o que incluí o motor e o câmbio. Então, vale ficar de olho no óleo da transmissão. Algumas montadoras indicam a troca entre 60 mil km a 80 mil km, tem outras que pedem acima de 100 mil km. Hoje, um câmbio CVT, por exemplo, exige bastante do lubrificante e precisa trocar a cada 80 mil km, em média”, diz.
Comprei um usado, posso usar um óleo melhor?
A resposta é sim. Segundo Fernanda Ribeiro, ao utilizar um óleo de qualidade superior, tem-se até melhor performance e limpeza do motor do carro. “Mas tem que ser uma virada programada. Vou do ‘API SL’ para o ‘API SP’. Então, reduz pela metade o tempo de troca na primeira vez, depois faz as trocas normais conforme o manual. Só não pode fazer o downgrade, que é utilizar um óleo de performance inferior”, alerta.
Segundo Fernanda, hoje é comum as montadoras terem especificações próprias de óleo. Afinal, o fabricante é quem melhor entende se precisa de maior proteção de desgastes em determinados componentes. Ou se o motor trabalha a uma temperatura maior do que o de outras empresas. O mais importante, diz a especialista, é atentar para a viscosidade.
“Quase 100% dos carros novos já utilizam óleos sintéticos de baixa viscosidade. As montadoras estão buscando lubrificantes cada vez mais finos, que ajudem a reduzir também o consumo de combustível com a diminuição do atrito. São óleos tecnológicos que buscam atender aos requerimentos dos motores mais modernos, com turbo, inclusive o de motores com veículos híbridos“, detalha a especialista da Iconic.
Já em relação aos usados mais antigos, o mais importante é seguir as recomendações. “A gente brinca que brasileiro não gosta de ler manual, mas precisa estar atento aos detalhes. Os motores não são eternos. Contudo, se seguir as recomendações e especificações do Manual, certamente o dono vai garantir o funcionamento do motor por bastante tempo”.